Premiada obra de Zé Wellington, Steampunk Ladies – Vingança a Vapor é um sopro de criatividade para o mercado nacional
O mercado de quadrinhos nacional está cada vez mais forte e encarando grandes desafios contando histórias em universos não tão próximos do público brasileiro, coisa rara no nosso mercado mas que só tende a enriquecer nossa cultura com autores brasileiros brincando fora da caixa e visitando novos cenários de forma competente, algo extremamente gratificante para quem gosta de sair do lugar comum.
Foi exatamente isso que o cearense Zé Welligton fez nos roteiros de Steampunk Ladies – Vingança a Vapor, HQ que visita o mundo do Steampuk de forma primorosa e competente, onde somos apresentados a esse mundo cheio de maquinários incríveis, mas todos movidos ao vapor do mundo industrial.
“Quando às mulheres não cabia decidir, Sue e Rabiosa tomaram as rédeas de suas vidas”
Num roteiro cheio de ferro, fogo e engrenagens, com críticas bastantes relevantes e atuais, acompanhamos a história de duas personagens, Sue e Rabiosa, no melhor estilo “western spaghetti”, tão presentes nos filmes de Sergio Leone e Clint Eastwood. Inclusive o icônico “Homem sem nome” está presente na trama, a diferença é que ele não é relevante, propondo assim uma mudança de perspectiva interessante. Todos os estereótipos dos faroestes estão presentes nessa nova perspectiva, que é a ótica das nossas protagonistas.
Sue e Rabiosa são apresentadas de forma poderosa e cheias de relevância, são personagens muito bem construídas e apesar da sexualidade ainda estar bastante representada, elas provam que são mais do que isso mostrando o verdadeiro poder feminino em meio ao deserto dominado por homens e maquinas. Essa representatividade feminina também passa pela antagonista de Steampunk Ladies – Vingança a Vapor através de Lady Delillah, uma mulher sensual e maquiavélica que irá passar por cima de tudo e todos para atingir seus objetivos.
A arte de Di Amorin e Wilton Santos é um deleite visual com mostrando bastante personalidade no traço, e uma narrativa sequencial de extrema competência fazendo você viajar na movimentação das páginas, cheias de fluidez nas cenas de ação, grande atrativo da HQ. Incomoda um pouco a hiper-sensualização das personagens, mas por trás disso também pode-se perceber uma crítica velada ao mercado de quadrinhos. As cores de Ellis Carlos trazem aquele aspecto árido do deserto, tão presente nos westerns americanos, dando brilho à edição.
Publicada pela Editora Draco, o álbum é um deleite editorial muito bem produzido e não deve em nada ao mercado americano ou europeu, mostrando assim um esmero incrível, algo importante para a consolidação do mercado nacional de quadrinhos. Steampuk Ladies – Vingança a vapor, rendeu a Zé Welligton mais uma indicação ao Trofeu HQ Mix no ano de 2015, prêmio ao qual ele já tinha sido indicado na categoria Novo Talento Roteirista pelo seu trabalho na HQ Quem Matou João Ninguém?. Dessa vez ele arrastou o troféu, sendo premiado na mesma categoria justamente pela historia de Sue e Rabiosa.
Steampunk Ladies – Vingança a Vapor é um sopro de criatividade muito bem construído que trás várias críticas pertinentes aos dias de hoje, mostrando o poder da mulher e a quebra de paradigmas, deixando ainda uma pequena abertura para o retorno das aventuras de Rabiosa e Sue numa sequência. Esperamos que ela aconteça.