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“Querido ex”, de Juan Jullian | Crítica

Este livro reúne as cartas Dele, um universitário brasileiro como eu e você, em uma uma história que não é a sua, mas poderia ser. Um jovem gay, cuja vida está sendo definida por um catastrófico acontecimento: seu ex namorado virou, da noite para o dia, a maior celebridade do país.

“Querido ex, (que acabou com a minha saúde mental, ficou milionário e virou uma subcelebridade)” é um registro do luto, caos e poder que vem com o fim de um relacionamento abusivo. As dificuldades da vida acadêmica, a solidão, os encontros entre o racismo e a homofobia e a dor e libertação do descobrir a si mesmo são colocados no papel, enquanto Ele refaz os caminhos pelos quais se perdeu, enquanto amava alguém que agora é somente um estranho com milhões de seguidores.

Minha humilde opinião

Quando comecei a ler, não sabia bem o que esperar. Já tinha lido, diversas vezes, as pessoas comentando que não haviam se alistado para esse abuso. E eu, com certeza, me alistei sim.

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A história é contada por meio de cartas, no qual o protagonista destrincha seus sentimentos, revira a sua alma, relembra cenas dolorosas e demonstra que procura sobreviver ao caos que o término com o ex causou em sua vida. Aos poucos, você vai entrando naquele relacionamento doentio, ao mesmo tempo em que vai entendendo como ele, o protagonista, era tão apaixonado pelo ex.

Com relatos que são extremamente crus e sinceros, com frases e trechos que doem no seu coração, cada página é mais um momento para você se identificar ou apenas querer abraçar o protagonista, que possui tanta dor dentro de si, que é impossível não querer abraçá-lo. Em algumas cartas, eu até queria poder dizer para ele que eu entendo, eu também estivesse naquela situação. É um livro que não romantiza, não enrola, não constrói uma imagem distorcida da realidade. É aquilo e pronto. E não é fácil.

Particularmente, me envolvi em cada linha daquelas cartas, torcendo para que o protagonista conseguisse exorcizar tudo aquilo dele. Ter que assistir o ex na televisão, sabendo que todo o Brasil também está vendo aquele ser que um dia o amou se apaixonando por outro cara, se tornar milionário e ter um suposto casamento dos sonhos, enquanto ele mesmo está definhando. É dolorido demais.

O autor aproveita para explorar, além das emoções cruas, muito do que é ser um homem negro e fora do padrão estético esperado, ser alguém com transtornos mentais, sem conseguir encontrar muita compreensão fora da sala da psicóloga. A realidade para aqueles que não estão dentro do que a sociedade espera é mais dolorida do que sequer possamos imaginar.

Outro ponto importante a se destacar de “Querido ex” é sobre o amor próprio, a redescoberta, a lembrança de que amigas incríveis e uma boa base familiar podem te ajudar nessa longa jornada, e que você não precisa estar sozinho.

Vale a pena todo esse sofrimento?

Se você gostar de um bom livro, sincero e dolorido, sim. Não leia esperando coisas boas, com expectativas de tudo terminar em plena felicidade. A vida não é justa e feliz, embora ela possa ser em alguns momentos. Ela dói, mas pode ser refeita, pode ser redescoberta, mesmo que você não tenha milhões de seguidores e uma conta milionária.