Crítica | Cangaço Overdrive, de Zé Wellington

As narrativas de nosso Nordeste sempre geram grandes contos, sejam eles baseados na pobreza e força de um povo aguerrido, ou no humor tão característico ou a poesia lírica latente em grandes poetas da nossa região.

Eis que o Roteirista vencedor do Troféu HQMIX em 2015 pela HQ Steampunk Ladies: Vingança a vapor, Zé Wellington, resolve brincar com conceitos estabelecidos da cultura Pop. Já tendo visitado o universo do SteamPunk, dessa vez ele vai passear pelo mundo do Cyberpunk, unindo tecnologia com as dores e lutas de um povo sofrido em busca de um pedaço de chão. Agora imaginem se um cangaceiros dos tempos de Lampião e um Policial, ligados por um elo de morte e destruição voltassem a vida justamente neste futuro distópico? É justamente isso que nos é apresentado em Cangaço Overdrive, tudo isso numa estética futurista mas sem perder a linguagem do Sertão, tendo como apoio, uma narração em forma de cordel, o que deixa a experiência mais agradável e imersa.

Na trama futurista, em uma região abandonada pelo governo e dominada por conglomerados empresariais, existe a resistência liderada por Rosa, a tataraneta de um cangaceiro que lutou ao lado de Cotiara e que já tinha a mente bastante libertaria para a época em que vivia. Essa comunidade auto gerida, tenta manter a luta contra a polícia abusiva e os interesses escusos desse grupo empresarial, afinal, neste futuro a escassez de água é grande e essa comunidade conseguiu sobreviver, graças a um poço, que mantem a infraestrutura do local, e amplia a cobiça dos grandes. Rosa lidera um grupo que luta para se manter firme num Brasil divido em dois, o Sul, com suas cidades tecnológicas e o Nordeste, cheio de morte e pobreza.

Como já citado acima, temos Cotiara, um cangaceiro que volta a vida no futuro, graças as tecnologias avançadas, mas seu retorno é em volta de vários mistérios. Quem perpetrou esse regresso e o porquê, são incógnitas que só fazem querer conhecer mais desse personagem. Todas as suas lembranças dessa vida passada a 100 anos, continuam vivas e as dores são presentes e sofridas.

Mas ele não veio sozinho, Avelino, um policial ligado ao passado de dor e sofrimento de Cotiara também está de volta, mais forte e buscando dar um fim a rivalidade com o cangaceiro.

A arte é por conta Walter Geovani (Sala Imaculada e Red Sonja) e Luiz Carlos B. Freitas que apresenta bem seus personagens e a fluidez nas cenas de ação são bem presentes.

Ponto alto para as cores de Dika Araújo, que brinca com tons neon, que remetem muito ao filme Blade Runner, mas quando somos transladados para o passado do cangaceiro Cotiara, as cores tornam-se áridas e secas, algo que te transporta junto para a atmosfera sofrida do sertão.

Os roteiros do Zé Wellington mostram o quanto o autor procura evolução em sua escrita, um aperfeiçoamento comparado ao seu trabalho anterior, que já é bom, mas mostra essa escada ascendente do roteirista, mostrando que boas histórias surgem de todos os lugares e estados e o Ceará é um berço de grandes autores. A narrativa em cordel, só premia o leitor em um imersão primorosa e agradável do nosso sertão.

Cangaço Overdrive deixa várias aberturas narrativas para novas visitações e ampliações deste universo, que pavimenta um futuro prospero para esse mundo, mas que funciona também como história fechada, apesar de querer muito revistar esses personagens e suas dores.

Para quem é de Fortaleza-CE, sábado, dia 28 de abril de 2018, a partir das 15:00, acontecerá na loja da Reboot Comics da Av. 13 de maio N° 2072, loja 05, Benfica, o lançamento da HQ Cangaço Overdrive com as presenças de Zé Welligton, Walter Geovani e Rob Lean.