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Estamos nos aproximando do dia 13 de maio, mas por incrível que pareça e apesar de ser o dia em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, que pós o fim a escravidão no Brasil, esta não é uma data tão comemorada, afinal, faltou criar todo um suporte para o negro liberto. Eles simplesmente foram soltos e nada lhes foi oferecido, nem educação, nem oportunidades.
Uma vergonha histórica faz parte dos pilares da formação do Brasil, fomos o último país do Ocidente a abolir a escravidão e ainda temos a macula de ser a nação que mais importou escravo no mundo.
E na HQ roteirizada por Rafael Calça e ilustrada por Jefferson Costa, traz também e segundo palavras do próprio Mauricio de Sousa, uma justiça histórica a um dos personagens mais antigos da casa e que reflete tanto as cores da nação chamada Brasil.
O personagem Jeremias finalmente ganha uma edição toda sua e o tema não poderia ser outro, um proposta delicada e infelizmente enraizada nas pessoas, algo que não deveria existir, mas existe! E não podemos mais virar o rosto e fingir que não existe. É um tema presente demais para ser ignorado. E casa MSP teve a coragem e a delicadeza primorosa de saber abordar o assunto.
Em Jeremias – Pele, temos o pequeno Jerê, no meio do convívio com seus pais, as amizades no colégio, as leituras no mundo dos super-heróis, mas o monstro do racismo está ali, presente na vida desse menino sensível e tão inteligente. Mas nada é tão pesado e agressivo, ele tira tudo de letra, porque ainda não teve um contato tão forte com o racismo.
Eis que por pura falta de sensibilidade, a professora da turma, apresenta um trabalho, o dia das profissões! E de forma descabida e sem a menor sutileza, ela escolhe para o pequeno Jeremias uma profissão diferente do que o garoto gostaria, afinal, ele é fã do famoso Astronauta da BRASA, porque ele não poderia ser um viajante das galáxias?
Essas perguntas não são respondidas de forma coesa para o garoto, que precisa engolir a seco a escolha feita pela professora. É ai o primeiro contato intenso do pequeno herói com o famigerado racismo, afinal, ele é negro, só lhe resta a profissão de pedreiro. E qual o problema nisso? Nenhum, inclusive, o avo de Jeremias desempenhou essas função por anos, e envia uma caixa para ajudar na indumentária do pequeno. Neste momento, temos o vislumbre de um companheiro muito presente na estética da personagem, algo que é sua marca registrada e como esse simples objeto ganha força com a carga emocional por trás de sua origem.
A HQ em todo tempo é muito emocional e poderosa, o pai de Jeremias, também sofre o dia a dia que vários negros sofrem. Afinal, “que esse cara pensa que é? Engenheiro???” É duro, e emocionante o que ele passa, porque é verdadeiro.
O ponto alto da HQ é o embate feroz do pai, tentando desesperadamente explicar para o pequeno guerreiro como é a roda social, tentando ao máximo não replicar as dores que o mundo lhe forçou a ter e como a ignorância das pessoas machuca e cria cicatrizes profundas. E esse pai luta para não passar essa carga para o filho, para lhe mostrar que ele precisa ser melhor, mais forte, mas, único. Mas quando acontece com quem ele jurou proteger, o torna mais fraco e perdido, tão perdido quanto Jeremias.
Sempre ouço no meio nerd, pessoas reclamando das mudanças de etnias de alguns personagens, ou pior, de inserirem negros como protagonistas nos seus amados universos, afinal, ali é a caixinha de areia deles, não querem ninguém brincando no parque que a eles pertencem. Deixa eu falar com você que em algum momento pensou algo assim…PARE!!!!
Representatividade é importante demais, você se sentir representado em tela, na música, nos quadrinhos, seja aonde for, isso é ouro! Um tesouro de extrema importância para o mercado, para as pessoas que consomem cultura pop, vejam o exemplo de Pantera Negra, e você mesmo não sendo negro, amou o filme. Então, deixa os meninos e as meninas do gueto se sentirem representadas também.
E é justamente isso que vemos na HQ, representatividade é importante demais para ficar fechada nos nossos preconceitos tacanhos. A cena que mostrar isso, de Jeremias e seus pais, é de uma doçura única, refletindo assim, milhões de crianças de nosso Brasil.
Rafael e Jefferson conversam com uma unidade impressionante, roteiro e arte fluem de uma forma magistral, profunda e primorosa. É um trabalho que só consigo definir como poderoso, o soco que precisamos levar na boca do estomago, para que não repliquemos jamais esse discurso triste e infundado.
A história é repleta de personagens conhecidos do universo de Mauricio de Sousa, desde a turma a personagens estelares, o que torna uma brincadeira de procurar muito divertida. E não apenas personagens, mas lugares de grande importância para a luta contra o racismo.
Posso não ser negro e ao mesmo tempo, o sou. Vivemos em uma nação miscigenada onde o racismo não deveria fazer o menor sentido, infelizmente ele é o vilão mais presente, mas que pode ser derrotado, com esclarecimento e educação. E propostas como a apresentada em Jeremias – Pele, são fundamentais para a mudança de comportamento.
Obrigado Rafael, Jefferson, Sidney e Mauricio e toda a equipe que faz a MSP ser um diferencial no mercado Brasileiro, e mudarem sempre, olhando um pouquinho de dentro para fora e trazendo histórias que só tendem a nos emocionar e ensinar.
Vocês podem adquirir Jeremias – Pele com os nossos parceiros da Reboot Comics.