Por mais que seja um termo bem comum de ser usado ao falar de videogames, o que realmente torna um jogo divertido, pra começo de conversa? Uma história com personagens multifacetados e múltiplos finais? Mecânicas complexas, com muitas opções para personalizar? Rankings, elos e passes de batalha para ganhar cosméticos? Eu não sei bem como responder a essa pergunta. Mas eu sei que, mesmo sem nada disso, Katamari Damacy REROLL não é só um dos jogos mais divertidos que eu já joguei, mas provavelmente um dos mais divertidos, incríveis e malucos da história.
Se você tá achando esse jogo familiar, REROLL é a versão remasterizada de Katamari Damacy, um clássico cult do PlayStation 2 lançado em 2004. Não há muitas diferenças entre as versões além do visual atualizado, então, se você já adorava o jogo 20 anos atrás, vai continuar apaixonado por ele nas plataformas atuais.
Nasce uma estrela
É fácil explicar a premissa de Katamari Damacy, mas ela não é para ser entendida, mas para ser sentida, sabe? O Rei de Todo o Cosmos, em um dia de diversão, destruiu todas as estrelas do céu. Agora, sobrou para o Príncipe do Cosmos (e pra você) conseguir recriar todas as estrelas antes de voltar pra casa. Como você vai fazer isso? Usando o poder dos incríveis katamari! Elas são esferas mágicas que, ao serem roladas por cima de objetos que são menores que elas, grudam os objetos e aumenta o seu tamanho. Sua missão então é sair rolando por aí, grudando tudo que você puder no seu katamari e crescendo o tamanho dele antes que o Rei se canse de esperar — quanto maior seu katamari, mais bonita a estrela que ele vai formar no céu!
O jogo inteiro roda (!) em torno desse conceito de rolar o katamari e deixar ele maior, com desafios que misturam plataforma 3D com um certo aspecto de quebra-cabeça. Entender quais objetos você pode pegar e como evoluir o tamanho do katamari de forma eficiente é um pensamento constante, além de fugir dos vários obstáculos maiores do que você (e que jogam objetos pra fora do katamari). Os controles são um desafio a parte: ao invés de usar um analógico para movimentar e outro para a câmera, Katamari Damacy usa dos dois analógicos de uma forma não convencional, como se cada uma fosse uma das pequenas mãozinhas do Príncipe. Para fins de acessibilidade, a versão REROLL podia ter opções para outras formas de controle, já que é possivelmente uma das únicas coisas que pode te afastar do jogo caso você não se acostume com a movimentação do katamari.
Dito tudo isso, eu preciso comentar o quão catártico é esse simples processo de rolar, crescer e rolar mais, sério! Nas primeiras fases, você vai demorar para conseguir chegar em um katamari de 1m de altura e boa parte do seu foco vai ser pegar lixo espalhado pelo chão para fazer suas estrelas. Mas, conforme, o jogo avança, você começa a pegar móveis, pessoas, prédios, árvores e tudo que você literalmente ver pela frente, como uma grande bola de demolição grudenta, e é MUITO LEGAL. É uma sensação tão boa voltar para onde você começou em cada mapa, só que 10 vezes maior, e simplesmente passar o rodo em tudo o que tava te dificultando antes. Praticamente uma história de superação.
Na, na, na, na, Katamari Damacy!
Boa parte da catarse que é Katamari Damacy vem de tudo que cerca a ideia de rolar. Visualmente, o jogo é uma completa loucura, digna do melhor do Japão: não só com aqueles gráficos de PS2 (agora com texturas atualizadas em HD), mas na completa aleatoriedade de objetos disponíveis em cada mapa. Eu convido você a voltar para as imagens desse texto e tentar identificar tudo o que está dentro dos katamari — e eu preciso te contar que isso é 2% de tudo que você pode coletar por aí durante cada fase. Não tem um momento do jogo em que eu não me assustei/me maravilhei com um novo cenário (ou simplesmente fiquei tentando entender o que estava acontecendo).
A trilha sonora é um espetáculo a parte, de verdade. É cientificamente impossível jogar Katamari Damacy até o fim e não passar dias, meses e anos ouvindo as músicas do jogo (carece de fontes). Em uma fase, você tem um J-Rock, na próxima tem um samba e na outra tem um jazz. Eu e minha noiva estamos cogitando, de verdade, usar Lonely Rolling Star no nosso casamento. E provavelmente não tem um dia da minha vida que eu não possa ficar pelo menos um pouco mais feliz ouvindo Katamari on the Rocks. Ouvi toda a trilha sonora enquanto eu escrevia isso. E enquanto trabalhava nas últimas 2 semanas, é nesse nível de bom.
Katamari Damacy REROLL sabe exatamente o que significa ser divertido e faz isso com loucura e maestria, da proposta à execução. Ao invés de tentar buscar complexidade, ele tem o conceito mais besta possível, entende isso e te permite aproveitar cada pedacinho dele da forma mais especial possível. É uma pena que a acessibilidade de controles não tenha sido endereçada nessa versão remasterizada, porque eu realmente acho que seja a única coisa que pode afastar alguém com interesse em não jogar. Mas caso essa barreira não exista pra você, eu tenho certeza que, pelo menos, vai se divertir bastante rolando o seu katamari.
Katamari Damacy REROLL está disponível para PC na Steam, no Nintendo Switch, no PlayStation 4/5 e no Xbox One/Series.