Ao acompanhar a cena de desenvolvimento de jogos nacional e internacional, me deixa muito feliz em ver que a quantidade e a qualidade dos jogos brasileiros melhoraram muito nos últimos anos. Esquadrão 51 contra os Discos Voadores é uma das mais novas adições bem peculiares aos jogos tupiniquins. Desenvolvido pela Loomiarts e com filmagens das cutscenes pela Fehorama Filmes, ele é um clássico jogo de navinha, que pega inspiração dos filmes de ficção científica ali dos meados dos anos 1950.
No jogo, a Terra foi dominada por alienígenas, que instauraram um novo governo ditatorial. Seu personagem faz parte do Esquadrão 51, um grupo rebelde que pretende deter esses invasores um disco voador de cada vez. Com cutscenes filmadas totalmente em português, o jogo tem um gostinho brasileiro a mais, trazendo toda tosquice e charme dessa época do cinema.
Quanto ao gameplay, ele faz bem o dever de casa em trazer uma experiência competente em um jogo de nave bullet hell. A escolha do seu avião depende da fase, mas o jogador vai desbloqueando novas armas e upgrades que devem ser escolhidos com atenção antes de cada fase. A escolha das habilidades vai depender de cada jogador e seus objetivos. Você pode pegar mais armas e melhorá-las para ter mais poder fogo ou escolher vidas extras. O jogo também oferece alguns upgrades de pontuação para aqueles que buscam a performance perfeita. Essa mistura de customização de avião com ranking nas fases trazem uma boa rejogabilidade. Quanto mais você joga, mais vai liberando essas novas habilidades sem mesmo ter precisado terminar fases. Então o jogo consegue balancear bem a dificuldade, mesmo se você estiver tendo problemas em vencer.
As poucas fases do jogo conseguem ter uma boa variedade de narrativa, cenários e objetivos. Apesar da escolha do preto-e-branco deixar tudo um pouco parecido demais, o jogo consegue variar bem no seu decorrer. A escolha estética, na verdade, é um dos seus maiores feitos, conseguindo te transportar para a tosqueira dos filmes antigos e trazer sorrisos em alguns momentos. Para incrementar as fases, temos também diálogos entre os pilotos no melhor estilo Star Fox, dessa forma as fases ficam mais significativas, cheias de narrativa e simpatia vinda dos dubladores. Filmar com pessoas e cenários reais ou misturados com 3D é algo muito caro, principalmente no Brasil. Mas a carta na manga desse tipo de inspiração é que tá tudo bem algumas cenas ficarem meio toscas, ou alguns atores não entregarem 100% de atuação, tudo faz parte do charme.
Apesar da boa direção no ritmo e dinamismo das fases, acho que às vezes o level design peca um pouco. Existe uma quantidade maior do que eu gostaria de cenários apertados demais. O jogo não é muito difícil, quanto mais perto do final eu fui achando na verdade mais fácil. Mas cenários muito fechados ou pequenos em jogos de nave acabam deixando o gameplay metódico demais e menos empolgante. Apesar disso, para o escopo do jogo, acredito que a quantidade de fases e de inimigos está no tamanho correto. E quando o jogo te deixa escolher alguns caminhos diferentes, ter mais liberdade na tela e enfrentar os empolgantes chefes gigantes, ele brilha. Tudo isso se potencializa com os diálogos no meio da ação previamente citados e com uma muito competente e empolgante trilha sonora.
Apesar de o Esquadrão 51 contra os Discos Voadores ter uma história bem clichê, o gostinho brasileiro dá um charme e uma profundidade maior à trama. Com a nossa história de diferentes ditaduras, é muito difícil olhar para isso e não fazer uma conexão direta. Temos rebeldes enfrentando uma ditadura, a mídia manipulativa e até mesmo algo que de forma bizarra me passou um sentimento de crítica aos Estados Unidos, um dos responsáveis pelo golpe de 64 no Brasil.
Esquadrão 51 contra os Discos Voadores é um jogo muito bem-feito, que sabe exatamente o que quer entregar. É uma experiência retrô tanto no gameplay como na sua temática, oferecendo também opção de jogar com um amigo do seu lado, como os clássicos jogos de navinha de antigamente. Sua mistura de live-action com jogabilidade em 3D cria um estilo bem único. Somando isso com uma bela direção no design das fases e uma certa rejogabilidade, é uma ótima pedida para os fãs do gênero. O jogo atualmente está disponível para PC, mas, posteriormente, terão versões para Nintendo Switch, PlayStation 4 e Xbox One.