Pânico VI chega aos cinemas surpreendendo a todos com uma história boa, não inovadora, mas com a legitimidade de um dos mais gore da franquia. O protagonismo das irmãs Carpenter é excepcional por se encaixar muito bem na trama e por entregar tudo que se espera de uma fidedigna final girl. Entretanto, em meio a um banho de muito sangue, o sexto filme derrapa nas poças de sangue deixadas no chão pelo Ghostface dos filmes anteriores e oferece o melhor que a repaginação da franquia foi capaz de trazer.
Com Sidney Prescott (Neve Campbell) de fora e Gale Weathers (Courtney Cox) fazendo um papel secundário, o sexto filme tenta trazer uma outra roupagem, ao passo que constrói muito bem a nova narrativa. Logo, Tara Carpenter (Jenna Ortega) e Samantha Carpenter (Melissa Barrera) ganham potência para não só suprir a falta da antiga protagonista, mas como também para ofertar o arco do herói ao espectador. Assim, a presença de personagens profundos e com participações mais relevantes buscam uma produção dos ano de 1990 pra os dias atuais.
Apesar de ter uma proposta parecida com os demais, o filme consegue fazer o que a franquia fez de melhor até agora: brincar com sua metalinguagem entre Stab e a artificialidade do terror. Portanto, o que parece intuitivo não é tão óbvio mais, mas ao mesmo tempo chega a ser grotesca a forma com que os plot twist vão revelando a imbecilidade de quem assiste. É claro que isso não mancha a franquia com um ponto negativo, já que a boa execução do gênero é bem apreciada no meio.
Por outro lado, a construção da narrativa no filme é feita de vales e ápices. Enquanto rola uma história por trás, que envolve a superação e a relutância das irmãs pela tragédia de 2022, as cristas dessa onda são repletas de cenas eletrizantes e sangrentas de terror. Sendo assim, podemos dizer que Pânico VI se destaca dos demais por assumir de vez a sanguinolência do Ghostface e mostrar que Michael Myers tem sim concorrência.
Sequência ou franquia?
O retorno de Gale Weathers e os ganchos de referências presos à cidade de Woodsboro trazem uma certa empacada para as engrenagens da história. Assim, é preciso entender o sexto filme como um degrau para fora do calabouço e que a franquia Pânico só vai caminhar quando deixar o peso do passado para trás. É claro que, devido as proporções, a sequência do Ghostface é mais sobre a nostalgia dos anos 2000 do que o próprio conceito de terror em si.
Da mesma forma, o longa carrega um jeito muito inocente e até estúpido de lidar com as mortes em si. A dupla de diretores Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett parecem ter feito algumas consequências e suavizações de forma proposital para a confirmação do próximo filme da franquia. Logo, o trilho tortuoso em que os personagens são inseridos parece ter sido apenas pelo show de ver um Ghostface louco mas fracassado.
Assim como seus antecessores, esse longa conta com a presença de vários personagens (mais profundos desta vez) para dar dinamicidade e caminho para a história. Embora a “estratégia Scooby-Doo” seja meio datada, ela encaixa na narrativa, oferecendo um viés inocente para aqueles que estão começando sua trajetória de sobreviventes. O grupo formado por Sam e Tara Carpenter, Mindy Meeks-Martin (Jasmin Savoy), Chad Meeks-Martin (Mason Gooding) e outros personagens traz uma nova vertente do que víamos no antigo grupo. Além disso, a presença de Kirby Reed (Hayden Panettiere), de Pânico VI, revela um resgate importante de um grupo de sobreviventes que se conectam durante a franquia.
Em síntese, o sexto filme da franquia Pânico é compensatório, divertido e sanguinário no ponto certo. Enquanto brinca com o espectador, a produção elabora da melhor forma um caminho para sair da antiga narrativa e fazer prosperar uma nova. Além disso, atingimos um novo patamar dentro da metalinguagem do conceito trazido durante a franquia, o que deixa as coisas menos cansativas e mais divinas para quem ama um slasher.
Sendo assim, é preciso aceitar a nova perspectiva de Pânico. Como visto nos filmes anteriores, não é um itinerário conceitual, não dá mais para se prender aos anos 2000, é preciso sair de Woodsboro e é preciso diminuir ainda mais as barreiras entre mocinhos e vilões. Não há ninguém puro, até porque todo mundo sofreu o suficiente para se fascinar pelo desejo de ser o próximo Ghostface.
Com estreia de 80% de aprovação, a franquia foi renovada para seu sétimo filme.