Shazam! Fúria dos Deuses Shazam! Fúria dos Deuses

Shazam! Fúria dos Deuses

O primeiro filme de Shazam! veio em uma onda meio ruim de produções da DC nos cinemas, afinal, depois de Batman vs Superman: A Origem da Justiça ficou muito difícil botar fé nelas. Para a felicidade geral da nação, acabou que o longa foi muito divertido e saíram mais rostos satisfeitos do que bravos das sessões, o que deu gancho para a sua continuação, Shazam! Fúria dos Deuses, que, dependendo do que você está esperando, pode ter deixado a peteca cair – mas segurou de última hora pelo dedinho do pé.

Com um elenco recheado de novos nomes de grande peso, a trama se destaca por, principalmente, trazer um arco mais maduro para Billy Batson (Asher Angel) e Freddy (Jack Dylan Grazel), utilizando-se bem dos temas pertencimento e família, além de, claro, entregarem toda aquela comédia ácida que tanto esperamos. Entretanto, as vilãs ficaram muito aquém do esperado, com as atrizes entregando atuações que não chegam aos seus pés em cenas que parecem forçadas, endurecidas, com diálogos que não soam naturais.

A história ocorre dois anos após os acontecimentos do primeiro filme, em que Hespera (Helen Mirren) e Kalypso (Lucy Liu), deusas vindas de outro mundo – obviamente inspirado na mitologia grega -, invadem um museu na Terra e roubam o mesmo cajado utilizado no longa passado. Descobrimos que esse artefato havia sido roubado do pai delas e nele havia os poderes selados dele. O pai, claro, é Atlas. Agora, as feiticeiras precisam encontrar um outro objeto específico que irá ajudá-las a restaurar o seu mundo.

Shazam! 2
Lucy Liu e Helen Mirren como Calypso e Hespera, respectivamente acima

A primeira cena das vilãs, diga-se de passagem, é com elas fazendo malvadeza – recurso utilizado demais em filmes mais família e que eu acho engraçadíssimo.

Nesse segundo filme, os focos estão no trio Billy, Freddy e Mary (Grace Caroline Currey), mas muito mais nos meninos, com as exploração de seus traumas, aprofundando mais os temas, o que é ótimo, pois provoca mais o espectador a mergulhar na história em busca de uma resolução para tais sofrimentos, principalmente por ser uma história cuja comédia é praticamente o elemento central e, sabemos, comédias não são conhecidas por darem muito espaço para dramas pessoais. Porém, o roteiro conseguiu se sobressair nisso e abraça toda a cafonice possível para lidar com tais questões, dando resultados satisfatórios para um filme cuja intenção é ser uma pataquada para toda a família.

Mas, como dito antes, Mary é meio deixada de lado, mesmo que a própria trama tente incluí-la de alguma forma, mas parece não saber muito bem o que fazer com ela. Acontece que a irmã mais velha dos meninos é uma espécie de “vice-líder” da equipe, alguém a quem Shazam recorre frequentemente, já que a sabedoria de Salomão parece ter esquecido dele, porém, isso não é, de fato, explorado, encerrando qualquer ideia para uma futura liderança antes de terminar o segundo ato do filme.

Aliás, as mulheres aqui não são dignamente tratadas. Como dito antes, as vilãs ficaram engessadas, mal exploradas e meio que ao relento perante tanta coisa acontecendo. As brigas entre as irmãs são fracas, sem sentido, mas que trazem consequências periclitantes para a humanidade – com esvaziamento de significado. Anthea (Rachel Zegler), por exemplo, apesar de poderosa, é relegada ao papel de irmã mais nova sem muita função no trio e mocinha indefesa, além do interesse romântico de Freddy. A mãe da família de Batson, Rosa (Marta Milans), tem, de certa forma, um papel importante na narrativa, mas mal aparece e possui poucas falas, de forma que pouco me importei com ela ao longo da história.

Freddy, como sempre, é um personagem afiadíssimo e rouba praticamente toda a cena do filme sendo irreverente e sarcástico. Seu papel acaba sendo central para a trama, evocando até mesmo mais drama do que Billy, fazendo com que nos envolvamos mais com o seu arco. Os outros personagens são jogados para papéis secundários irrelevantes, com pouco destaque – todavia, uma das melhores “piadas” é Pedro quem faz.

Aliás, o personagem de Zachary Levi não faz muito jus ao filme, pois Billy Batson se mostra um pouco mais maduro – como um jovem de quase 18 anos pode ser -, mas Shazam age como se eles ainda tivessem 15-16 anos, mais impetuosos e imprevisíveis.

A história se perde um pouco no que quer fazer, mas não deixa a peteca da diversão cair. A ação que entregam nesse filme, infelizmente, é bem inferior e muitíssimo recheada de “conveniências”. Explico. Em determinada cena, a família Shazam está voando em fuga e param um pouco no chão, achando que despistaram quem os perseguia. Quando quem quer que seja (não vou dar spoiler) reaparece, Shazam grita para correrem e, por alguma razão, eles literalmente correm ao invés de voltarem para os céus ou mesmo utilizarem suas supervelocidades. Aquele esquecimento conveniente do roteiro para que a ação não seja voltada apenas para os poderes deles, sendo que, convenhamos, se é praticamente briga de deuses no filme, o mínimo era utilizarem de forma criativa esses poderes para não enjoar com o fato de serem poderosos demais.

No frigir dos ovos, a estrutura do filme é bagunçada, mas muita coisa compensa a ida ao cinema para ver essa família do barulho se envolvendo em brigas bem mais ou menos e nos entretendo com um humor esperto e bem colocado.