Oppenheimer Oppenheimer

Oppenheimer é o filme mais maduro de Nolan

Não dá para negar que um dos eventos cinematográficos mais icônicos de 2023 são as estreias de Barbie e Oppenheimer no mesmo dia. O primeiro parece um filme leve e despretensioso enquanto o segundo vem de um diretor conhecido por levar seu trabalho e suas opiniões muito a sério, com plots intrincados que muitas vezes brincam com o conceito de tempo. Apesar disso, Oppenheimer parece uma primeira experiência para Nolan. Um estudo de personagem focado em uma figura histórica controversa, muito fiel aos fatos que aconteceram e com pouca margem para “brincar”. Confira a crítica sem spoilers.

Oppenheimer conta a história do homem responsável pelo projeto de criar a bomba atômica, isso quem se lembra das aulas de História já sabe. O que muita gente vai descobrir são fatos pessoais da vida do cientista (vivido por Cillian Murphy) e um foco em questões políticas. É um estudo de personagem, um filme político e ainda consegue ser um longa de tribunal. Isso explica suas 3 horas de duração.

Era conhecido que Nolan ficou obcecado com a história de Oppenheimer e queria fazer esse filme há muito tempo. Ao assistir à película, fica claro o porquê dessa obsessão. O cientista era uma pessoa muito complexa. Mesmo sendo alguém com convicções políticas de esquerda, ele ajudou a criar a arma de destruição em massa absoluta de seu tempo. Arma essa que foi usada contra civis para ajudar os Estados Unidos a vencer a guerra. Essa complexidade do personagem é entregue perfeitamente por Murphy, mostrando um personagem que nunca deixa claro no que realmente acredita e o que o motiva. Essa confusão gerada no expectador é um dos pontos principais da trama e todos sabemos que Nolan adora isso.

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Muito da confusão inicial vem do fato que o filme é contado em 3 linhas temporais diferentes de forma não-linear. Mas calma, aqui não tem nada confuso demais igual a Dunkirk. Rapidamente, através de elementos de cenário, câmera, roteiro e maquiagem, sabemos a ordem em que as coisas estão acontecendo. Essa montagem ajuda bastante a dar dinamismo a um filme de 3 horas que é praticamente só conversa. Nolan sabe utilizar muito bem os recursos do Imax, principalmente no quesito som, mas esse é um filme muito mais introspectivo e menos bombástico (perdão pelo trocadilho). Nos poucos momentos mais explosivos (desculpa de novo), Nolan sabe muito bem as sensações que quer oferecer, fazendo as cadeiras tremerem como nunca. Outro destaque vai para o ótimo Ludwig Göransson, que assina a trilha sonora. Eu confesso que passei o longa todo achando que a trilha era do Zimmer, me parece que Göransson estava tentando emular o famoso parceiro de Nolan. Mas, apesar de parecer uma cópia, a trilha é excelente em trazer a complexidade do personagem e dos temas que ele trata sobre mecânica quântica, sempre utilizando muito bem as potentes caixas do Imax a seu favor.

Outro detalhe técnico que beira a perfeição é a fotografia. Seja em planos mais abertos para mostrar o Novo México como também em momentos mais intimistas, capturando bem as expressões dos personagens e a maquiagem perfeita que sobrevive até mesmo a uma tela gigante. A esperada cena da explosão da bomba é perfeitamente montada para causar tensão e para sentirmos o impacto, o medo e a emoção que aconteceu na realidade. Mas, apesar disso, Oppenheimer não é um filme que vai exaltar a arma. Ele é, em sua maioria, é um filme antiguerra. Ele nunca mostra os resultados reais do uso da bomba, sempre focando no ponto de vista do protagonista, o que achei um detalhe muito respeitoso por não apelar para o choque. No fim, o principal vilão aqui acaba sendo o próprio governo estadunidense, mesmo que isso seja através de algumas cenas mais cafonas representando os governantes.

Isso leva ao que falei anteriormente, Oppenheimer é um longa extremamente político. Eu fiquei realmente surpreso em descobrir que o cientista tinha um viés político de esquerda e flertava bastante com o partido comunista norte-americano. Isso é um ponto central do longa e com certeza traz diversos pontos que serão novidade para o público. Eu realizei até uma breve pesquisa após de ver o filme para saber o quanto era fiel e, para minha surpresa, o longa é bem verídico na sua maior parte. É claro que filmes baseados em fatos reais sempre tem uma firula ou outra para reforçar a dramaticidade, mas os fatos estão todos aqui.

Oppenheimer é um estudo de personagem complexo e uma surpresa vinda de Christopher Nolan. É provavelmente o filme mais maduro do diretor por tratar de temas pesados e uma figura histórica controversa que nunca revela exatamente quais as suas reais convicções. É um filme com um elenco estelar (sério, a cada 5 minutos aparecia um ator famoso diferente) que está no seu ápice de atuação, técnica cinematográfica no seu auge e roteiro inteligente. Tenho alguns problemas com algumas cenas e frases meio bregas e também com uma “revelação” de um vilão no terceiro ato, deixando a trama um pouco arrastada. Definitivamente não é um filme tão fácil de ver por causa de suas duração e trama, que envolve termos complexos tanto de mecânica quântica quanto de política. Mas o dinamismo da montagem consegue tornar a experiência bem interessante, te deixando intrigado a maior parte do tempo. Com certeza vai abocanhar muitos Oscars e surpreender muita gente. Então, se ainda está planejando fazer sua sessão dupla de Barbieheimer, mantenha seus planos, pois tenho certeza que não vai se arrepender.

P.S.: Me parece realmente que o Nolan já mexeu tanto com o tempo nos seus filmes que já deve ter uma forma de viajar para o futuro. Pois esse longa conversa demais com as greves e questões políticas que estão rolando em Hollywood atualmente.