Um thriller psicológico estrelado por Christian Bale e que conta com ninguém menos do que Edgar Allan Poe entre os personagens certamente desperta algum nível de curiosidade. Adição de catálogo da Netflix nesse início de ano, O Pálido Olho Azul ainda conta com um elenco de coadjuvantes formado por nomes como Gillian Anderson e Toby Jones. Diante de todas essas informações, chega a ser triste constatar que o longa passa muito longe de atingir seu verdadeiro potencial. O intricado mistério se torna, na ausência de expressão melhor, algo tedioso.
Adaptando o livro homônimo escrito por Louis Bayard, a trama acompanha o experiente investigador Augustus Landor (Bale), que é contratado para desvendar um misterioso crime cometido no interior da tradicional Academia Militar de West Point. Seu caminho se entrelaça com o do jovem cadete E. A. Poe (Harry Melling), e juntos correm contra o tempo para evitar novas mortes. O principal problema de O Pálido Olho Azul reside na sua ausência de identidade, com o roteiro se dividindo entre um suspense policial e um mistério sobrenatural. E nenhum desses aspectos é desenvolvido de maneira satisfatória. Por vezes as pistas surgem como mera obra do acaso, tirando a sensação de descoberta que um bom thriller proporciona.
Parceiro de longa data de Bale, Scott Cooper assumiu as funções de diretor e roteirista do projeto. Boas intenções não faltam em seu trabalho, porém, O Pálido Olho Azul perde força ao longo de seu tempo de projeção extremamente elevado. Ele segura o desenvolvimento da história mirando em uma inesperada reviravolta na reta final. O problema é que tudo que vem antes desse momento não impressiona o espectador. Quando acerta, Cooper entrega boas passagens de tensão e cenas criativas. Vale destacar o ótimo trabalho do diretor de fotografia Masanobu Takayanagi, que desenvolve muito bem a solidão, a angústia e o perigo através da vasta ambientação invernal do período.
É nas atuações que O Pálido Olho Azul encontra suas forças, em especial na relação entre Bale e Melling. O ator veterano entrega um trabalho seguro como um homem cercado por sofrimento, que busca algum tipo de redenção e propósito. Mas é Melling quem rouba a cena no papel de um entusiasmado Edgar Allan Poe, que vibra com a chance de vivenciar a morbidez sobre a qual tanto escreve em seus poemas. Mesmo distante da figura real do famoso escritor, é impossível não se deixar levar por seus pensamentos e suas divagações. Pena que os bons momentos em tela dos dois não disfarçam as inúmeras falhas do longa.
O Pálido Olho Azul é um completo desastre? Longe disso. Os protagonistas brilham e a fotografia encanta o espectador nas tomadas externas. A principal questão é que o roteiro mira na revelação final e abandona todo o desenvolvimento até esse ponto. Diferente de uma obra escrita pelo próprio Edgar Allan Poe, essa aqui é simplesmente esquecível.