Depois de 10 anos de produção em um projeto que quase não foi finalizado, a Netflix finalmente lançou O Irlandês. O novo longa de Martin Scorsese com Joe Pesci, Al Pacino e Robert DeNiro é um sonho de todo fã de filme de máfia virando realidade. Confira nossa crítica sem spoilers.
Ouvi falar que você pinta casas
O Irlandês é um épico que se passa em diferentes décadas da vida de Frank Sheeran (DeNiro). Nosso protagonista é um motorista de caminhão veterano da Segunda Guerra que acaba virando um matador da máfia a mando de Russel Bufallo (Joe Pesci). Depois que Jimmy Hoffa (Al Pacino), líder do sindicato de caminhoneiros, entra em cena, a lealdade de Frank vai ter que se dividir entre os dois.
A história é baseada em relatos reais de Frank no seu leito de morte, trazendo um dos temas principais do filme que é a passagem do tempo. Graças a incrível tecnologia de rejuvenescimento facial, conseguimos ver esses personagens passando por diversas décadas e se misturando com a história dos próprios EUA. Apesar de ser uma história real, é melhor você assistir o longa sabendo o mínimo possível e apreciando como a trama se desenrola nas mais de 3 horas do filme que não tem nenhuma pressa em se desenrolar.
Pode pausar O Irlandês pra ir no banheiro?
Apesar da longa duração, que acabou virando polêmica e piada na internet, O Irlandês possui um ritmo muito bom. Principalmente se você gosta de filme de máfia e não se importa em um longa em que se baseia praticamente em homens brancos velhos de terno conversando. Apesar disso, vemos ali atores no pico de qualidade de atuação sendo dirigidos pelo que provavelmente é o melhor diretor vivo da atualidade e trabalhando no gênero que se sente mais confortável. Então, seja parando para ir no banheiro ou não, a sessão vale muito a pena, pois é já é um clássico atual. A direção de Scorsese aqui está bem menos dinâmica do que em filmes como O Lobo de Wall Street, mas mesmo assim consegue contar essa longa história sem barrigas.
Sendo o tempo um dos personagens principais da trama, ele tem um grande papel em modificar o cenário e os personagens. É como se víssemos uma minissérie mostrando cada década, primeiramente de forma não-linear e depois finalmente chegando na época em que o filme inicia. Percebe-se que essa mudança de narrativa é para pontuar que chegamos em um ponto importante da história e no seu clímax. Por falar em clímax, o longa termina de uma forma genial e melancólica, tomando um rumo bem emocional nos seus últimos minutos. O filme se apresenta como um grande estudo sobre como são as vidas das pessoas que se metem com negócios mafiosos. Seja mostrando suas mortes de forma rápida e trágica com um tiro na cabeça ou ainda mais tristes anos depois morrendo sozinhos.
In the Still of the Night
Apesar de todos os atores estarem na sua melhor forma de atuação, é Al Pacino que brilha no longa. Seu personagem, que aparece depois de uma hora de filme, rouba a cena e dá uma dinâmica diferente. Mesmo ele sendo uma força que muda a história e traz o conflito principal, nem ele nem outro personagem é colocado como vilão. São somente homens de negócios resolvendo seus problemas. Talvez alguém leve um tiro em algum momento, mas isso faz parte.
A fotografia de Rodrigo Pietro é nada menos que sensacional. Em diversos momentos temos planos sequência que servem para mostrar o ambiente de forma lenta e paciente. Já em outros, esse plano trabalha para uma cena de ação e, finalmente, temos vários planos longos onde Scorsese deixa seus grandes atores fazerem o que sabem fazer de melhor. A tensão criada em algumas cenas onde só existe diálogo é quase palpável, te deixando pregado no sofá querendo saber o que vai acontecer.
O Irlandês é um clássico moderno e obra-prima do aclamado diretor Martin Scorsese. É um grande estudo de personagem e mostra de forma realista o que acontece com esses mafiosos. Ele nos mostra como é a vida particular e as interações com a família dessas pessoas de uma forma melancólica e realista, evitando sempre a glamourização que ocorre nesses filmes. Seja numa sentada só, no cinema, no celular ou dividido em 15 partes, ele deve ser visto. Ele mostra a força da Netflix para produzir grandes obras.