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Kate

De uns tempos para cá, a indústria vem investindo em uma nova modalidade de personagens brucutu: as mulheres. Fomos bombardeados de homens enormes, musculosos, invencíveis e que saíam sem um arranhão de suas aventuras nas décadas de  1980 e 1990. Filmes icônicos como Duro de Matar, Máquina Mortífera, Mad Max, Predador, Rambo, Conan – o Bárbaro, Braddock – Comando para Matar, Cobra, O Grande Dragão Branco, Kickboxer, ou seja, qualquer filme com Steven Seagal, Chuck Norris, Bruce Willis, Sylvester Stallone, Wesley Snipes, Jean-Claude Van Dame…

Isso quer dizer que não existiam mulheres fodonas no cinema nessa época?! Não. Taí a Sigourney Weaver que não deixa a gente esquecer a franquia Alien! Mas, convenhamos, essas mulheres são a exceção, não a regra, ou até mesmo secundárias, como em Exterminador do Futuro (ai ai, Sarah Connor…). Finalmente, esse cenário vem mudando cada vez mais. Sabemos que a Marvel segurou a ideia de ter um filme da Viúva Negra por medo de flopar, mal sabendo que faria sucesso sim, pois nós, mulheres amantes de filmes de ação – desde que a ação seja boa, o resto é resto – estamos sedentas sempre por uma protagonista fodona. Precisou vir Red Sparrow fazer sucesso (só a deusa sabe o motivo, mas obrigada) para que eles dissessem “É, dá certo”. Além de, é claro, Mulher Maravilha – mesmo o terceiro ato sendo uma bosta gigantesca.

E, seguindo essa onda, nasceram vários filmes com protagonistas fodas e para a nossa sorte, esse ano nasceu Kate, novo filme de ação da Netflix.

Sinopse

Após ser envenenada, uma assassina tem menos de 24 horas para descobrir o responsável e se vingar.

O enredo

Kate (Mary Elizabeth Winstead) foi treinada desde criança para ser uma assassina perfeita, e os primeiros minutos do filme são feitos para essa apresentação. O bom e velho “mostre, não diga”. Ela pode até dizer que nunca errou, mas a cena em seguida nos mostra o quão boa é no seu trabalho. Apesar de, após o evento, ela dizer que vai se aposentar pois quer uma vida “normal”, ao que o seu “chefe” e figura paterna V (Woody Harrelson) responde: “O que é normal? Casar, ter um marido, filhos…?“. A expressão empregada por Kate nesse momento é impagável, pois nos diz “eu não sei”, enquanto sua boca se abre para responder “Algo como isso.”.

A trama se passa no Japão, especificamente em Tóquio, mas tendo começado em Osaka. O objetivo final de Kate é matar o chefão de um grupo da Yakuza japonesa, e está comprometida a isso. Porém, ela é envenenada e, infelizmente, não tem cura. Sabendo que tem apenas 24 horas, talvez menos, de vida, decide ir atrás de vingança e as coisas não acontecem exatamente do jeito que ela esperava, como ficar presa à adolescente Ani (Miku Patricia Martineau), a filha do homem que ela matou em Osaka e sobrinha do chefe da Yakuza.

Ani é como as adolescentes atuais, com roupas descoladas e uma atitude mais ofensiva, que acaba deslumbrada com Kate (quem não ficaria?) e se torna sua parceira. Juntas, elas vão descobrir e matar quem envenenou a assassina e se vingar. Aliás, essa parceria é uma das coisas mais fofas, pois envolve os arrependimentos de Kate e o rumo que sua vida tomou e o que Ani pensa que quer.

E um P.S. aqui bem grande pros cringe que curtiam ou ainda curtem música japonesa: Miyavi está no filme e eu amei o papel dele.

Por que é bom?

Primeiro, vamos falar sobre a protagonista. Seu background é revelado pontualmente em flashbacks, que iniciam mostrando quase nada e depois revelam o quadro inteiro, de forma natural, fazendo com que possamos entender completamente não só a sua motivação, mas o arrependimento que mostra no início e suas falas em diversos momentos. As cenas de ação protagonizadas por ela são tão lindas de se assistir quanto as de John Wick, com coreografias criativas, utilização completa do cenário e planos curtos para o enfoque da luta principal, e planos longos quando ela precisa correr.

Os cenários são uma mistura de cores neons com tons escuros, contrastando muito bem o que se passa nas cenas. Em alguns momentos, é utilizado o CGI para que o acontecimento tenha aquele tom estereotipado do Japão “kawaii”, com uma trilha sonora que mistura músicas de J-pop e J-rock às cenas, deixando tudo muito dinâmico e divertido de se assistir.

Os personagens são carismáticos, principalmente Kate, que, mesmo quando seu corpo vai chegando ao ápice da degradação, consegue ser fodona – algo típico do gênero.

Um acréscimo que vem aparecendo nos filmes de ação como Kate é que a protagonista não sai impune, sem arranhões, como acontecia antigamente. Você vê isso em John Wick, que tem o personagem sendo costurado, ou em Atômica, quando a personagem de Charlize Theron mal consegue se levantar para bater no meu algoz (que está no mesmo estado). As ações têm consequências para seus protagonistas, e isso é um refresco para os olhos de quem vê. Ou pode ser só para os meus, vocês que dizem aí.

Apesar de não trazer nenhuma trama inovadora, não ser uma aposta grandiosa, Kate é um excelente filme, que vai te prender do começo ao fim. Ele cumpre tudo o que promete. Cedric Nicolas-Troyan, o diretor, não está buscando um Oscar, e se prende a uma fórmula que já é comprovadamente um sucesso – e fez de maneira espetacular.

Aqui, gostaria de deixar um comentário em específico. Jogando no Google o nome do filme, encontrei muita gente dando menos de 5 estrelas ou dando ênfase que o filme não se reinventa, é genérico e o escambau, mesmo adicionando que ele é ótimo. Gostaria de deixar uma reflexão: por que longas protagonizados por homens podem ser uma bosta, enquanto os filmes em que a protagonista é uma mulher recebem críticas negativas se não forem impecáveis? Demorou muito para o filme de Viúva Negra sair por isso. Tudo o que é feminino e vai entrar em um campo que, até então, foi dominado pelo masculino, precisa ser perfeito aos olhos da sociedade ou não vão tentar de novo. Isso se aplica a qualquer “minoria” também, como filmes em que o protagonismo é negro ou outras pessoas não brancas e LGBTQIA+.

É isso, reflitam.

Conclusão

Kate é uma mistureba de tudo o que já conhecemos de filmes de ação, mas com aquele cuidado delicioso em fazer com que a trama corra de forma orgânica e a porradaria seja bem capturada pelas câmeras de maneira criativa. Existem cenas que poderiam formar um quadro perfeito para uma galeria de arte, de tão lindos que são.

O filme pode ser longo, mas você não vai sentir, acredite. Quando perceber, vai estar querendo mais.