Eu tenho a impressão que nos últimos 10 anos, nessa competição alucinante entre os longas de animação infantil, a franquia de Hotel Transilvânia parece ter menos atenção da crítica, do público e até mesmo da própria Sony Pictures Animation. Competir com Disney, Pixar e Dreamworks nunca foi fácil. Surpreendentemente, Hotel Transilvania: Transformonstrão, quarto filme da sequência lançado em janeiro na plataforma Prime Video, mostra maturidade técnica de animação e aposta em abordar outros lados dos personagens criados por Todd Durham.
Lançado em 2012, o primeiro filme da sequência apresentava o Hotel Transilvania criado por Drácula para proteger a sua filha Mavis dos preconceitos do mundo dos humanos. Sem a figura materna, Drac exerce uma superproteção em forma de empreendedorismo hoteleiro. A divertida premissa abriu margem para reunir uma fantástica fauna de personagens como o Frankenstein, a Múmia, o Fantasma e o Lobisomem que são explorados em todos os filmes da franquia. Nesses 10 anos de trabalho, a franquia evoluiu com a direção do genial Genndy Tartakovsky (de Samurai Jack e As Meninas Superpoderosas) nos três primeiros filmes, e agora na colaboração do roteiro de Transformonstrão, dirigido por Derek Drymon e Jennifer Kluska.
De maneira extremamente inteligente em seu roteiro, Hotel Transilvania: Transformonstrão resolve o vilão do filme anterior (o estapafúrdio Van Helsing de Férias Monstruosas) que agora passa a ser uma espécie de aliado, já que Drac casou com a sua bisneta Ericka e todos moram juntos no Hotel. Até porque espaço físico nunca foi problema para juntar a família.
Em Transformonstrão, Drac está prestes a se aposentar e pretende deixar o hotel como herança para sua filha Mavis e seu genro, o humano Jonathan. Drac desiste da decisão e dá uma desculpa esfarrapada para Johnny, argumentando que o fato de ser humano impede que deixe o empreendimento para ele também. Johnny busca a ajuda de Val Helsing para se transformar em monstro. O problema é que a confusão acaba fazendo o efeito contrário nos monstros, que viram humanos. Em busca do antídoto para a trabalhada, Johnny e Drac viajam para a floresta na região amazônica da América do Sul para encontrar a pedra preciosa que poderia reverter a transformação.
Interessante ver que Drac sai do lugar de protagonista e vira antagonista, e Johnny, um personagem bem secundário em todas as outras obras da sequência, se torna o protagonista neste quarto filme. Uma inversão ousada e que abre espaço para a continuidade da franquia explorando outros personagens.
Sem perder o tom divertido e usando o melhor possível do alívio cômico de toda a turma de monstros, o filme se concentra nessa dualidade entre Johnny e Drac, trazendo de volta assuntos como o preconceito contra o diferente, respeito e a importância de se sentir seguro em família. A transição empresarial de um negócio de família vira o pano de fundo para tratar assuntos profundos como a aceitação e a não necessidade de uma conversão forçada para fazer parte de um grupo.
Valores importantes para adultos e crianças que, desta vez, não vão lotar os cinemas mas sim aumentar a busca pelo filme que conta com uma campanha poderosa de marketing da Amazon Prime Video e Sony. As duas somaram forças monstruosas para transformar este quarto filme em um sucesso do mundo do streaming. Ao final, é claro, a porta do Hotel fica aberta para um quinto filme, porque a Sony não é besta.