Documentário traz história real impactante e intimista
Uma das melhores coisas do Oscar é que podemos conhecer filmes que normalmente não chegam no circuito de cinemas brasileiros. Um desses casos é Honeyland, o documentário da Macedônia que está indicado a Melhor Filme Estrangeiro e Melhor Documentário Longa.
Honeyland conta a história de Hatidze Muratova uma apicultora que vive isolada da civilização com sua mãe idosa nas montanhas da Macedônia. A sua vida acaba mudando quando uma família de nômades se muda para seu lado e começa a influenciar o seu dia-a-dia.
Esse é um daqueles documentários que possui uma narrativa tão cinematográfica que você fica se perguntando se aquilo é real. Nós temos heróis, vilões, viradas de roteiro e clímax tão bem apresentados que nem mesmo obras de ficção poderiam nos entregar. Mas ao pesquisar sobre o filme, descobri que os diretores Tamara Kotevska e Ljubomir Stefanov tiveram mais de 400 horas de filmagem distribuídos durante 3 anos. Com esse tanto de material, a edição pode contar quase qualquer história que eles quisessem.
E que narrativa! O tipo de câmera usada é aquela que não influencia no que está acontecendo. Os personagens fazem suas ações e conversam como se não tivesse ninguém os filmando ali. Em certos momentos, os “vilões” do filme fazem ações tão absurdas que você fica se perguntando se eles não se preocupam se tem uma câmera próximo. Mas aí que você percebe que aquelas pessoas não são ruins de verdade, e que eles não acham que nada daquilo é errado. Para eles, são ações completamente normais. E é aí que está um dos principais pontos do filme.
Os diretores falaram em entrevistas que a protagonista é uma pessoa muito extrovertida que queria contar sua história para o mundo. Isso melhora um pouco o fato de que a câmera, em certos momentos, invade a privacidade dela em situações bem íntimas emocionalmente. O que me faz questionar a ética dos documentaristas que se intrometem na vida das pessoas e acabam influenciando aquilo de alguma forma.
Tal como o documentário Free Solo (2018), Honeyland traz uma fotografia fantástica que mostra os seres humanos pequenos perto da grandiosidade da natureza. Existem cenas belíssimas abertas ao ar livre, que servem para mostrar a solidão de Hatidze perante à natureza. Mas, ao mesmo tempo, temos planos bem fechados e intimistas que trazem aspectos mais pessoais e comportamentais dos personagens. São escolhas bem diferentes no mesmo filme para passar mensagens conflitantes e ajudar a narrativa a ficar mais complexa.
No final, Honeyland é um documentário que fala muito sobre a relação do ser humano com a natureza. Ele fala como devemos respeitar a ordem natural das coisas e entender quais são os seus limites para com a natureza e para com outros seres humanos. Em uma cena icônica, Hatidze ensina a um pequena criança a importância de pegar somente a metade do mel das abelhas e deixar o resto, como uma forma de tirar, mas também de oferecer. As grandes corporações e países têm muito que aprender com isso.