Fortnite, Free Fire e PUBG. Caso não esteja familiarizado com esses nomes, sem problemas. Basta saber que são alguns dos jogos mais amados ao redor do mundo e fonte de renda para vários jogadores profissionais. Também são algumas das inspirações por trás de Free Guy: Assumindo o Controle, nova comédia de ação estrelada por Ryan Reynolds. E isso vai além da temática, carregando também o excesso de informações em tela que esses games entregam. Acontece muita coisa ao mesmo tempo e você pode se sentir perdido em determinado momento. Porém, essa é uma bagunça bastante divertida.
Em Free Guy: Assumindo o Controle, conhecemos Guy (Ryan Reynolds), um simpático caixa de banco que possui uma rotina sagrada: acorda, toma café da manhã e vai trabalhar. Entre um assalto e outro, ele conhece Molotovgirl (Jodie Comer) e descobre que é um NPC de um popular jogo eletrônico. Agora, ele precisa lutar por amor e para salvar o mundo em que vive. Apesar da execução inconstante, a premissa da trama é interessante. É como uma mistura de Uma Aventura Lego e Jogador Nº 1, dadas as devidas proporções. Temos o personagem comum que precisa virar um herói e uma extensa lista de referências, aqui mais voltadas aos games. Pelo menos o resultado é bem melhor que o intragável Pixels de Adam Sandler.
Marcado por vários filmes de comédia, o diretor Shawn Levy sabe como conduzir a jornada da maneira mais engraçada possível. Enquanto o espectador comum se conecta ao personagem de Reynolds, Levy aproveita para brincar com as inúmeras possibilidades que só um jogo eletrônico pode fornecer. Coisas explodem, pessoas são atacadas, lojas são assaltadas etc. É como um GTA sem tanta violência gráfica. A direção aproveita bem o talento do elenco e o timing cômico do protagonista para entregar piadas nos momentos certos. Não tem problema se não pegar as referências, Free Guy ainda vai te fazer rir de alguma forma. Destaque também para as boas cenas de ação, que alternam entre a visão do público e dos jogadores dentro do filme.
No entanto, toda essa energia fica difícil de ser contida em determinados momentos. Um problema estrutural no roteiro escrito por Matt Lieberman e Zak Penn, que aborda subtramas não tão interessantes. Enquanto Guy vira um herói, no mundo real os amigos Millie e Keys (Joe Keery) precisam lutar para provar que seu jogo foi roubado pelo vilanesco Antwan (Taika Waititi), que é presidente da Soonami (entenderam né?) e desenvolvedor do jogo Free City. No meio disso, o texto levanta questões sobre ética empresarial, a forma como lidamos com os jogos eletrônicos, condições de trabalho nas grandes empresas do ramo e a busca por nossa individualidade. Tudo isso sem o desenvolvimento necessário.
Não quero ser tão ranzinza sobre uma comédia de ação claramente escapista, mas esses detalhes ofuscam boa parte do charme do longa. Além de tornar alguns conceitos bastante repetitivos. Ainda sim, Free Guy recupera o ritmo nos momentos importantes. O elenco inspirado impede que o filme sucumba diante de suas próprias ideias, mantendo a atenção do espectador. Ryan Reynolds entrega um Deadpool com boas maneiras, o que é hilário. Ele sabe como fazer esse tipo de personagem. Mas é Jodie Comer quem realmente brilha, seja dentro do jogo ou no mundo real. Ela convence como uma mulher perigosa, armada até os dentes, e como uma programadora genial e sensível, que luta para recuperar seu sonho. Quem não brilha tanto é Taika Waititi, tendo que viver um vilão extremamente genérico.
Apesar dos problemas, Free Guy: Assumindo o Controle ainda é uma experiência divertida. Em tempos onde cada vez mais nos conectamos para fugir do mundo real, é interessante fazer o caminho inverso ao menos uma vez. Na melhor das hipóteses, você não terá que lidar com problemas de internet, xingamentos gratuitos e machismo.