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Entre Facas e Segredos (Knives Out) | Crítica sem spoilers

Dois anos após polêmico Star Wars, Rian Johnson entrega um trabalho elogiável que homenageia e moderniza Agatha Christie

O mundo dá voltas, apesar do que pensam os terraplanistas. Após um bom tempo sofrendo (ou não) com as críticas pelo seu polêmico Star Wars: Os Últimos Jedi (2017), o diretor Rian Johnson se redime de qualquer eventual mancada com o ótimo Entre Facas e Segredos (Knives Out), longa que aproxima uma trama investigativa para um contexto familiar e geopolítico, lançando mão de um elenco primoroso.

O filme aborda a misteriosa morte do romancista Harlan Thrombey (Christopher Plummer), encontrado morto logo após seu aniversário de 85 anos. Junto com a investigação das autoridades, é contratado o detetive particular Benoit Blanc (Daniel Craig). Sua presença faz com que seja levantada a dúvida sobre um possível assassinato, algo difícil de ser desvendado devido à festa realizada com a presença de todos os familiares de Harlan, como seus filhos Walt (Michael Shannon) e Linda (Jamie Lee Curtis), além de seus netos Ransom (Chris Evans) e Meg (Katherine Langford).

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Daniel Craig em pôster de Entre Facas e Segredos

Promessa é dívida

O grande diferencial nessa história, que se propõe a ser uma espécie de romance de Agatha Christie modernizada, é conseguir de fato cumprir sua promessa. Para perceber isso, no entanto, quem for assistir deve estar ciente da conjectura política atual dos EUA (principalmente na questão migratória), além de modo histórico como a classe média-alta estadunidense enxerga os países da América do Sul, incluindo o nosso Brasil.

Outras sacadas do texto ajudam a complexar o filme, dando ainda mais sub texto ao mesmo. Como no caso da herança deixada por Harlan, onde as revelações sobre quem fica com o que rendem cenas hilárias, mas que também ajudam a revelar como pessoas aparentemente boas podem acabar se traindo diante de assuntos delicados como dinheiro. Um grande exemplo disso é Meg, a personagem de Katherine Langford.

Desse modo, é o roteiro que consegue levar Entre Facas e Segredos para além do óbvio. Bem estruturado, Brian Johnson faz também uma divertida brincadeira de esconde-esconde com o espectador e trabalha com habilidade a relação de expectativa e entrega. É nesse momento que o diretor consegue aproximar seu projeto com os romances de Agatha Christie.

Cada personagem consegue imprimir uma faceta diferente e ao mesmo tempo interessante da nossa sociedade como um todo. Então é muito satisfatório ver que o estrelado elenco do filme é usado de modo inteligente, respeitando suas características individuais.

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Ana de Armas e Katherine Langford em cena do filme

Um parágrafo especial precisa ser dedicado a Chris Evans, que, apesar de chegar desacreditado a um grande papel como o de Capitão América anos atrás (com certa justiça, afinal, ele nunca foi um grande ator) ele vem de uma curva crescente de qualidade na carreira, aperfeiçoando seu lado super-herói enquanto participa de outros projetos de qualidade como O Expresso do Amanhã (2013, de Bong Joon-ho). Sua participação aqui é digna de elogios, deixando pouco a desejar em relação a outros grandes atores e atrizes como Toni Collette e os já citados Michael Shannon, Daniel Craig, Jamie Lee Curtis e Christopher Plummer).

Mais uma que vale destaque é Ana de Armas que, além de possuir um nome estiloso, está muito bem em sua personagem, que não chega a demandar tanto de suas habilidades cênicas mas é daqueles casos onde a atriz encaixa perfeitamente no papel. Na história, ela vive Martha, a cuidadora particular do octogenário patriarca da família, cuidando de sua medicação.

É difícil abordar as grandes questões com muita profundidade sem entrar na indesejada zona de spoilers, mas Entre Facas e Segredos é um filmão. Desses pra você ir com a família e se divertir intensamente, tentando desvendar os mistérios da trama. Como um grande livro de Agatha Christie. Rian Johnson acertou em cheio.