O ano era 2007. Você estava ouvindo Linkin Park com seu cabelo emo, a Britney raspou a cabeça e estreava o primeiro filme de Borat. O polêmico longa criticava o modo de vida americano e principalmente o preconceito contra pessoas do oriente médio, numa espécie de ficção e documentário com cenas no melhor estilo pegadinhas do Ivo Holanda. Mas em 2020, ano de COVID e governo Trump, Borat ainda é relevante?
No segundo filme, Sacha Baron Cohen retorna com o agora mais famoso repórter do Cazaquistão. Seu objetivo agora é dar um presente para o vice-presidente de Trump. Nessa nova aventura, ele vai contar com a ajuda de sua filha Tutar, interpretada pela ótima Maria Bakalova. Um aspecto interessante da narrativa é que ele leva em consideração que Borat ficou muito famoso por causa do primeiro filme. Agora ele precisa ficar constantemente se fantasiando de outras pessoas para passar desapercebido.
No primeiro filme, a temática principal era a islamofobia provinda das políticas Bush pós 11 de setembro. O mundo mudou muito desde aquela época e felizmente o longa também atualizou suas temáticas. Aqui, o foco é a loucura que os EUA se tornaram no governo Trump. Além disso, também existem várias discussões sobre feminismo e direitos das mulheres. Essa segunda discussão acaba sendo a mais interessante pelo arco narrativo simplório mas eficiente de Borat com sua filha. A atriz Maria Bakalova inclusive é a maior surpresa do longa.
A personagem filha de Borat protagoniza os momentos mais vergonha alheia e escandalosos do filme. As situações vão desde falar sobre aborto com um fundamentalista cristão até uma reportagem muito esquisita com Rudi Giuliani, o maior apoiador de Trump. A dualidade de como o filme mostra ao mesmo tempo a liberdade e cerceamento de direitos das mulheres nos EUA é genial. Tutar percebe que nos Estados Unidos as mulheres possuem mais direitos do que no Cazaquistão ficcional do longa. Mas, ao mesmo tempo, diversas contradições são apresentadas com as pessoas conservadoras reais do filme que mais parecem personagens de tão caricatos.
Uma outra preocupação muito interessante do longa é nunca apontar o dedo no cidadão comum. O que vemos ali são pessoas ignorantes que acabam acreditando em mentiras de pessoas mais poderosas. Cohen até fala sobre isso com dois malucos por teoria da conspiração com quem viveu durante 5 dias durante a quarentena. Por falar nisso, o longa também aborda os EUA durante as primeiras semanas de pandemia e o que os apoiadores do Trump acham disso.
Apesar de falar muito dos costumes e política dos EUA, Borat 2: Fita de Cinema Seguinte é importantíssimo para todo o mundo. Em menos de 5 minutos de filme, inclusive, temos a aparição de Bolsonaro em uma piada tão simples mas que tive que pausar pra conter o riso. As políticas americanas imperialistas fazem com que seja de extrema importância entendermos o que acontece lá, pois ela ressoa em diversos países. Além disso, diversas situações do filme poderiam facilmente acontecer no Brasil. É um filme bobo em diversos momentos e até um pouco problemático pela forma como trata alguns assuntos. Claro que alguns momentos não são tão reais assim e existe muita edição, mas essa mistura de ficção com realidade é o que dá o charme para a produção, que está disponível exclusivamente no Amazon Prime Video.