Enquanto Golden State Warriors e Boston Celtics se enfrentavam pelas finais da NBA, a Netflix disponibilizou em seu catálogo o longa Arremessando Alto. Novo fruto da parceria entre o serviço de streaming e a produtora Happy Maddison, o filme entra para a lista de produções que comprovam que Adam Sandler, além de gênio da comédia, possui um ótimo viés dramático. Além disso, funciona como uma declaração de amor do ator ao esporte que tanto esteve presente em seus trabalhos passados. De longe, Sandler é uma das celebridades mais ligadas ao basquete e isso fica claro no time de estrelas que ele reúne para contar mais uma história de superação esportiva.
Na trama, conhecemos Stanley Sugerman (Adam Sandler) um experiente olheiro da NBA que trabalha para o Philadelphia 76ers. Cansado da rotina de viagens e da distância da família, Sugerman sonha com uma vaga de auxiliar técnico no time. Quando o novo dono do franquia Vince Merrick (Ben Foster) exige uma super estrela para a equipe, Sugerman cruza seu caminho com Bo Cruz (Juancho Hernangomez). Para termos de comparação, Arremessando Alto é uma espécie de Rocky – O Lutador do basquete. E não digo isso apenas pelo clichê do azarão talentoso que supera os limites, mas pelas duas produções compartilharem as ruas da Filadélfia. Esses elementos urbanos facilitam a integração do espectador que não possui conhecimento do esporte e da relação da população com o time do coração.
O roteiro escrito por Taylor Materne e Will Fetters investe toda a carga dramática do texto na relação entre Sugerman e Bo, já que o desenvolvimento dos personagens secundários é extremamente raso. Entre sequências de treinos e diálogos sobre ambição e sonho, os personagens precisam enfrentar os desafios que surgem no caminho. É a parceria entre eles que mantém o espectador envolvido emocionalmente na trama, algo comum em produções desse tipo. E inegavelmente eficiente, dado o sucesso de longas focados em outras modalidades esportivas como futebol, luta e etc.
Ainda na cartilha dos clichês, temos aqui o chefe inescrupuloso, o rival de moral discutível, a queda e redenção do protagonista, o mentor desacreditado que aposta tudo num jovem promissor e por aí vai. Por sorte, e talento dos envolvidos, Arremessando Alto consegue se manter interessante mesmo diante dessas conveniências narrativas. A duração do longa poderia ser reduzida, o que teria evitado o inchaço da história e repetição de determinadas situações.
O calcanhar de Aquiles de produções esportivas costuma surgir no momento de representar as lutas ou partidas. A direção de Jeremiah Zagar consegue se manter firme diante dessa questão, com sua câmera passeando pela quadra enquanto captura jogadas e situações cruciais dos jogos. Isso funciona também pela curiosa escolha de colocar atletas profissionais para atuar no longa. Juancho Hernangomez é jogador do Utah Jazz, enquanto Anthony Edwards é o jovem astro do Minnesota Timberwolves. Além deles, diversos nomes famosos desfilam pela tela como Shaquille O’Neal, Charles Barkley e tantos outros. Um prato cheio para os fãs inveterados da NBA.
A opção por transmitir uma sensação de realismo para as partidas acaba sacrificando a qualidade das atuações, tendo em vista que estamos diante de atletas profissionais e figurões da liga. Logo, tudo fica nas mãos de Adam Sandler. Bem menos alterado do que seu personagem em Joias Brutas, que curiosamente lida com basquete, aqui ele equilibra bem humor e drama como um homem que sabe tirar sarro de sua condição e que luta pelo seu lugar ao sol. Pode não ser seu papel mais marcante, mas ele é o centro gravitacional do filme.
Arremessando Alto possui um roteiro simples, pautado no discurso motivacional de que talento sem esforço não significa nada. Não reinventa a roda dos filmes esportivos e nem possui tal ambição. Na verdade, funciona como um paralelo para a carreira do próprio Adam Sandler, que sempre ressurge quando todos duvidam de sua capacidade. E convenhamos, deve ser bom ter a condição de fazer um filme sobre seu esporte favorito só porque deu vontade.