Filmes com temática de fim do mundo já não são uma novidade. Monstros gigantes, zumbis, aliens, meteoros etc. Todo tipo de ameaça possível para a humanidade já foi explorada no cinema. Um caminho para se destacar no meio da multidão é tentar fazer algo diferente, como uma paródia. Zumbilândia fez isso com sucesso, apenas para pegar um exemplo recente. Amor e Monstros, adicionado essa semana ao catálogo da Netflix, tem muito do espírito do longa estrelado por Jesse Einsenberg, Emma Stone e outros nomes de peso. Mas com personalidade própria, evitando o rótulo de paródia elevada ao quadrado.
Lançado ano passado nos EUA, o longa acompanha o jovem Joel (Dylan O’Brien) vivendo em um mundo dominado por animais gigantes, onde a população restante precisa se esconder em abrigos subterrâneos. Longe de ser um herói, Joel passa os dias cozinhando e consertando o rádio da colônia onde mora. Cansado de viver sozinho no meio de vários casais, ele decide caminhar centenas de quilômetros para encontrar sua antiga namorada Aimee (Jessica Henwick). Desse ponto, Amor e Monstros constrói uma divertida e cativante jornada num cenário distópico. Flertando com diversos gêneros enquanto entrega um desenvolvimento satisfatório de seu protagonista.
O principal ponto positivo está na agilidade do roteiro para situar o espectador nessa realidade. Em poucos minutos, entendemos como o mundo ficou desse jeito e o perigo que os monstros representam. Alguns flashbacks são utilizados apenas para que possamos compreender certos traumas de Joel. Dessa forma, a história pode se concentrar na jornada do protagonista e na apresentação dos detalhes do cenário. Temos aqui uma aventura clássica, com Joel encontrando um cachorro chamado Boy e, depois, uma dupla de sobreviventes formada por Clyde (Michael Rooker) e Minnow (Ariana Greenblatt). Esses elementos tornam a sobrevivência do personagem de O’Brien em algo mais palpável.
A boa utilização dos clichês do gênero resulta em um certo frescor narrativo, fazendo com que o público mantenha o encanto e a atenção pela história e, especialmente, pelo protagonista. Outro destaque está no uso de efeitos práticos e digitais, o que fornece a cada criatura um design único. A indicação ao Oscar nessa categoria é totalmente justificada. Em filmes desse tipo, o ambiente precisa ser um elemento vivo e Amor e Monstros entende isso muito bem.
Apenas em seu segundo trabalho, o diretor sul-africano Michael Matthews mostra talento para intercalar momentos de leveza e situações de tensão, gerando um equilíbrio importante para o filme. O carisma de Dylan O’Brien também é essencial. Ele convence como o cara atrapalhado, mas de bom coração. Seu jeito amável fisga o carinho do espectador e sua fisicalidade é bem utilizada nas cenas de ação. Mesmo já batida, a percepção de que a principal lição da jornada é aprendida durante o caminho e não no ponto de chegada funciona muito bem para a proposta do longa.
O final deixa escancarada a possibilidade de uma continuação, o que incomoda um pouco. De toda forma, Amor e Monstros é um filme simples e divertido. Curiosamente, uma experiência revigorante diante de um apocalipse. Algo que de certa forma estamos precisando ultimamente.