E lá se vão quase três anos após o primeiro Guardiões da Galáxia. O filme de 2014 dirigido por James Gunn trouxe, ao seu modo, uma boa dose de inovação aos comic movies, principalmente por seus personagens marginalizados e carismáticos que decidem ser uma equipe em certo ponto da trama. Aliado ao saudosismo da década de 1980 (na trilha, figurino, diálogos e acessórios) e o fator azarão (pertenciam ao terceiro escalão nas HQs), era criada assim uma nova receita de sucesso na Marvel Studios, influenciando inclusive a concorrência (abraços, Esquadrão Suicida!). O resultado de Guardiões da Galáxia Vol. 2 é igualmente empolgante em relação ao primeiro, mas com suas devidas diferenças.
A trama gira em torno da chegada de Ego (Kurt Russell, mais sacana do que nunca), pai de Peter Quill (Chris Pratt), enquanto os Guardiões da Galáxia fogem de uma missão mal sucedida a serviço dos Soberanos, uma raça super desenvolvida sob o comando de Ayesha (Elizabeth Debicki). Enquanto descobrem mais sobre Ego, ao mesmo tempo eles terão que lidar com a família recém formada e cada vez mais desentendida.
Logo de cara, o maior desafio de Guardiões da Galáxia Vol. 2 é também seu maior trunfo. Se em 2014 James Gunn se beneficiou por ninguém criar expectativas exageradas sobre seu trabalho, em 2017 ele pôde se dar a liberdade de repetir (mas não copiar) diversos elementos já utilizados, pois se tornaram marca registrada dessa subfranquia da Marvel. Então nada mais justo do que esperar as piadas que tanto atrapalham os filmes mais sérios como Homem de Ferro 3, cores de encher os olhos e fofices do Baby Groot, além das sacadas geniais do diretor.
Já sabíamos que a equipe enfrentaria aquela criatura gigantesca na abertura do filme, mas a originalidade da cena, mostrando Groot enquanto a pancadaria rola em segundo plano, remete à dança usada para distrair Ronan no primeiro Guardiões da Galáxia. Outro upgrade é no aspecto musical, que está ainda melhor aqui, onde cada canção ajudou na elaboração das cenas, como é o caso de The Chain (Fleetwood Mac) e Brandy, a música personagem (saiba mais aqui).
O equilíbrio de tempo para cada personagem é perfeito. Drax (Dave Bautista) está insano e engraçadíssimo, fazendo interessante par com Mantis (Pom Klementieff) e Rocky (dublado por Bradley Cooper) termina o filme com forte carga emocional. Emoção, aliás, é o que não falta no filme de James Gunn. O destino de Yondu (Michael Rooker) é tocante, culminando com uma bela exibição de fogos de artifício espacial. Seu elo com Peter Quill e Ego ganha bastante destaque, valorizando inclusive o primeiro filme quando tratamos das motivações do personagem.
Havia uma curiosidade pertinente sobre a participação de Sylvester Stallone, que dá vida a Stakar. O visual do personagem, em relação aos quadrinhos e até da própria estética do filme, pode ser consideração um tanto conservador, e seu importância dá margem para algumas possibilidades em Guardiões da Galáxia Vol. 3. Surpreendente, para quem acreditava que sua passagem seria modesta pelo cosmo da Marvel. O que ganhamos junto com sua presença é nada menos do que as versões alternativas dos Guardiões, um deleite de personagens e easter eggs, como Martinex e Charlie-27.
Apesar do bem vindo desenvolvimento da relação entre Gamora e Nebulosa (Karen Gillan), a promessa de James Gunn em dar mais destaque à personagem de Zoe Saldana se limitou a isso. Pelo envolvimento das duas com Thanos, vilão que deve abalar as estruturas do universo Marvel a partir de 2018 com Vingadores: Guerra Infinita, podemos afirmar que durante o filme esse é o maior elo com o resto do MCU, o que compensa essa falha e ao mesmo tempo abre possibilidade para projeções e conjecturas. Mas a preocupação maior de Gunn é estabelecer e expandir uma vertente cósmica alheia aos acontecimentos na Terra. Nesse sentido, o sucesso também é inegável.
Ps: As cenas pós créditos estão excelentes, seja pelo tom engraçado ou por entregar o que muitos esperam há tempos nos filmes da Marvel: Adam Warlock!