As chances desse O Rei Leão decepcionar os marmanjos é enorme. Já as crianças…
Depois do sucesso de Mogli – O Menino Lobo (versão adaptada em live action da leitura Disney de O Livro da Selva) parecia um tanto óbvio que a Casa do Mickey seguisse um novo tipo de produção: relançar clássicos da animação produzidos por ela mesma há décadas atrás nessa roupagem mais realista. O filme dirigido por Jon Favreau agradou muito mais do que desagradou: ótima bilheteria beirando a casa do bilhão de dólares e pouco negativismo da crítica especializada (pegaram leve até com a fraca atuação de Neel Sethi, ator protagonista). E muitos elogios à parte visual.
Jon Favreau construiu seu nome de forma interessante no meio cinematográfico. Atuando basicamente em comédias, surpreendeu como diretor e nerd ao bancar Robert Downey Jr em Homem de Ferro. Comandou também o segundo filme.
Eis que ficamos sabendo que Favreau também cuidará de uma versão nos mesmos moldes para O Rei Leão, um dos maiores ícones Disney nos cinemas. Filme que já rendeu continuações, séries de TV, derivados (Timão e Pumba!), musicais e (o mais importante para os executivos) uma fortuna em produtos licenciados, que é o grande player nessa indústria do cinema comercial.
A responsabilidade será muito maior dessa vez.
A tendencia é que os marmanjos se decepcionem. Assim como em Mógli, nossa memória tende a não aceitar tão facilmente assim algo que mexa com nossos sentimentos e remeta ao passado, a tal da memória afetiva. Somado a isso temos o fator remake, algo perigoso. Dá pra contar nos dedos os remakes que deram certo, e geralmente são inspirados em filmes originalmente desconhecidos como no caso de Scarface e Os Infiltrados, por exemplo. Outro fator de risco é o mundo expandido de O Rei Leão, onde nenhuma continuação fez grande sucesso, tampouco entregou uma história memorável. Sendo bem direto: esse filme é tão bom no coração dos mais velhos que não precisa de algo novo.
Por outro lado, já faz 22 anos que O Rei Leão deu suas rugidas no cinema e, por mais desesperador que seja descobrir que estamos envelhecendo, mais e mais crianças surgem no mundo demandando conteúdo. Vai ser interessante observarmos como esse público irá lidar com algo tão especial para os mais velhos. Uma boa notícia é a manutenção da trilha sonora original (estratégia usada também com o novo A Bela e a Fera), indicativo de que a Disney está de fato preocupada em manter a essência do seu produto original. Se conseguir se manter fiel, vai arrecadar bilhões.
Parece que há um novo pote de ouro encontrado pela Disney nesse concorrido mundo do entretenimento (Favreau já está confirmado para a continuação de Mogli), onde a memória afetiva deve dividir (mais uma vez) a opinião do público. As crianças agradecem, já os adultos precisam se conformar.