O movimento Blaxploitation e o nascimento de Luke Cage

Atualmente, discursos como o de Viola Davis durante o Emmy 2015, que pedia por mais oportunidades para atores e atrizes negras ganham repercussão e viram motivos de discussão dentro da cultura pop. Surgem listas, matérias especiais e o mais variado tipo de material para exaltar esse apelo e apontar a necessidade de que o cenário mude drasticamente. Acontece que esse espaço nem sempre esteve disponível. Foram décadas e décadas de exclusão da cultura negra dos grandes polos de entretenimento. Eis que nos anos 70 surgiu um movimento que tinha como objetivo mostrar, principalmente para Hollywood, que os negros poderiam ser muito mais do que meros coadjuvantes da indústria. Nascia o Blaxploitation.

Com diretores e atores negros comandando as produções, o Blaxploitation tinha como principal público-alvo os negros norte-americanos. Mas a linguagem era tão ampla que não demorou muito para se infiltrar em várias outras camadas da sociedade. Saem os papeis menores e entram os protagonismos. Mas não bastava apenas ser a principal estrela de um filme, era necessário criticar o sistema, tirar sarro, ser violento, cutucar a ferida de várias formas.

Entre os termos mais utilizados para explicar o movimento, estava o “atrevimento”. Um negro colocar os pés na mesa de um policial era algo inimaginável para o cenário cultural da época. Era com isso em mente que os filmes mostravam para todo mundo que já estava passando da hora de as coisas mudarem. Mesmo alternando entre ótimas e péssimas produções, a mensagem era basicamente a mesma.

Nomes como Richard Roundtree, Melvin Van Peebles, Tamara Dobson e Pam Grier tornaram-se os rostos do Blaxploitation. Sensuais, destemidos, atuando sempre entre a lei e marginalidade. Com seu próprio jeito de falar e se vestir, com sua própria música (as trilhas sonoras eram um elemento marcante). Entre 1970 e 1979 não faltaram exemplares do movimento. Apesar de que o auge durou mesmo até 1975. Foi curto, de fato, mas poderoso o suficiente para deixar uma marca na história de Hollywood.

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Filmes como Cleopatra Jones, Foxy Brown, Super Fly e Coffy são excelentes exemplares do que o movimento representa, tanto que estão situados em sua época de ouro. Mas o campeão de popularidade – e bilheteria – foi Shaft. Estrelado por Richard Roundtree, o longa foi um dos primeiros lançados no início do Blaxploitation (ao lado de Sweet Sweetback’s Baadasssss). Além de ter tido, de forma consciente, um investimento direto de Hollywood que estava buscando lucrar com a demanda de negros nas salas de cinema. Mas não se engane, o dinheiro injetado não apagou a identidade da filme. Shaft ainda ganhou duas continuações e um remake (estrelado por Samuel L. Jackson). Mas todos passaram longe da genialidade do original.

Tudo isso contribuiu para o nascimento de um dos personagens mais carismáticos das histórias em quadrinhos: Luke Cage. Em 1972, quando o Blaxploitation ainda dava os primeiros passos, a Marvel enxergou um ótima oportunidade para atrair mais leitores. Foi aí que Archie Goodwin, John Romita e George Tuska se reuniram para idealizar um dos primeiros super-heróis negros a estrelar sua própria HQ. Luke Cage carregava todos os elementos dos filmes do gênero.

E tornou-se também um símbolo para a época. Um negro, super forte e com a pele à prova de balas tinha um significado imenso. Algo que é perfeitamente citado no décimo segundo episódio da série da Netflix, no rap Bulletproof Love, cantado pelo icônico Method Man. Curiosamente, na criação de Luke Cage apenas um quadrinista negro estava envolvido: Billy Graham. Ele foi artefinalista da primeira edição e tempos depois assumiu os traços das histórias.

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Porém, apesar de todo o seu conteúdo e importância, o Blaxploitation não foi visto com bons olhos pela crítica da época. Outros movimentos negros, mais tradicionais, também não apoiaram a abordagem agressiva dos filmes. Alinhado a outros fatores, o gênero acabou encontrando seu fim. Ainda assim deixou vários frutos para as épocas seguintes. Luke Cage é um desse frutos e sua série solo já está disponível na Netflix.

Fiquem ligados no CosmoNerd para conferir outras matérias especiais sobre Luke Cage 😉