Alguns anos atrás, parecia loucura apontar que Tom Ford – mais conhecido por seu excepcional trabalho no mundo da moda – despontaria como um dos diretores mais interessantes do cenário hollywoodiano. Mas Animais Noturnos (apenas o segundo filme de sua carreira) mostra uma clara evolução e amadurecimento de sua habilidades.
Utilizando de seus conhecimentos estéticos, Tom Ford constrói um filme belíssimo, de fotografia impecável. Passeando pelos cenários mais variados da arte, o longa apresenta uma aquarela de momentos grotescos, impactantes e capazes de prender a atenção do público até o último instante. Mas engana-se quem acredita que Animais Noturnos não passa de um mero “ensaio de moda” de Tom.
Existe uma trama bem construída, de certa forma até ousada para alguém com pouca experiência no ramo. O drama acompanha uma curadora de arte bem-sucedida (Amy Adams), que se vê infeliz no casamento e no trabalho. Quando recebe um manuscrito de seu ex-marido (Jake Gyllenhaal), ela começa a transitar por períodos diversos de sua vida. Contemplando o peso de cada escolha ruim, analisando os caminhos que a levaram até aquele momento.
Baseado no livro “Tony and Susan”, de Austin Wright, Animais Noturnos vai desabrochando suas inúmeras camadas, compostas por momentos do passado, presente e até mesmo da ficção. Todos interligados e com funções bem definidas, construindo de maneira eficiente a personalidade de cada personagem.
Mas de todos esse segmentos, é a “história dentro da história” que realmente se destaca. Animais Noturnos também é o título do livro escrito por Gyllenhaal, um thriller psicológico e carregado de uma tensão lancinante. Uma clara metáfora do relacionamento dos personagens principias, que toca em pontos como amor, traição e vingança. Nada está ali por acaso, tudo voltado para a construção do cenário principal.
O elenco de Animais Noturnos faz a diferença
Além do roteiro e da direção de Tom Ford, o longa encontra forças na atuação de seu estrelado elenco. Jake Gyllenhaal continua sua caminhada rumo ao Oscar, em um papel que lhe permite explorar as nuances de seu talento. Amy Adams brilha, com seus momentos contemplativos e frágeis. Mas o coração de tudo reside em Aaron Taylor-Johnson (indicado ao Globo de Ouro) e Michael Shannon.
Ambos entregam um trabalho visceral, banhados por sangue e areia das estradas texanas. Um maníaco sem alma e um policial que está contando os dias para morrer. A melhor combinação apresentada durante todo o filme e que torna o cenário da ficção o mais atraente de todos.
Apesar de alguns deslizes, especialmente nos diálogos, Animais Noturnos é um trabalho consistente de Tom Ford. Tanto que também lhe rendeu indicações ao Globo de Ouro: Melhor Diretor e Melhor Roteiro. Com a concorrência acirrada, não é possível cravar se o veremos na briga pelo Oscar, mas isso não importa. O grande prêmio aqui é poder acompanhar o crescimento de um ótimo diretor.