Com AURA de Seven e Os Suspeitos, este thriller subestimado e de ótimo elenco chega na Netflix

A chegada de Os Pequenos Vestígios ao catálogo da Netflix reacende uma discussão sobre um tipo de thriller policial que marcou os anos 1990, período em que narrativas sombrias sobre assassinos em série dominaram o cinema. Dirigido e roteirizado por John Lee Hancock, o filme estrelado por Denzel Washington, Rami Malek e Jared Leto revisita esse formato com uma trama sobre obsessão, trauma e os limites morais que acompanham uma investigação marcada por dúvidas. Confira a crítica do filme com AURA de produções como Seven e Os Suspeitos.

Ambientado em 1990, o longa apresenta Joe Deacon, interpretado por Washington, um ex-detetive de Los Angeles que agora trabalha como patrulheiro em Bakersfield. Afastado após um caso brutal que destruiu seu casamento e sua saúde, ele vive atormentado por erros do passado. Durante uma ida à antiga delegacia para coletar evidências, Deacon cruza com seu substituto, Jim Baxter, vivido por Malek, que investiga uma série de assassinatos de jovens mulheres em circunstâncias que lembram o clima instaurado pelo Night Stalker.

Baxter percebe rapidamente que Deacon conhece detalhes que podem ajudar a solucionar o caso e, mesmo contra orientações superiores, aproxima-se do veterano. Essa parceria informal aponta para um suspeito: Albert Sparma, papel de Jared Leto, um homem solitário que demonstra comportamento provocativo e fascinação evidente pelos crimes. A partir daí, o filme se transforma em um jogo psicológico entre detetives exaustos e um suspeito que parece manipular cada interação.

Os Pequenos Vestígios trabalha a tensão visual com uma cinematografia que utiliza luz e sombra para ampliar o clima de paranoia. O filme reforça constantemente a sensação de que os personagens carregam traumas não resolvidos, especialmente Deacon, que vê aparições das vítimas e revê mentalmente cada decisão tomada ao longo da carreira. A figura desse detetive marcado pelo passado ajuda a conectar o longa a clássicos do gênero, ainda que Hancock adote uma estrutura mais contida.

A atuação de Denzel Washington sustenta a maior parte da força dramática do filme. Ele constrói um Deacon silencioso, desgastado, mas atento a cada pista. Sua presença contrasta com a abordagem mais excêntrica de Malek e o desempenho intensificado de Leto, que incorpora um antagonista imprevisível. Essa diferença de tom entre o trio, porém, reforça o descompasso do filme, que por vezes parece oscilar entre estilos narrativos distintos.

Os Pequenos Vestígios (The Little Things, 2021) - Crítica do filme que chega na Netflix

A investigação avança de forma inicial eficiente, mas perde foco à medida que Baxter começa a repetir os padrões destrutivos que arruinaram a vida de Deacon. O roteiro amplifica a ideia de que a obsessão pelo fechamento de um caso pode consumir até os policiais mais disciplinados. Quando o filme chega ao último ato, aposta em escolhas dramáticas que dividem opiniões, especialmente por priorizar o impacto emocional em detrimento da lógica investigativa.

Crítica: vale à pena assistir Os Pequenos Vestígios na Netflix?

No fim, Os Pequenos Vestígios se revela menos sobre a identidade do assassino e mais sobre o desgaste psicológico dos homens que tentam entender o horror que investigam. Mesmo com falhas estruturais, o longa oferece um retrato de duas carreiras corroídas pela culpa e pela necessidade de encontrar respostas – ainda que elas nunca cheguem de forma completa.