O segundo episódio de Pluribus, intitulado “Moça Pirata”, amplia o universo criado por Vince Gilligan no AppleTV+ e aprofunda o impacto global do fenômeno que transformou a humanidade em uma consciência única. A trama começa no Oriente Médio, onde membros do chamado “Coletivo Unido” trabalham em operações de limpeza e reorganização. Uma mulher que faz parte desse grupo ajuda a retirar um corpo de um carro, sobe em uma motocicleta e, depois de pilotar um avião até Albuquerque, toma um banho enquanto outros integrantes se curvam para atendê-la — uma imagem simbólica da nova hierarquia psíquica do planeta. Confira o resumo de Moça Pirata, Episódio 2 da série:
Recapitulação do episódio 2 de Pluribus, série de Vince Gilligan
O luto de Carol e o surgimento de Zosia
Já se passaram pouco mais de 11 horas desde que o mundo passou a agir como um único organismo. Carol Sturka (Rhea Seehorn) desperta de um torpor alcoólico e encara o vazio deixado pela morte de Helen. Sozinha, ela cava o túmulo da parceira em meio ao calor intenso, observada por um drone militar. Quando uma vizinha se aproxima para oferecer água, Carol recusa o gesto e derrama o líquido no chão — um ato de resistência em meio à submissão coletiva.
A mulher que aparece diante dela se apresenta como Zosia, e Carol rapidamente percebe algo perturbador: Zosia é idêntica à personagem de seu livro, Raban, embora em versão masculina. Essa coincidência não é acidental. O Coletivo absorveu as memórias de Helen e, portanto, reproduz fragmentos da imaginação de Carol, misturando ficção e realidade.
Ao se irritar com Zosia e gritar na rua, Carol provoca uma reação em cadeia. Ela desmaia, e o Coletivo global entra em um breve estado de letargia. O colapso dura poucos minutos, mas resulta em milhões de mortes ao redor do mundo. A hostilidade emocional de Carol afeta toda a rede, revelando que sua individualidade é, de algum modo, uma ameaça direta à estrutura coletiva.
O reencontro dos não afetados
Quando recupera a consciência, Carol encontra uma escavadeira entregue por helicóptero para ajudá-la a terminar o enterro de Helen. Durante o diálogo, Zosia revela que há outro humano desperto no mundo — um homem no Paraguai. A notícia reacende em Carol o desejo de encontrar os demais que não foram assimilados.
Ela aceita embarcar em um avião com destino a Bilbao, onde está marcado o encontro dos sobreviventes. Mesmo em um avião vazio, Carol escolhe sentar-se na classe econômica, reforçando sua desconexão com o status e o conforto.
Dois dias após o início da dominação global, Carol chega ao aeroporto e encontra cinco outros indivíduos que ainda mantêm a consciência independente: Xiu Mei, Kusimayu, Laxmi, Otgonbayar e Koumba Diabate, da Mauritânia. Cada um está acompanhado por familiares já assimilados ao Coletivo.

Koumba chega em um avião presidencial, desfrutando do luxo que o novo mundo permite. Enquanto os demais tentam compreender sua situação, Carol insiste em reunir apenas os não infectados, acreditando que juntos poderão reverter o que aconteceu.
Um mundo sem crime
O grupo debate as consequências da fusão coletiva. Laxmi acusa Carol de ser responsável pela morte de seu avô durante o apagão causado por sua explosão emocional. Koumba, por outro lado, argumenta que o Coletivo trouxe benefícios: o fim do racismo, da violência e do confinamento de animais. Segundo ele, o planeta vive um estado de harmonia absoluta — um sistema vegetariano, sem guerra nem crime.
Para Carol, no entanto, a suposta paz é apenas uma forma de controle. Ela vê na ausência de conflito o sintoma de uma humanidade adormecida, incapaz de decidir por si mesma. Ao confrontar o grupo, sua raiva volta a causar instabilidade no Coletivo, que entra novamente em transe.
A escolha de Zosia
Quando desperta, dois dias depois, Carol se vê sozinha. A maioria dos outros sobreviventes se afastou, incapaz de suportar o impacto que suas emoções provocam nos familiares conectados à mente global. Apenas Koumba permanece, mas com uma motivação particular: ele quer a aprovação de Carol para se envolver com Zosia.
Carol tenta convencer Zosia a pensar por conta própria. Durante a conversa, há um instante em que Zosia parece hesitar, revelando um lampejo de individualidade — um detalhe que pode indicar que nem todos no Coletivo estão completamente fundidos. Esse momento se torna o ponto emocional mais importante do episódio.
Antes de partirem, Carol decide se afastar e embarca novamente no avião em que chegou. Zosia e Koumba seguem juntos, mas o olhar que trocam antes da separação é carregado de significado. Carol, pela primeira vez, hesita em sua resistência. Em uma virada sutil, ela muda de ideia e se junta novamente aos outros, deixando em aberto suas verdadeiras intenções.

Crítica do episódio 2 de Pluribus, do AppleTV+
“Moça Pirata” amplia o escopo da série Pluribus ao explorar as consequências globais do colapso da individualidade humana. O episódio alterna entre a jornada íntima de Carol e a visão macro de um mundo que opera sob uma consciência única, onde o livre-arbítrio se torna uma anomalia.
A introdução de Zosia serve como espelho psicológico para Carol — uma criação literal de sua mente transformada em pessoa. Essa fusão entre literatura, memória e biotecnologia é um dos temas centrais da série e reforça a tensão entre o real e o imaginado.
O roteiro de Vince Gilligan equilibra ironia e melancolia. A ideia de que um simples surto emocional possa causar milhões de mortes expõe o paradoxo da empatia coletiva: a humanidade alcança a unidade, mas perde a capacidade de suportar o dissenso.
O episódio também sugere que a aparente harmonia do novo mundo pode esconder um perigo maior. Ao eliminar o conflito, o Coletivo torna-se vulnerável — incapaz de reagir a ameaças externas. Gilligan constrói, assim, um subtexto que relaciona o desejo humano por paz absoluta à perda do instinto de sobrevivência.
Enquanto Carol é vista como uma figura destrutiva, sua presença representa a última defesa da individualidade. Sua raiva e impulsividade são sintomas de uma humanidade ainda viva, capaz de errar e resistir. O contraste entre ela e Zosia sintetiza o conflito central da série: a escolha entre pertencer e existir.
Com “Moça Pirata”, Pluribus confirma seu ritmo crescente e prepara o terreno para uma narrativa que combina ficção científica, filosofia e crítica social. Gilligan transforma o colapso da humanidade em uma reflexão sobre identidade, conexão e o preço da harmonia. O episódio termina sem respostas, mas deixa claro que Carol pode ser tanto a destruição quanto a salvação do mundo unificado.