Só para variar, The Walking Dead não consegue surpreender

O texto a seguir contém SPOILERS da sexta temporada de The Walking Dead!

Assistir The Walking Dead tornou-se uma missão das mais indigestas. Principalmente quando nos deparamos com episódios como Last Day on Earth, o último da sexta temporada. Se me pedissem para indicar um episódio que explicasse esse sentimento de amor e ódio, certamente eu apontaria esse. Sentando na ponta do sofá, foi assim que passei 80% do tempo. Suando, coração acelerado, mãos e pés formigando. Tudo estava preparado para o choque final. Mas só me restou lançar um: PQP, isso de novo! Parece que cinco temporadas não foram suficientes para dizimar a necessidade de empurrar cliffhanger goela abaixo do espectador. Ninguém consegue pensar em algo diferente da velha brincadeira do “Morto, Vivo”?

Parecia uma cópia do início da temporada, quando investiram um tempo considerável escondendo a morte do Glenn. Com a presença de Negan já confirmada, tudo estava correndo de acordo com o plano: deixar os fãs imaginarem o que aconteceu com o personagem. Se ele morresse ali, quem Negan mataria depois? Se ele sobreviver, vai mesmo conhecer a Lucille de perto? Então quando Glenn aparece vivo o estrago já estava feito. Todo mundo comendo na mão da série, preocupado com o final e fechando os olhos para o meio.

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Alternando ótimos e dispensáveis episódios, a sexta temporada parecia seguir no caminho do certo. Mesmo com as já esperadas alterações, eram visíveis as semelhanças com a HQ. E o terreno foi sendo preparado para aquele que prometia ser um dos momentos mais impactantes da série até o momento. Se você não é familiarizado com os quadrinhos, talvez não tenha entendido o que a chegada de Negan representava. Mas mesmo que Jeffrey Dean Morgan ainda não mostrado tudo o que o personagem tem a oferecer, foi impossível não sentir-se intimidado com sua presença. É um alívio afirmar que o problema não estava nele.

O roteirismo funcionou nos momentos mais delicados do episódio. O discurso de Rick para Maggie é emocionante, assim como a despedida de Abraham e Eugene. A tensão estampada nos olhos de Rick quando percebe que não vai conseguir arrumar uma fuga milagrosa do enorme grupo de Salvadores que cercava o seu grupo é aterrorizante. Então estão todos lá, ajoelhados, diante de uma figura que sabem que é diferente de tudo que já viram antes. “Uni duni tê, salamê minguê”, uma pitada de medo e voilá: Last Day On Earth estava pronto para tornar-se o melhor episódio de todos. E mais uma vez tive que acordar para a realidade. The Walking Dead é incapaz de surpreender.

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Robert Kirkman comentou que a ideia nunca foi usar o cliffhanger como apoio. Tudo ali estava voltado para extrair a confiança de Rick e o destruir por completo. É de fato uma visão bem interessante, mas que foi abandonada para dar espaço a algo mais preguiçoso. Não que a presença do elemento “morreu, não morreu” seja inédito em séries. Arrow já fiz isso na atual temporada, que aliás tem um óbito como mistério principal na trama. O que incomoda é usar isso como porto seguro, excluindo o medo de arriscar e garantindo que os fãs fiquem maquinando sobre o que de fato aconteceu.

A sexta temporada chegou ao fim. O que resta é ficar imaginando quem foi o escolhido da vez para bater as botas. Teorias e mais teorias vão inundar a internet, até que todo mundo se canse de pensar nisso. Em outubro estreia a sétima temporada e quem sabe, finalmente, The Walking Dead não resolva surpreender.Sonhar não custa nada.