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Crítica | Black Mirror S04e03: Crocodilo

Com um clima tenso e cenário frio como a alma de sua protagonista, Crocodilo é um suspense tenso com ótimas atuações.

Seguindo uma linha diferente dos primeiros episódios dessa temporada que usaram tecnologias já apresentadas na série, Crocodilo traz uma tecnologia aplicada de uma forma diferente e criativa para criar uma história noir sobre crime e consequências. Esse review contém spoilers.

Na trama, acompanhamos Mia Nola (Andrea Riseborough), uma famosa arquiteta focada em projetos sociais com esqueletos no armário: ela ajudou a se livrar de um corpo que ela e um amigo atropelaram na estrada. Anos depois esse amigo traz o assunto à tona e ela acaba o matando também para encobrir os rastros. Ao mesmo tempo, acompanhamos Shazia (Kiram Sonya Sawar), uma funcionária de uma agência de seguros que usa uma máquina para acessar memórias e definir de quem é a culpa em acidentes. A história das duas se mistura quando Shazia começa a investigar um acidente que aconteceu no mesmo momento que Mia matou o amigo.

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Esse episódio possui uma estrutura um pouco diferentes de outros da série. Primeiramente porque a tecnologia apresentada importante para a trama só vai aparecer lá pro meio do episódio, até lá vemos algumas tecnologias novas mas só de pano de fundo. Outra brincadeira narrativa interessante é que o episódio conta duas histórias ao mesmo tempo e o telespectador vai tentando juntar as duas como se também fosse um detetive. O episódio todo, inclusive, possui um clima noir detetivesco que lembra até um pouco a série Fargo, por se tratar de crimes crus em um cenário de neve. A “heroína” do episódio noir não é um detetive buscando a verdade sobre assassinatos, é só uma empregada de uma empresa de seguros procurando a verdade para que a empresa vise o lucro.

Por falar em neve, temos aqui umas das fotografias mais lindas da série. O diretor John Hillcoat (A Estrada), juntamente com o diretor de fotografia Lol Crawley (The OA), aproveitam muito bem os cenários filmados na Islândia para trazer uma história fria como o o local onde se passa. Existem também closes muito bem dados na personagem de Andrea que dá um show de atuação.

shazia na porta da casa de mia

Mia é uma mulher poderosa, inescrupulosa e hipócrita. Ela inicia o episódio sendo coagida a se livrar de um corpo e quanto mais o tempo passa, mais vemos ela indo abismo abaixo sendo cada vez mais cruel em seus atos somente para proteger sua imagem. O nome do episódio remete à expressão lágrimas de crocodilo, usada para indicar pessoas falsas. Ela é o clássico exemplo de pessoa poderosa e psicopata, pois existem estudos que CEOs de grandes empresas tem muita chance de terem esse distúrbio.

Apesar da narrativa um pouco diferente, esse é um clássico episódio de Black Mirror que machuca só de assistir. Vemos Mia matando as pessoas de forma fria mas também sentindo com cada morte. Ela não é uma assassina e podemos ver no seu rosto a dor em se livrar de cada corpo. O episódio também constrói muito bem a personagem de Shazia, fazendo com que o expectador se simpatize bastante com ela só para vermos ela sendo arrancada de nós. Charlie Brooker não perdoa nem o bebê cego… É o tipo de episódio de Black Mirror que você tem que tomar um banho depois pra limpar a sujeira.

shazia preocupada

A tecnologia da máquina de pensamentos é bem interessante e bem utilizada no episódio, ela serve para criticar a vigilância cada vez mais comum do cidadão comum, seja isso para o bem ou para o mal. É claro ver que essa é uma tecnologia bem menos avançada do que outras que vemos na série e temos até uma pegada meio Blade Runner, com o dispositivo parecendo algo meio antigo. Existe uma linha de diálogo dizendo que as pessoas são até obrigadas a expor suas lembranças, dando a entender que o governo tem esse poder na vida deles. É interessante como em pouco tempo eles conseguem trabalhar conceitos legais como o da memória olfativa, me lembrando até uma passagem do jogo To The Moon.

Crocodilo é um episódio clássico de Black Mirror para te deixar desgraçado da cabeça. Mas aqui a tecnologia é um pano de fundo somente para ações inescrupulosas de pessoas, o principal tema do episódio é a falsidade que existe principalmente em CEOs de grandes empresas. O episódio é um grande suspense sobre uma pessoa que vai até o fim para proteger sua imagem. O ponto fraco é que não temos muitas críticas sociais, o ponto forte é que ganhamos uma história muito tensa e bem dirigida.