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Stranger Things – 4° temporada

É inegável que Stranger Things é um dos maiores sucessos da Netflix e um marco na cultura pop moderna. A série, que deveria ter somente uma temporada, fez tanto sucesso que vai durar até sua quinta parte. Apesar de alguns tropeços no caminho, a quarta temporada consegue ser a melhor da série até o momento. Como todo mundo assiste tudo quando sai mesmo, essa crítica contém spoilers.

No início da temporada, temos a turminha de Hawkings mais uma vez dividida, algo que vem sendo uma prática nas últimas temporadas. Um dos maiores trunfos dos Duffer Brothers é criar personagens interessantes e divertidos. O negócio é que quanto mais personagens são criados, mais fica difícil colocar essa galera toda junta. Tem encontros aqui que só vão acontecer lá no último episódio. Felizmente, os criadores não perderam a mão nessa sua grande habilidade. A maioria dos personagens antigos e novos são legais e é muito gostoso de ver as interações entre eles.

Um problema que persiste, sobretudo, é a dificuldade do roteiro de saber o que fazer com a Eleven (Millie Bobby Brown). Mais uma vez temos a personagem perdendo seus poderes e ficando isolada durante toda a temporada. Nesse caso, pelo menos o seu núcleo encontra uma maneira criativa de mostrar flashbacks, alguns retcons  e, principalmente, ajudar a desenvolver o vilão principal: 001/Henry/Vecna. Felizmente, a personagem não se torna somente um Deus Ex Machina no final. Todos participam do plano para matar o Vecna de alguma forma, alguns de forma mais planejada, outros sem querer. Apesar disso, confesso que estou um pouco cansado da personagem, achando bastante maçante algumas das suas cenas.

A série brilha mesmo com o núcleo de Hawkings. Aqui, temos uma trama que não tem medo de ser bastante terror, inclusive com uma quantidade de gore bem servida. Essa clima de Scooby Doo de adolescentes caçando um monstro/assassino muito me agrada e é muito bem feito. Temos também as melhores interações entre personagens, sejam com aqueles mais antigos ou com a adição do excelente Eddie (Joseph Quinn). Toda investigação sobre o Vecna culminando em um plano mirabolante para matar o vilão é sensacional. Os dramas e as relações entre os personagens também são bem desenvolvidos, inclusive com o arco de personagem do Eddie fechando de forma triste, mas válida.

Ainda temos as tramas um pouco menos interessantes, mas igualmente divertidas, da Califórnia e da Rússia. Fica aqui um elogio a como está sendo tratada a sexualidade de Will (Noah Schnapp) através de diálogos cheios de emoção mas com muito cuidado e sensibilidade. Sobre o núcleo da União Soviética, ela traz mais uma vez personagens muito divertidos, como o piloto maluco Yuri (Nikola Djuricko). O problema aqui é terem divulgado muito cedo que Hopper (David Harbour) estava vivo. Fora isso, há uma representação meio exagerada dos soviéticos e muita suspensão de descrença em mostrar que o plano de fuga acaba dando certo.

Apesar (ou por causa) da quantidade de núcleos, o ritmo desta temporada de Stranger Things não poderia ser melhor. Mesmo com episódios longos (principalmente os dois últimos, praticamente filmes), o meu interesse raramente se perdia. Os diretores conseguiram orquestrar diversos personagens, núcleos e tramas em uma história que faz sentido e, acima de tudo, diverte. Para rechear tudo isso, ainda temos algumas das melhores cenas da série utilizando músicas. Destaque primeiramente para a cena que faz um paralelo entre uma mesa de RPG e uma partida de basquete. Como se isso não bastasse, temos a já clássica cena com a música da Kate Bush no melhor episódio da série, disparado. O final ainda nos entrega uma cena muito bem orquestrada ao som de Metallica. O clima oitentista é um dos seus pilares e a música geralmente é uma ferramenta fortíssima para passar  esse sentimento.

Stranger Things 4 continua entregando personagens superinteressantes e divertidos, ao mesmo tempo que desenvolve uma história que flerta cada vez mais com o terror. Com uma produção impecável e ritmo gostoso, torna-se a melhor temporada da série. Além da diversão, consegue trazer algumas discussões bem maduras. Por exemplo, o episódio da Max faz um paralelo muito sutil com pessoas que pensam em suicídio para, no final da temporada, mostrar a personagem em prantos dizendo que não quer morrer. O “Pânico Satânico” também é discutido nessa temporada, com a cidade toda caçando uma pessoa inocente só por ela ser diferente. Espero que a próxima temporada demore o tempo que precisar para poder nos entregar mais uma vez um produto divertido de qualidade.