Crítica | Santa Clarita Diet (2ª Temporada): A melhor série de comédia da Netflix

Segunda temporada de Santa Clarita Diet mantém o ótimo nível da primeira, e se coloca como uma das melhores franquias da Netflix atualmente

Santa Clarita Diet foi uma grata surpresa em 2017. Além de trazer mais um produto original Netflix de qualidade (como tantos outros), dessa vez no âmbito da comédia, a série representou uma renovação na carreira de Drew Berrymore, que há tempos não participava de algo com maior relevância.

Como era de se esperar, a segunda temporada continua a partir do final da primeira, onde Sheila (Barrymore) está tentando se adaptar ao avançado estágio de morta-viva. Ao mesmo tempo, novos casos de ataques e desaparecimentos em Santa Clarita vêm à tona, e Joel (Timothy Olyphant) precisa sair do hospital psiquiátrico onde foi parar.

O roteiro continua funcionando muito bem aqui, fugindo do óbvio diversas vezes mesmo que seja para seguir um caminho previsível. Um exemplo disso é quando a policial Anne Garcia (Natalie Morales), uma mulher com sangue investigativo, cisma em desvendar o motivo dos desaparecimentos em Santa Clarita: por mais que o casal protagonista tente desviar o foco do seu raciocínio (como sugerir que ela passe seu tempo livre pintando), ela acabará enveredando para a investigação de alguma forma. Esse plot poderia ser uma fonte de momentos suspense clichê, aquela velha busca polícia investigando versus criminosos tentando se safar, mas o texto ágil e inteligente usa esses elementos a favor da série.

Ainda nesse ponto, Santa Clarita Diet consegue transparecer muito bem a forma como essa condição inusitada de Sheila afeta a todos, principalmente sua família. Joel não consegue, em momento algum, ao menos fingir que poderia ter uma vida normal de classe média alta, seja comendo no seu restaurante chinês favorito ou qualquer coisa semelhante. A própria Sheila está cada vez mais selvagem, em estágio avançado de selvageria e decomposição, mas tenta manter seu emprego habitual como corretora de imóveis, sob o risco de devorar seu chefe extremamente machista e idiota. Abbey (Liv Hewson) é a mais afetada, pois, além de ser uma jovem sob a influência de pais assassinos, está numa fase de descobrimentos como qualquer outra adolescente estaria.

Consequentemente, Abbey também acaba sendo a personagem com maior transformação nessa segunda temporada de Santa Clarita Diet. Liv Hewson está ainda melhor no papel, e seus momentos badass contribuem para o apreço do público pela personagem. Mas talvez ela tenha ido longe demais no último episódio.

Não buscar se repetir é uma outra característica interessante de Santa Clarita Diet. Mesmo nos episódios que caracterizariam a série como procedural, há um sentimento de urgência no ar bastante justificável, já que o cerco está se fechando para a família Hammond do ponto de vista criminal, ao mesmo tempo que o mundo pode acabar num apocalipse zumbi e eles precisam fazer algo para impedir tal coisa. Junte isso ao dilema “somos boas pessoas ou assassinos?” e temos aí uma fórmula razoável de busca e autoconhecimento a ser trabalhada.

No mais, Drew Barrymore continua sensacional e Timothy Olyphant extremamente caricato e engraçado. Seu humor ácido e surtado é repetitivo, mas rende excelentes piadas e até uma referência a si mesmo com o quadro pintado por Garcia. A volta de Nathan Fillion como Gary acrescentou ainda mais carisma para a série, que consegue fazer sua melhor piada até então ao trocar uma bolinha de fisioterapia por um coração humano nazista.

Santa Clarita Diet é o que há de melhor nessa nova fase da Netflix, que visa apostar em produções originais de orçamento baixo e curta duração.