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Ozark – 3ª Temporada (Netflix) | Crítica sem spoilers

Após flertar com uma certa canseira ao final da segunda temporada, a série Ozark ganhou novos episódios na Netflix sob olhares atentos. Isso por que a rede de streaming não possui pudor algum em cancelar bons programas que não lhe dão o retorno desejado (Marco Polo e Santa Clarita Diet mandam abraço). Sendo assim, Jason Bateman, Laura Linney e cia tinham o desafio de manter as coisas interessantes.

Nesta temporada, a família Byrde encontra-se ainda mais obrigada a servir o cartel mexicano na ilícita tarefa de lavagem de dinheiro, sob a forte supervisão da advogada Helen Pierce. Ao mesmo tempo, as tensões aumentam por conta da guerra travada entre organizações criminosas, onde Omar Navarro (chefe dos Byrde) está levando a pior e se vê encurralado a cada dia.

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Divulgação: Netflix

A narrativa desta temporada atingiu um nível ótimo, permitindo assim que qualquer espectador saia satisfeito. Se você gosta de assistir apenas um episódio, os capítulos de uma hora cada irão satisfazer sua necessidade. Mas se sua aptidão atual (tempos de coronavírus…) é maratonas, saiba que há ganchos sensacionais ao final de cada um.

Se tínhamos um ideal a respeito da família estadunidense, ele era representado pelos Byrde mas no sentido inverso. Para esta terceira temporada, temos a chegada de um elemento que destrói essa fachada que eles tentavam manter. Seu nome? Ben Davis, irmão de Wendy. Na pele do ator Tom Pelphrey – que não fez feio em Punho de Ferro (feio mesmo é a própria série Punho de Ferro) -, Ben é um verdadeiro agente do caos e será o responsável por trazer os grandes conflitos da trama.

Mas toda essa confusão não é uma exclusividade dele. Acontece que o rapaz possui transtorno bipolar, e o não uso dos medicamentos pode ocasionar em sérias consequências. Porém, estamos falando de uma série onde as aparências importam muito, e quando paramos para pensar no que há por baixo das camadas, Ben pode acabar parecendo o personagem mais lúcido de todos.

As mulheres de Ozark

Sem dúvida alguma, os melhores destaques individuais de Ozark ficam entre as mulheres, cada uma imprimindo em sua personagem valores cativantes e que estimulam nossa reflexão.

Wendy é basicamente a dona da 3ª temporada, tendo suas ambições trabalhadas num nível que pode lembrar Walter White em Breaking Bad. Mas as comparações param por aí, pois, diferente da série estrelada por Bryan Cranston, temos aqui um círculo de confiança familiar ainda mais disfuncional. A personagem de Laura Linney consegue causar muito medo naquele estereótipo do patriarca que almeja apontar as diretrizes da família, e o fascinante nisso tudo é que ela possui sua dose de razão, pois sua intenção é atingir seus objetivos (que é conquistar tudo) por vias lícitas, com a benção do líder do cartel para o qual ela trabalha.

Para enriquecer essa subjetividade, Marty é um contraponto perfeito, pois possui mais experiência no ilícito e sabe muito bem dos riscos que sua esposa quer correr. No final das contas, tudo acaba se resumindo em uma dinâmica entre cônjuges. Mas esse jogo vale muitas vidas.

A advogada Helen Pierce, vivida pela brilhante Janet McTeer, tem sua intimidade ainda mais exposta dessa vez. Seu desejo de ocultar as contradições profissionais dos filhos será cruelmente confrontado pela família Byrde, que há muito tempo não sabe o que é ter um café da manhã tranquilo, sem que a pauta seja atos criminosos. É nesse sentido que a personagem terá seu grande destaque, mas ao mesmo tempo ela trava uma disputa de poder bastante delicada com Wendy e Marty.

Já Ruth, interpretada por Julia Garner (que na minha opinião é uma das melhores atrizes da sua geração, muito por conta do seu papel em Ozark) está para encerrar um ciclo determinante nesta terceira temporada. Sua fidelidade aos Byrde, especialmente a Marty (em quem deposita um ideal de figura paterna) passará por mais e mais testes, culminando numa bizarra aliança depois dos eventos principais. No fim das contas, Ruth é representante do distanciamento afetivo que a série gosta de expor.

Para fechar essa listagem de atrizes, vale mencionar a pontual participação de Darlene (Lisa Emery) na trama. Aos poucos o roteiro vai costurando suas ações, que não são necessariamente crescentes frente ao desfecho. Mas na posição de personagem mais instável de Ozark, ela certamente continua sendo a rainha do imprevisto. Isso não é pouco para alguém que envenenou o próprio marido na temporada anterior.

Desfecho aquém

Infelizmente, o ritmo cativante sofre uma desacelerada nos dois episódios finais, quando o roteiro passa a se preocupar com os episódios da vindoura quarta temporada. Não que esses capítulos sejam ruins, pois ainda temos neles cenas chocantes, mas creio que poderiam ter sido um pouco mais tensos, como os anteriores.

No mais, Ozark continua nos mostrando o pior que a ambição dentro de um sistema capitalista pode proporcionar, no auge da financeirização do mercado. As pessoas se distanciam, tudo que importa é o poder e a expansão dele, onde não há lugar para o afeto ou coisas bobas como o amor. Para atingir seus objetivos, vale o uso de qualquer ferramenta.