Ozark – 1ª Temporada (Netflix) | CRÍTICA

Nova série original da Netflix, Ozark rejeita o rótulo de sucessora de Breaking Bad e consegue traçar seu próprio caminho

Comparar Ozark com Breaking Bad não é uma atitude muito justa com a nova série original da Netflix. Existem, é claro, vários paralelos que induzem o espectador a tomar tal atitude. Mas a criação de Bill Dubuque e Mark Williams (responsáveis por O Contador) consegue encontrar um caminho próprio. Uma estrada banhada por sangue e dinheiro do tráfico, que nos lembra incessantemente que todas as escolhas resultam em consequências. E que nunca estaremos preparados para enfrentá-las.

Na trama, Marty Byrde (Jason Bateman) é responsável por lavar dinheiro para o segundo maior cartel mexicano, representado por Del Rio (Esai Morales). Quando seu sócio acaba o traindo, Marty enxerga no Lago de Ozarks, no Missouri, uma chance de salvar sua vida e de sua família. Começa então uma corrida contra o tempo e os obstáculos para cumprir a meta estabelecida pelos criminosos. Aqui fica claro um dos elementos de Ozark: o medo. Trabalhado entre todos os núcleos, o medo de falhar, o medo da morte e dos aparentes desígnios da vida está sempre presente nos episódios.

E isso leva a violência. A aparente tranquilidade do lago esconde um submundo repleto de pessoas cruéis, capazes de qualquer atitude para protegerem seus patrimônios ou saírem de vez da merda. Ao arrastar seus demônios para o local, Byrde altera o frágil equilíbrio da balança. É como lançar uma pedra na água e acompanhar o desenrolar das distorções.

Jason Bateman e Laura Linney em episódio de Ozark (Divulgação: Netflix).

Ozark acerta ao equilibrar o desenvolvimento dos problemas familiares, geralmente discutidos entre as paredes das casas, e a bola de neve criminosa que cerca todos os personagens. Em maior ou menor grau, todos acabam envolvidos. O ritmo lento pode acabar afastando aqueles que esperam um aula de como lavar dinheiro, numa espécie de House of Cards com narrações de Jason Bateman. Não existe espaço para o didatismo, já que os núcleos estão sempre em movimento. Utilizando bem sua classificação indicativa, a série consegue criar momentos de tensão real e violência gráfica que surpreendem em algumas situações.

A fotografia acinzentada gera um contraste visual inteligente com a beleza natural do local. De longe é um paraíso, mas todos os acontecimentos simultâneos transformam o Lago de Ozarks em um verdadeiro inferno. Além de causar no espectador uma sensação de melancolia, beirando o desespero. Porém, alguns furos e conveniências do roteiro não escapam de olhos mais atentos. Ainda assim o resultado final é bastante satisfatório, encontrando seu ápice nos dois últimos episódios.

Além de Jason Bateman (que dirige alguns dos melhores episódios da série), Laura Linney também se destaca. Se os recentes acontecimentos privam Marty de transparecer determinadas emoções, Wendy Byrde é marcada profundamente com cada novo desdobramento. É o equilíbrio entre razão e emoção, um contraponto essencial para o funcionamento do núcleo principal. Uma personagem repleta de camadas. Mas todos os holofotes vão para Julia Garner, que entrega uma das melhores atuações do ano. Uma jovem com um futuro brilhante pela frente.

Jason Bateman em cena de Ozark (Divulgação: Netflix).

Longe de ser a nova Breaking Bad, Ozark consegue se destacar entre os inúmeros lançamentos da Netflix. Justamente quando se questiona o equilíbrio entre quantidade e qualidade no catálogo original da empresa.