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Outer Banks | Crítica

Stranger Things continua sendo até hoje um dos maiores acertos da Netflix. O trama sobre amizade, o clima de aventura e a atmosfera oitentista casaram como uma luva e a série se transformou rapidamente em um estrondoso sucesso. Diante disso, era natural que novas produções tentassem pegar carona na fórmula. Com algumas mudanças de curso, mas preservando o espírito da irmã mais velha, Outer Banks é a mais nova série da pioneira do streaming a surfar por essas águas.

Por falar em águas, taí a sacada da série: mudar seus ares. Enquanto Stranger Things estava mais interessada em conspirações e eventos sobrenaturais na pequena cidade de Hawkins, Outer Banks (perceba que até o nome foi pensado para rimar) está mais para uma aventura de caça ao tesouro bem ao estilo Goonies numa ensolarada ilha da Carolina do Norte.

Os Pogues

Na série, conhecemos os Pogues, um quarteto de grandes amigos da ala mais pobre da ilha formado por John B (Chase Stokes), J.J. (Rudy Pankow), Pope (Jonathan Daviss) e Kiara (Madison Bailey). A partir do líder do grupo John B que a história se desenrola, quando o personagem descobre pistas que conectam o sumiço de seu pai (dado como morto pelas autoridades) a um lendário tesouro supostamente desaparecido com o Royal Merchant, um navio naufragado em 1829.

Entre suas decisões criativas – que a diferenciam das produções até agora citadas –, a série opta por trazer adolescentes como protagonistas. Com isso, mudam os dramas e o roteiro ganha mais liberdade para colocar os personagens pilotando lanchas, manuseando armas ou se metendo em violentas brigas com os Kooks, rivais ricos dos quatro amigos.

O clima de aventura flerta ainda com filmes como Indiana Jones e a Última Cruzada, com o pai de John B, assim como o pai de Indy, tendo dedicado a vida a uma obcecada descoberta. Os mais atentos irão facilmente fazer algumas analogias entre a franquia do arqueólogo mais famoso do cinema e Outer Banks, que possui também no DNA algo do game Uncharted (repare nos seus puzzles).

 

Sem pretensão de ser algo grandioso, a série acaba se tornando um delicioso “guilty pleasure” que vai comendo pelas beiradas com suas referências. O roteiro é simples, muitas vezes previsível e não tem nada que já não tenhamos visto anteriormente. Ainda assim, torna-se irresistível perseguir as pistas do tesouro com John B e sua turma, mesmo que alguns caminhos adotados pela narrativa soem bem forçados.

Sem dúvida, um dos trunfos de Outer Banks (que também foi o de Stranger Things) está em trazer a amizade como destaque. A química entre os jovens atores é ótima e contribui para nos manter engajados até o final. Outros dois fatores que contribuem para nos prender à série são sua deliciosa trilha sonora cheia de hits relaxados e uma belíssima fotografia, que brinda o espectador com excelentes paisagens da ilha.

John B e Sarah

Para se manter dentro da cartilha das séries adolescentes, os roteiristas inserem um romance proibido de John B com Sarah (Madelyn Cline), a filha de seu patrão. Um fator que pode desagradar algumas pessoas por desviar um pouco o foco da trama principal. Outro ingrediente – esse a meu ver muito bem-vindo – inserido na série são as relações entre pais e filhos. Todos os quatro protagonistas vivem algum tipo de drama paterno mal resolvido. Destaque para a relação abusiva de J.J. com seu pai, que o criou desde pequeno na base da violência, tornando o personagem o mais rebelde e amargurado do grupo.

Criada por Josh Pane, Jonas Pate e Shannon Burke, Outer Banks não inventa nenhuma roda e pode ser frustrante para quem busca algo mais original. Mas a Netflix parecia estar consciente de suas escolhas e, pelo gancho deixado, certamente deve retornar para a segunda temporada. Eu, particularmente, não faço nenhuma objeção.