Nova série da Marvel acerta pela representatividade cultural
Representatividade conta muito. Ter em outra pessoa (seja real ou não) atributos que nos conectam a ela fazem toda diferença na hora de escolher um lado, consumir um produto ou até mesmo se sentir incluído no mundo. Luke Cage, nova série da parceria Marvel / Netflix, chega para trazer questões como essa no universo dos super-heróis com viés mundano da Casa das Ideias.
Depois dos eventos de Jessica Jones, Luke Cage (Mike Colter) busca refúgio na barbearia do Pop (Frankie Faison) no Harlem, bairro novaiorquino. Luke é um foragido da justiça, mas terá seu anonimato testado frente a crescente onda de violência do local, sob o domínio de Cornell Stokes (Mahershala Ali) também conhecido como Boca de Algodão, com apoio de sua prima vereadora Mariah Dillard (Alfre Woodard).
Um aspecto importante é a velocidade narrativa. Não há muita enrolação apesar de tratarmos de uma série. Veja Pop, por exemplo: seu trágico destino não demora para acontecer, ao mesmo tempo que o personagem já foi muito bem trabalhado na trama, e ele continua onipresente até o fim dos episódios pelo seu ideal e conduta. Isso beneficia muito a profundidade do protagonista e contribui para a devida agilidade do que é mostrado.
A atuação de Mike Colter como Luke Cage incomoda às vezes, principalmente nos diálogos onde o ator parece pouco à vontade. Mesmo assim, Colter consegue mandar surpreendentemente bem em algumas ocasiões como no poderosíssimo desabafo ao final do segundo episódio, e nas tiradas cômicas (você passará a ver o convite para um café com outros olhos). A impressão que fica é de que ele depende de um bom roteiro, pecando no improviso. Nada que atrapalhe a viabilidade de novas aparições do personagem, muito pelo contrário: queremos mais em Os Defensores e numa eventual segunda temporada!
Cuidado com a expectativa: não espere cenas de ação super coreografadas como em Demolidor, que notadamente recebe mais investimentos nesse departamento. Jessica jones sofreu do mesmo problema. Mas isso não exclui cenas empolgantes como a luta final contra Kid Cascavel (Erik LaRay Harvey) e a invasão ao conjunto habitacional.
Se levarmos em conta a onda de protestos atual nos EUA por conta de abusos policiais contra negros pode até parecer que Luke Cage está pegando leve no começo, mas aos poucos a série se torna algo consolidado, numa clara e atual mensagem à sociedade. A aversão a termos racistas como "nigga" e as camisetas furadas de balas estão aí para mostrar que o Harlem é o verdadeiro protagonista de Luke Cage, e sua alma também é à prova de balas.
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