Crítica | Glow (2ª Temporada): os anos 80 segundo a Netflix

Estrelada por Alison Brie, GLOW consegue se superar nessa segunda temporada na Netflix

Saudar a década de 1980 se tornou uma vertente a mais no mercado do entretenimento recente, e a Netflix é quem mais tem feito isso com competência. Séries como Stranger Things e filmes como Guardiões da Galáxia oferecem ao espectador, interessado no passado, um vislumbre de memória afetiva apontando o que era melhor ou pior na época. Outro seriado que trouxe a temática para a plataforma de streaming, GLOW, acaba de ganhar segunda temporada.

A trama de GLOW mostra diversas atrizes de baixo escalão ou em decadência que vão atrás de um novo emprego que consiste num programa de luta livre só com mulheres comandado por Sam Sylvia (Marc Maron), um diretor de filmes B acostumado com o fracasso. Uma das atrizes, Ruth (Alison Brie), vê no grupo uma oportunidade de conseguir algo após 10 anos de tentativas frustradas, frente a um mercado absurdamente machista e de raro protagonismo feminino.

as lutadoras de GLOW
Divulgação / Netflix

Após um primeiro ano com diversos altos e baixos, a segunda temporada de GLOW mostra um programa muito mais maduro e ciente do que quer passar ao público. Espere por cenas brutais em certos momentos, com doses de emoção e uma ambientação oitentista bastante agradável, com poucos pontos negativos a serem destacados. Um aspecto importante aqui é que se deixa de lado a pegada Orange is the New Black de se preocupar com o contexto de cada uma das personagens de modo igualitário, priorizando assim quem realmente importa pro bom andamento do show.

Aliás, é a personagem de Alison Brie que faz o elo de ligação com as coisas mais importantes de GLOW, como acontece com o próprio diretor do programa de luta livre, Sam Sylvia. Maron está incrível no papel, tendo a profundidade necessária ao personagem ao mesmo tempo que o retrata como um homem de seu tempo. Quanto a Brie, continua mostrando sua qualidade como uma das atrizes de ponta na indústria atualmente, estabelecendo Ruth como uma protagonista cheia de defeitos, mas despertando nossa empatia ao abordar a questão: “até quando uma pessoa precisa pagar pelos seus erros?” Como na primeira temporada, a relação entre Ruth e Debbie (Betty Gilpin) continua a ser abordada aqui, mas dessa vez com muito mais intensidade, rendendo os melhores momentos da série até então. Gilpin fecha essa trindade de seres humanos de fácil identificação para o público, ao mesmo tempo que passam por um período difícil em suas vidas.

Ruth lutando contra Debbie na 2ª temporada de GLOW
Divulgação / Netflix

Esse dinamismo funciona muito por conta do roteiro esperto que não perde tempo com suas subtramas, ou seja, na maioria das vezes, questões menos relevantes são tradadas da forma devida. Claro que nem tudo é perfeito, onde uma ou outra cena deixa a impressão de que poderia ter durado menos. O oitavo episódio, por exemplo, com as narrativas das lutadoras para o programa de TV, fica mais agradável na ideia do que na execução. Mas acaba sendo muito positivo para o produto final.

Ou seja, nessa segunda temporada, a Netflix continua abordando muito bem o que já fazia anteriormente, mas de modo bem mais organizado. O mundo machista, a breguice da época, a super sexualização feminina (e como tudo isso tem impacto no imaginário da sociedade que consome cultura pop atualmente) continua sendo o mote da série, juntamente com as relações interpessoais de suas figuras.

O futuro de GLOW deve reservar momentos interessantes para quem acompanha, uma vez que a segunda temporada deixa boas perspectivas em relação a isso (que tal uma Las Vegas ambientada no período da série?). Se mantiverem a qualidade, vai ser difícil bater a Netflix quando o assunto são os anos oitenta.