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WandaVision

Dentro do entretenimento, uma das franquias mais afetadas devido à sindemia pela qual o mundo está passando foi o MCU da Marvel Studios. A concorrência ainda conseguiu lançar suas atrações aqui acolá (como a Warner com Mulher-Maravilha 1984), mas o fato de possuir uma dezena de filmes muito bem amarrados no mesmo universo fez com que o chefão Kevin Feige perdesse até os cabelos que não possui mais para ajustar as já anunciadas séries do Disney+ nessa delicada grade super heroica. Nesse contexto, WandaVision chega ao serviço para dar o primeiro passo de um ousado plano da Casa das Ideias: lançar uma dezena atrações com o selo Marvel no streaming, mas sem deixar de lado o motivo dela ter obtido tamanho sucesso.

Com a intenção de explorar melhor esses dois personagens apresentados em Vingadores: Era de Ultron, a história mostra Wanda (Elizabeth Olsen) e Visão (Paul Bettany) vivendo o tradicional sonho americano na cidade de Westview. Lá, ela cuida dos afazeres domésticos enquanto ele trabalha fora num emprego sem aparente utilidade. Logo de cara, a ambientação em preto e branco irá apresentar ao expectador que o que estamos vendo não se trata de uma história tradicional dos Vingadores, mas sim de uma homenagem a comédias televisivas da metade do século XX como I Love Lucy e The Dick Van Dyke Show (sitcoms das décadas de 1950 e 1960, respectivamente). Não demora muito para sabermos que esse cenário inusitado esconde alguns mistérios, como, por exemplo, uma redoma de energia criada, distorcendo a realidade e abrigando uma população inteira. O grande lance então passa a ser saber quem está causando tudo isso e por qual motivo, razão ou circunstância.

WandaVision
Reprodução: Disney Plus

WandaVision é versátil como um bom filme da Marvel

Essa premissa permite que Matt Shakman, o diretor do projeto (que já comandou episódios de séries como Game of Thrones, The Great e The Boys), trabalhe diversos gêneros dentro de uma coisa só. Primeiro, a já citada comédia televisiva, que aparece não só como uma homenagem à indústria mas também coloca dois autênticos heróis, membros dos Vingadores, numa dinâmica doméstica que promove risos. Depois vemos uma boa dose de thriller, com o suspense pautando o que o público pode descobrir sobre os mistérios da trama. O motor disso tudo, que também é o coração da série, é a própria Wanda com o drama, onde já sabemos o quanto ela sofreu pela perda dos pais, do irmão e, por último, do próprio Visão (duas vezes seguidas em Vingadores: Guerra Infinita). Tudo isso muito bem encaixado na tal da “fórmula Marvel”, um modelo que se comprovou bem-sucedido se executado de modo correto.

A própria Marvel Studios já ofereceu produções ruins dentro desse modelo, como o primeiro Thor (2011). Mas em WandaVision esses elementos funcionam. Méritos para a criadora e  roteirista Jac Schaeffer (uma dos escritores de Viúva Negra), que conseguiu lidar com uma demanda pra lá de desafiadora, incluindo nesse balaio os fãs mais exigentes que ficaram exigindo e teorizando participações especiais como Mephisto e Doutor Estranho no programa. Claro que esse tipo de inclusão não estava em sua alçada (quem manda é Kevin Feige, e obedece quem tem juízo), mas o encerramento da série foi algo pra lá de digno e por que não ousado, se pensarmos em toda a melancolia envolvendo o último episódio.

Outro aspecto que mantém o espírito do MCU é o visual, onde o design de produção está afiadíssimo, tanto pela escolha das cores e a virtuosidade em ambientar década a década do nosso passado recente, quanto pelo aparente investimento financeiro nisso tudo, deixando claro que a Disney quer um padrão de qualidade um tanto próxima dos filmes.

O que é o luto, se não o amor que perdura?

Dentro do elenco, Elizabeth Olsen e Paul Bettany são, obviamente, as grandes atrações. Olsen é uma ótima atriz, e ter sua personagem com tempo negligenciado nos filmes era algo lamentável. Agora, ela pôde mostrar Wanda de um modo mais fiel às HQs, expondo uma mulher poderosíssima mas ao mesmo tempo quebrada pela sequência de tragédias pelas quais passou. Já Bettany sempre ficou com um desafio diferente: desde quando era a voz original de Jarvis, o “mordomo virtual” de Tony Stark, sua atuação precisava conter um caráter robótico (ou falta de caráter), evidenciando uma frieza e inteligência acima do comum. Aos poucos isso foi se modificando para todo o afeto que ele desenvolve por Wanda.

Em ambos os casos, os atores foram desafiados amplamente e isso fica ainda mais evidente se pensarmos nos diversos gêneros dentro de um só, como falado acima. WandaVision é também uma história de amor, e o entrosamento da dupla OlsenBettany é digno de nota.

A vilã também merece elogios. Vivida pela carismática Kathryn Hahn, ela chegou a viralizar com uma música vinheta quando foi revelado que sua personagem, Agnes, era na verdade a bruxa Agatha Harkness, uma figura dos quadrinhos digna de compor o elenco do divertido Abracadabra (1993).

Participações especiais

Kat Dennings retornou para o MCU após ser alívio cômico nos filmes do Thor. No entanto, fiquei com a impressão de que dessa vez dosaram bem melhor suas aparições. Não que o núcleo FBI/S.W.O.RD. tenha sido mil maravilhas em seu desenvolvimento, né? Esse foi o ponto menos interessante de WandaVision, incluindo nele Randall Park como Jimmy Woo (personagem que já havia dado as caras em Homem-Formiga e a Vespa) e o diretor da S.W.O.RD., Josh Stamberg, mero cara corrupto/malvadão/ambicioso. Porém, são apenas pontos mais fracos e não comprometem a experiência da série em momento algum.

Saldo de WandaVision é pra lá de positivo

Há também o envolvimento do programa com Capitã Marvel através de Monica Rambeau (Teyonah Parris), que se mostrou uma personagem interessante, apesar de ter sido muleta do roteiro em alguns momentos. Filha de Maria Rambeau (que fundou a S.W.O.R.D.), melhor amiga de Carol Danvers, Monica foi vítima do estalo de Thanos e se viu numa situação pra lá de inusitada quando retornou, com a mãe morta e todo o problema em Westview. Aos poucos ela foi sendo trabalhada, ganhando poderes desenvolvidos pela série de contatos que teve com o HEX (nome dado à redoma criada por Wanda). O resultado disso é uma nova heroína dentro do MCU: a Fóton.

Se pararmos para analisar as cenas pós-créditos apresentadas no episódio final, levando em conta todo o desfecho, podemos afirmar que a minissérie, mesmo cumprindo seu papel de contar uma história fechada, oferece um considerável leque para especulação e teorias por parte dos fãs.

Mas isso tudo são detalhes dentro dessa narrativa gostosa que WandaVision nos oferece. O MCU está oficialmente no Disney+, reafirmando a capacidade da empresa em prender a nossa atenção como tem ocorrido com The Mandalorian, ao mesmo tempo que se apresenta no mercado como a maior concorrente da Netflix.