Pouco inspirada em seu segundo ano, O Justiceiro se sustenta mais uma vez na ótima encarnação de Jon Bernthal na série Marvel da Netflix
Nascido em 74 em uma das histórias do Homem-Aranha, o Justiceiro foi criado inicialmente como um vilão. Pegando carona no sucesso de filmes como Desejo de Matar, logo o personagem ganhou popularidade e sua própria série nos quadrinhos. Com o nome imortalizado no panteão de personagens da Marvel, seu forte apelo acabou invadindo as telas em adaptações frustrantes que nunca chegaram a empolgar. Eis que a mamãe Netflix decide trazer o personagem mais uma vez à vida e cá estamos para falar da segunda temporada de Frank Castle que, assim como a primeira, coleciona erros e acertos.
Dando sequência aos acontecimentos da temporada anterior, os novos episódios de Justiceiro começam com Frank tentando encontrar alguma paz depois de “vingar” a morte de sua família. Esse início funciona bem, buscando mostrar uma faceta mais “humanizada” do personagem de Jon Bernthal, que revela uma ótima química com a bartender Beth (Alexa Davalos, de The Man in the High Castle).
A boa impressão inicial perde seu fôlego quando a falta de imaginação dos roteiristas começa a dar as caras. Com a desculpa de que o Justiceiro se sente atraído para “voltar ao jogo” por conta de uma jovem indefesa (Giorgia Whigham) perseguida por assassinos – que logo vira uma espécie de sidekick de Castle –, podemos notar que o tom de sua jornada nas telas é mais uma vez suavizado. A brutalidade continua presente, mas sempre intercalada por um lado “bonzinho” do personagem que parece não se encaixar muito dentro da psique de um homem que traz um passado de endurecimento e se tornou, em virtude disso, uma máquina de matar.
Outro exemplo da falta de ousadia da série da Netflix está no personagem Retalho de Ben Barnes. Talvez para não desfigurar demais o rosto do ator, conhecido atualmente também pela série Westworld, a produção optou por maquiá-lo apenas com algumas cicatrizes, numa caracterização que está longe de como o vilão é retratado nos quadrinhos. Isso contribui para tirar o peso do drama vivido por Billy Russo, mesmo com os diálogos insistindo em sugerir que ele está completamente desfigurado. Para completar, seu núcleo com a psiquiátra Krista Dumont (Floriana Lima) não ajuda, trazendo uma relação médico-paciente rasa e pouco verossímil que se arrasta por grande parte dos episódios.
Por falar em núcleos, temos ainda o que envolve a máfia russa e o padre badass John Pilgrim (Josh Stewart). O personagem é interessante e chega a ser amedrontador em alguns momentos – coisa que o Retalho mesmo com seus ataques de fúria nunca consegue ser. Pena que a falta de foco da série, dividindo seu enredo entre vários coadjuvantes desinteressantes, acabe comprometendo seu ritmo e um melhor desenvolvimento dos pontos que mais se destacam.
Quer um bom motivo para encarar a nova temporada? Jon Bernthal. O ator desde sua primeira aparição como Justiceiro tem mostrado entender perfeitamente o que ele representa. Mesmo prejudicado pelo roteiro que diversas vezes o coloca em situações meio novelescas, Bernthal novamente se destaca com uma atuação de muita entrega, nivelando-se a Hugh Jackman como alguém que também pode se orgulhar por ter incorporado com tanta propriedade um “herói” dos quadrinhos. E será uma pena se os rumores se confirmarem e a série for cancelada, com o ator não voltando a encarnar o personagem.
Espremendo a laranja, é isso: o segundo ano de Justiceiro está longe de ser impecável. Muito em razão de seu roteiro por vezes preguiçoso e pouco inspirado que não está à altura do anti-herói da Marvel. Ainda assim, se você fizer algumas concessões, e curtir o personagem, encontrará um bom entretenimento para dar aquela maratonada.