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2020: Japão Submerso (Netflix) | Crítica

O ano de 2020 ainda está na metade e já tivemos muita desgraça, como a pandemia da Covid-19, a nuvem de gafanhotos, o governo Bolsonaro, dentre outros sinais do apocalipse. Mas um dos mais novos animes da Netflix, 2020: Japão Submerso, adiciona mais uma desgraça à equação: E se o Japão sofresse diversos terremotos até afundar?

A história segue um clichê de filmes de catástrofe onde uma família precisa sobreviver e resolver seus dramas enquanto o mundo acaba. O enredo segue uma estrutura de road movie, onde os personagens vão viajando enquanto encontram novos locais, coadjuvantes e tramas. O anime é uma adaptação do mangá de mesmo nome do diretor de Devilman Crybaby, Masaaki Yuasa, e se desenrola em uma história fechada concluída em uma temporada de 10 episódios.

Ainda assim, a animação traz algumas novidades. A principal é a forma como ele representa a violência e a morte de forma crua e gráfica. A maioria dos filmes de desastre hollywoodianos são com censura baixa, procurando atingir um público maior e fazer mais dinheiro com isso. Sem essa preocupação, a produção, com censura 18 anos, possui algumas cenas e mortes bem pesadas, mas nunca apelando demais para isso.

Apesar de sua trama instigante, o roteiro é fraco em diversos momentos. De inicio, a maioria das mortes e acontecimentos mais drásticos acontece do nada, sem nenhuma construção narrativa. É claro que estamos falando de um desastre natural aleatório, mas uma estrutura narrativa pede que cenas de clímax tenham uma boa construção. E isso não acontece somente nos momentos de desgraça, pois tudo parece que surge com uma facilidade grande, como alimentos e pessoas. Todas as vitórias e derrotas da história aparecem como um passe de mágica, criando um festival de deus ex machina. A impressão é que você está jogando aqueles jogos com cenários e desafios gerados aleatoriamente, sem uma construção pensada previamente.

Um dos problemas de 2020: Japão Submerso é como o roteiro representa as emoções. Existem momentos em que um personagem morre e os outros estão fazendo piada ou brincando pouco tempo depois. Em outros momentos, as emoções são exageradas demais. A impressão que dá é que a história foi escrita por um robô que está tentando imitar emoções humanas e raramente acerta o ponto correto.

Apesar disso, existem momentos em que a direção e o roteiro acertam e entregam cenas interessantes e emocionantes. Apesar da sutileza, o roteiro consegue abordar temas como xenofobia, patriotismo e gratidão no meio da sua narrativa. Existem algumas cenas de mortes que você sente a emoção e o final, apesar de bastante brega, consegue emocionar e nos fazer refletir, agradecendo por aquilo que temos, pois tudo pode acabar facilmente.

Outro fator que dificulta na conexão emocional são os personagens que são mal desenvolvidos ou simplesmente irritantes. Eu nunca vi uma obra que tivesse personagens tão chatos juntos. Temos uma criança que fica enfiando termos em inglês a cada duas frases, um youtuber que é a personificação do Gary Stu (personagem sem falhas que é bom em tudo) com um mágico e comediante, cheio de piadas sem graça e truques de prestidigitação sem nenhum contexto. A protagonista não tem muita construção a não ser representar uma jovem tentando sobreviver. Apesar disso, existem alguns personagens legais que deixam saudade quando eventualmente morrem.

O estilo de traço e animação usados aqui me deixam com sentimentos conflitantes. Em alguns momentos, acho um estilo pobre e preguiçoso, e em outros, fico feliz por ser um traço que representa as pessoas de forma mais realista. Essa escolha de estilo funciona com o tipo de história contada e ajuda a passar desespero em momentos tensos. A música é completamente sem sentido em diversos momentos, com o exemplo de uma música feliz tocando segundos depois de uma tentativa de estupro ou de alguém morrendo.

2020: Japão Submerso é um anime que traz novidades para o gênero de histórias de desastre. Se você é fã desse tipo de história, deveria dar uma assistida porque, provavelmente, vai gostar. Mas, infelizmente, ele peca em contar uma história que faz sentido ou em representar ações e emoções humanas de forma coerente. O anime passa mensagens interessantes e tem um final satisfatório, mas falha em diversos momentos durante sua execução em quesitos técnicos e de roteiro.