“As trevas retornam a Hawkins a tempo das férias, trazendo terror, lembranças perturbadoras e uma nova ameaça terrível”.
E foi assim, querida ruma de nerd, com um prelúdio de terror, que o primeiro volume de Stranger Things 4 chegou na Netflix, estreando no dia 27 de maio de 2022 aqui no Brasil. Nessa temporada, além dos personagens que acompanhamos desde o início da série, tivemos a inserção de outros membros na procura de agregar às histórias desenvolvidas em quatro núcleos distintos, porém conectados pelo antagonista.
Com um toque de terror, Stranger Things casa com o desenvolvimento das crianças, agora adolescentes, que passam por vários questionamentos internos e a famosa tentativa de se encaixar ou de pertencer a algo. Mas, como estamos falando de Hawkins, alguma coisa precisava acontecer para mexer com a galera. E é com uma onda de mortes bizarras que o grupo mais animado e viciado em Dungeons & Dragons (e, arrisco dizer, especialistas em Mundo Invertido) que se inicia uma tentativa de resolver a situação.
A nova temporada é a mais longa, contando com episódios entre 63 e 98 minutos em seu primeiro volume e com dois episódios de 85 e 150 minutos, encerrando uma temporada de 13 horas de duração em seu segundo volume (estreia prevista em 1º de julho de 2022). É por isso que, em alguns momentos, a série parece arrastada e demora muito para ficar boa. No entanto, é a temporada mais assustadora e mais ambiciosa da série. Trazendo destaque aos personagens de outros núcleos sem a dependência de Eleven (que está tentando recuperar seus poderes, pois a heroína do rolê).
E é com o desenrolar dos episódios finais e das investigações do grupo mais nerd de Hawkings que começamos a encaixar as peças e, junto às memórias de Eleven, entendemos que o novo vilão está diretamente relacionado com o passado e os gatilhos dolorosos da nossa futura professora Xavier. Em seu trauma mais escondido, a então garotinha 011 se depara com outras crianças e alguns adultos, no Laboratório Nacional de Hawkins, mortos enquanto se vê coberta de sangue. É só enfrentando esse passado sombrio que descobre que não foi a culpada por essas mortes, mas relembra que enfrentou seu tutor, Peter (a lenda 001), e o enfrenta em uma batalha de poderes telecinéticos que desencadeia não só a abertura do primeiro portal para o Mundo Invertido, como também dá origem ao nosso antagonista: Vecna.
Quem é Vecna no Dungeons & Dragons?
Vecna é o deus maligno dos mortos-vivos, da necromancia e dos segredos. É geralmente descrito como um mago poderoso que se assemelha a um cadáver dessecado sem a mão esquerda e o olho. Ele governa o que não deve ser conhecido e tudo sobre o que as pessoas querem manter em segredo. Os conjuradores malignos e os conspiradores prestam-lhe tributos. Ele os ordena a:
- Nunca revelar tudo o que se sabe;
- Encontrar a semente das trevas no seu coração e protegê-la, assim como encontrá-la nos demais e tirar vantagem disso;
- Enfrentar os seguidores de todas as outras divindades para que Vecna governe o mundo sozinho.
Originalmente, a “Mão e Olho de Vecna” foram mencionados na primeira edição do Livro do Mestre (1979), na página 124. Por isso, Vecna era considerado apenas um mito, até porque ele havia sido destruído e apenas a ameaça era capaz de atormentar os personagens de jogadores que ousassem usar sua Mão e Olho.
Dez anos depois, o Livro do Mestre de Dungeons & Dragons recebeu sua 2ª edição. Neste novo guia, a história de Vecna foi expandida sob a descrição de sua Mão e Olho e com a aventura “Vecna Vive!”, lançada um ano depois (1990). Vecna finalmente apareceu em “pessoa”, reimaginado como um semideus, e o principal antagonista da aventura.
Um tema constante nas aventuras em que o personagem aparece é a busca sem fim de Vecna pelo poder, terminando, caso ele tenha sucesso, com Vecna como a única divindade existente.
É possível cruzar as duas histórias dos Vecnas?
Ambos têm histórias traumáticas
O Vecna de Dungeons & Dragons nasceu como humano. Ele foi iniciado por sua mãe, Mazzel, na arte da magia, antes que ela fosse executada pelo governo de Fleeth por praticar bruxaria. Jurando vingança, Vecna chegou ao ápice do domínio das artes das trevas, coisa que nenhum outro mortal havia alcançado. Alguns dizem que essa conquista foi devido à tutela direta de Mok’slyk, a Serpente, que se acredita ser a personificação da própria magia arcana.
Já o Vecna da série, na verdade é Henry Creel, um personagem que, quando criança, já demonstrava alguns comportamentos no mínimo estranhos (como o seu amor por viúvas negras ou o treinamento psíquico que fazia enquanto matava pequenos animais). Mas, neste caso, a mãe do Vecna de Hawkings desconfiou que ele fosse perigoso para si mesmo e para o resto da família, e, por isso, buscou ajuda para tentar tratar o filho de uma provável “natureza perturbada”. Henry fica tão incomodado com isso que o seu treinamento psíquico intensivo foi parte de um plano para matar a mãe e a irmã e incriminar o próprio pai, Victor Creel (que agora vive num asilo psiquiátrico), que se tornou o único sobrevivente desse massacre familiar.
Quanto mais similaridade, melhor!
Ainda com o personagem do Dungeons & Dragons, temos Vecna se tornando governante de um grande e terrível império e sitiou a cidade em que sua mãe foi executada com um exército de conjuradores arcanos e mortos-vivos. Vecna acaba morrendo (traído por seu tenente mais confiável), mas, após uma série de eventos, retorna como um deus – por isso imortal.
Quando comparamos à série, o Vecna vai ficando mais forte a cada vítma que faz. E, como na descrição do personagem de Dungeons & Dragons, ele se aproveita dos segredos mais sombrios (sempre um evento traumático que a simples lembrança deixa a aquela pessoa totalmente vulnerável) e tortura suas vítimas antes de acabar com suas vidas.
Olhando para as duas histórias, dá para perceber que, em Stranger Things, Vecna não é baseado no personagem de Dungeons & Dragons, mas recebe o nome dele pelos personagens principais da série com base em algumas semelhanças, assim como aconteceu com o Demogorgon e o Devorador de Mentes.