Easy e a incrível previsibilidade da vida

Não faltam no mercado séries que, de alguma forma, buscam emular as nuances da vida real. Seja para acrescentar contornos de fantasia ou simplesmente para escancarar o quanto a rotina é completamente sem brilho (mesmo que isso seja uma questão de ponto de vista). Easy, nova produção original da Netflix, flerta mais com a segunda opção; mesmo quando decide suavizar as consequências de algumas ações. Ainda assim o resultado final é cru, por mais que se anseie por um desfecho diferente.

No formato de antologia, Easy usa Chicago como cenário para contar a história de pessoas completamente diferentes mas que buscam algo em comum: sair da mesmice, quebrar a rotina e atingir um ponto de satisfação com a vida. Não importa a idade, a profissão ou o status social. Ninguém está imune ao sentimento da previsibilidade. A série é uma criação do eclético Joe Swanberg, que tem no currículo filmes como o terror V/H/S e a comédia Um Brinde à Amizade.

Ao utilizar relacionamentos como pano de fundo para os episódios, Joe flerta com outro tema cada mais sufocado na sociedade atual: o amor. Aqui temos o amor entre casais, amigos e familiares. Mas de forma sábia ele mistura essa discussão com outros elementos presentes no cotidiano das pessoas. Entre eles veganismo, homossexualidade, redes sociais, questões de gênero e etc. Isso faz com que Easy venda uma imagem de série antenada com os assuntos do momento.

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O sexo também está presente na maioria dos episódios, sendo em alguns casos o caminho utilizado para apresentar um ponto de vista. Sexo a três, casual, traição e etc. Mas nada que seja banal, tudo voltado para o resultado final. Outro ponto de destaque de Easy é o seu elenco estrelado. Nomes como Orlando Bloom, Aya Cash, Malin Akerman, Dave Franco, Elizabeth Reaser e outros dão as caras na série. Não existe uma super atuação, até porque isso não é necessário. Aqui o básico já é o bastante para a trama. Ainda assim não deixa de ser legal ver rostos conhecidos das telonas em uma série.

Acontece que a forma de Joe contar suas histórias ajuda, mas também atrapalha o resultado final. Em suas obras fica clara sua busca por trabalhar a atmosfera, mirando uma intimidade com o espectador construída através do realismo. Mas isso acaba comprometendo a trama em determinados momentos. Falta um significado maior, o famoso “aonde quero chegar com isso”. Nesse texto estou dizendo que a vida, muitas vezes, é assim. As coisas simplesmente acontecem, sem nenhum motivo especial por trás. Normal como o nascer e pôr do sol. Mas isso não impede que alguém afirme que gastou horas de sua vida com nada mais que um punhado de personagens pouco interessantes. E que tem coisa melhor para assistir na Netflix (o que não é uma total mentira). É um jogo bem arriscado.

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A Netflix, aliás, tem outras produções similares em seu catálogo. A ótima Master of None e Love são alguns exemplos. Séries que tratam do cotidiano e de como o amor se encaixa em nossa rotina. Easy tem seu espaço nessa escala. Nem muito perto do fundo do poço, mas longe do topo. Não vai te fazer chorar de rir, mas também não vai te jogar em um tédio completo. É uma série normal, para assistir num dia normal.