A Casa Coruja (The Owl House, no original) é uma das melhores séries que o Disney+ trouxe (mesmo cometendo a atrocidade de cancelá-la) nos últimos anos.
Na história, Luz é uma humana que foi parar acidentalmente nas Ilhas Escaldadas, local que faz parte de outro mundo, cheio de magia e seres incríveis. Junto com Eda, a mulher coruja, King e outros amigos, a garota passa por mil e uma aventuras que vão ficando cada vez mais perigosas à medida que certas forças começam a se movimentar com um objetivo em mente: poder.
Claro, dizendo assim nem parece que a animação é divertida e traz um monte de gargalhadas para quem assiste. Também temos bastante representatividade que não foi esvaziada só para ter representatividade!
Começando pela protagonista: Luz, que, assim como a sua criadora, Dana Terrace, é bissexual, se tornando a primeira protagonista bissexual da Disney. Sim, a “casa do rato” nos trouxe outros personagens LGBTQIA+, mas Luz foi a primeira protagonista abertamente bi. E não só isso, ela possui um relacionamento com Amity e a série não esconde isso – o que, infelizmente, afetou as famílias tradicionais estadunidenses e fez com que a série fosse cancelada. Dana não se arrepende de nada!
Para a felicidade dessas pessoas, a série não pôde ser transmitida na Hungria e nem na República Tcheca por conta do seu conteúdo “LGBTQIA+” numa animação para crianças. É proibido!
Luz e Amity não são as únicas personagens declaradamente LGBTQIA+, e podemos encontrar casais aquileanos (dois homens), personagem não-binário, etc.
Dana Terrace, como toda boa artista (ou seja, acúmulo de atividades artísticas), é animadora, escritora, diretora, artista de storyboard e dubladora! Dentro do universo de A Casa Coruja, ela criou uma (um?) personagem para si, Tinella Nosa, que além de ser uma caricatura de si mesma, é dublada por ela. A artista também dublou outros personagens dentro da série, todos secundários.
Ah, Alex Hirsch, o criador da maravilhosa série Gravity Falls, também da Disney, é quem faz a voz original do King.
A Casa Coruja possui diversos easter eggs de outras obras, não necessariamente da Disney. Por exemplo, em sua abertura, na cena de King com seus ursos, se você pausar e observar o lado direito da tela, verá o protagonista do jogo Hollow Knight, ou um pôster idêntico à capa de Crepúsculo em um dos episódios. E claro, mil e uma referências também, como He-Man e Dragon Ball Z, e, mais importante, a outra série maravilhosa da Disney em que ela esteve envolvida na produção: Gravity Falls. Você pode encontrar teorias na internet que apontam uma ligação entre os mundos das séries e coisas do gênero. E se não assistiu, corre para ver.
Falando em referências, Dana revelou que, para a criação das Ilhas Escaldadas (e do visual da série, no geral), ela se inspirou em artistas bem interessantes, como Hieronymus Bosch, pintor holandês do século XVI cujas obras possuem muito de surrealismo e simbologia, para retratar medos, terrores psicológicos, criaturas imaginárias, entre outras coisinhas a mais; ou John Bauer, pintor e ilustrador sueco do fim do século XIX, no qual sua obra mais famosa é Bland Tomtar och Troll, uma coleção de contos de fadas.
Aliás, a arte está sempre presente durante a série inteira em vários detalhes, e posso dar como (outro) exemplo a “tapeçaria” no Castelo do Imperador sobre a Era Selvagem, pois é uma referência à uma pintura chamada “Ninfas dançando para a flauta de Pã“, do pintor tcheco-americano Joseph Tomanek.
Outra coisa que Dana parece gostar bastante são mensagens escondidas, como o caso da primeira letra de cada episódio de cada temporada (EM INGLÊS!). Por exemplo, se unir as primeiras letras de cada episódio da primeira temporada, você encontrará a mensagem “A witch loses a true way“. Cada mensagem, ao que parece, remete ao que acontece na temporada.
E temos até mesmo palavras em códigos escondida no background da série em formato de runas, e você pode encontrá-las ao longo de episódios e decifrá-las. Na primeira temporada, elas estão marcadas com um olho. Por aqui, já descobriram que cada símbolo representa um som fonético do alfabeto inglês.
Inclusive, a primeira mensagem de texto que Luz envia para Amity (nessa simbologia citada) é “Você é linda”.
Em determinados momentos dos episódios, podemos encontrar personagens que praguejam, mas de um jeito family friendly (isso na versão original), soltando frases que incluem “oh cramity!” ou mesmo utilizando a palavra witch num sentido muuuuuuuuuito próximo ao de bitch. E ou isso passou direto pelo radar da Disney ou permitiram!
Em A Casa Coruja, as Ilhas Escaldadas é um lugar cheio de magia, mas que não possui humanos – isso até Luz chegar. A pobre alma descobre logo que não possui magia natural, porém, eventualmente ela percebe que para lançar determinados feitiços, Eda fazia uma espécie de símbolo mágico e, assim, Luz pôde reproduzi-lo, descobrindo as “gliphs”. Como todo bom fã não descansa, logo cavucaram o assunto o suficiente para perceberem que esses sinais têm inspiração no mundo real, que é o caso da utilização de símbolos alquímicos.
E esses são apenas alguns dos fatos que envolveram a produção dessa série maravilhosa, cujo encerramento veio na terceira temporada, que possui apenas 3 episódios de 40 e poucos minutos.
E aí? Sabia, não sabia…? Conta pra gente!