Capitão América – Guerra Civil | Review

O MCU vai bem, obrigado!

Coxinha ou petralha, esquerda ou direita, bolacha ou biscoito, herói contra herói. Em tempos tensos como o atual, diferenças de qualquer tipo contribui para reforçar a polarização entre as pessoas. Capitão América – Guerra Civil é mais um filme do circuito comercial a embarcar nesse tema nada novo, mas em muita evidência. Tema esse também apresentado há menos de um mês com Batman Vs Superman – A Origem da Justiça, questionando qual o papel dos super-seres aparentemente bem intencionados, suas responsabilidades e a quem devem responder.

Até mesmo a proximidade entre o filme da Disney e Warner podem gerar algum tipo de disputa devido à rivalidade criada por fãs da Marvel e DC Comics, editoras que fornecem o material de origem para os filmes vindos das HQs, tornando as comparações inevitáveis em algum momento. Tretas à parte, esse novo Capitão América tinha a missão de não apenas adaptar uma das sagas de maior repercussão das histórias em quadrinhos, mas também de introduzir novos personagens de forma orgânica para o já estabelecido universo compartilhado da Marvel, além de ser uma continuação direta de Capitão América – Soldado Invernal. Tá bom ou quer mais?

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A trama se dá quando o governo cria um órgão para supervisionar os Vingadores, e os Maiores Heróis da Terra se dividem em dois times. Um liderado por Steve Rogers e seu desejo em manter os Vingadores livres para defender a humanidade sem interferência do governo, e o outro que segue a surpreendente decisão de Tony Stark em apoiar o Estado na fiscalização e responsabilização de seus atos.

Soldado Invernal 3

Captain-America-Chris-Evans-ChopperFique tranquilo, Capitão América – Guerra Civil consegue (à sua maneira) entregar de forma digna tudo esperado. Pra quem prefere encarar o longa como uma continuação direta de Soldado Invernal, há comodidade para tanto. Steve Rogers (Chris Evans) continua se opondo a quem tenta – de forma arbitrária – lhe dar ordens. Sharon (Emily VanCamp) e Peggy estão lá para mexer com o coração dele, participando de forma eficiente diante do pouco tempo disponível. O Buck Barnes (Sebastian Stan) está totalmente integrado na trama, catalisando os principais eventos do filme como no principal embate entre Capitão e Homem de Ferro. Também dá o ar da graça Ossos Cruzados (Frank Grillo) durante o arco introdutório, num visual muito diferente e bizarro. Outra característica persistente são as cenas de perseguição e as lutas bem coreografadas. sendo que cada personagem possui seu estilo, ou seja, temos o Capitão América lutando num estilo que mistura judô, caratê e tae-kwon-do, enquanto o Pantera Negra se inspira na capoeira e kung-fu.

Homem-Aranha e Pantera Negra

civilwar-8A missão ingrata de apresentar pela primeira vez o Homem-Aranha (personagem mais famoso da Marvel) e o já citado Pantera Negra também é atribuída ao filme. E aqui a nota é 10: Tom Holland entrega um Peter Parker que tem todo potencial para se sobressair em relação a Tobey Maguire e Andrew Garfield, mas ainda precisa de um tempo maior de tela para ganhar o cinturão. Não que sua participação em Guerra Civil seja oca. Está tudo lá: a lendária frase sobre poder e responsabilidades aparece de forma não literal mas poderosa, a tia May (Marisa Tomei) bonitona, o piadista nato e ainda inexperiente herói, e os uniformes. Em pouco tempo a Marvel conseguiu estabelecer o que quer do personagem, encaixá-lo de forma orgânica na trama deixando o expectador eufórico e ansioso para ver o seu filme solo que chega em 2017.

Menos impactante mas ainda com muita qualidade é o T’Challa de Chadwick Boseman. As menções a Wakanda agora são constantes, é muito divertido ver as cenas de ação com o Pantera Negra devidamente trajado e sua participação não se limita a uma escolha de lados na hora da briga. Ainda na áfrica, o Rei T’Chaka (John Kani) tem participação determinante, já Everett Ross (Martin Freeman) não possui grande destaque disperdiçando assim o talento do ator.

Cada um no seu quadrado

pageDe uma forma geral, todos os personagens possuem seu momento. Tanto Máquina de Combate (Don Cheadle) e Falcão (Anthony Makie) quanto Viúva Negra (Scarlett Johansson) e Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) já foram exaustivamente mostrados ao grande público, dando a Christopher Markus e Stephen McFeely a liberdade de usá-los como quiser no roteiro. Já o Homem-Formiga (Paul Rudd) rivaliza com o aranha nas piadas, e também possui sua GRANDE cena no filme (desculpas pelo trocadilho). A maior dificuldade ficou pelo encaixe da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e do Visão (Paul Bettany). Às vezes Wanda se limita demais a usar sua telecinese para fins muito básicos como atirar carros nos adversários, enquanto o androide fica sumido por muito tempo (sem explicação) durante a excelente batalha do aeroporto. Já alguns buracos como a ausência de Nick Fury ou Maria Hill só devem ser explicados na série Agents of SHIELD.

Capitão América x Homem de Ferro

captain-america-civil-war-iron-manTony Stark (Robert Downey Jr) está muito diferente da sua estreia com Homem de Ferro (2008). Sua postura rebelde atingiu o ápice em Vingadores – Era de Ultron e agora ele procura ser uma pessoa muito mais responsável, tendo que lidar constantemente com as exigências do ex-coronel e agora Secretário de Estado Thaddeus Ross (William Hurt), lembra dele em O Incrível Hulk?), mostrando uma faceta diferente para o personagem, e até mais emocional em outros momentos. Já o ideal de Steve Rogers continua inabalável, e a interação entre os dois é o que garante a qualidade do filme como um todo, e o impede de falhar nos principais pontos onde Batman Vs Superman pecou. Ambos transitam no campo do que pode ou não ser considerado ilegal, imoral ou até mesmo antiético, sempre pautados pelo respeito e amizade que possuem de forma recíproca.

HQ x Cinema

civil-war-3A Guerra Civil dos cinemas é – como todos previam – muito menos polêmica do que sua fonte de inspiração, mas isso não significa que seja menor. Enquanto a versão impressa instigava leitores a visitar fóruns de debate para deixar claro sua posição (geralmente a favor do Capitão América), no filme tudo é mais global, visitando diversos países como EUA, Alemanha, Nigéria… e quem sabe Wakanda (aguarde o pós-créditos)? A verdade é que para adaptar de forma mais próxima seria preciso uma sincronia aparentemente impossível para o MCU em termos de logística e até de roteiro. Mas Joe e Anthony Russo usam de forma digna o material em mãos, mesclando de forma competente tensão e diversão.

Então não temos o tão sonhado filme sombrio da Marvel Studios? Não, e é provável que não tenha tão cedo (talvez com Doutor Estranho?). Já a ansiedade para conferir Spider Man – Homecoming (ainda sem título nacional) e Pantera Negra estão lá no topo e muito se deve à diversão proporcionada. Unir tantos personagens e convencer não é uma tarefa simples, e nesse ponto Capitão América – Guerra Civil se assemelha a Os Vingadores (2012), porém com um texto bem mais complexo. O status quo do MCU foi mudado, cabe aos irmãos Russo agora darem conta da maluquice cósmica que deve ser Guerra Infinita. Até lá, os eventos de Guerra Civil devem regar as séries (tanto da ABC quanto Netflix) e influenciar em suas histórias como nunca antes um filme da Marvel conseguiu. Isso pode ser ótimo ou péssimo.