stonewall stonewall

Mês do Orgulho LGBTQIA+| O início da luta!

E ai ruma de nerds! Talvez alguns de vocês não saibam, mas este mês, além de comemorarmos o dia dos namorados, é o mês do orgulho LGBTQIA+! Muitas pessoas não entendem a importância de tanto orgulho, então viemos aqui contar um pouco para vocês, porque, afinal, o que é mais cultura nerd do que conhecimento?!

Antes de tudo, é importante lembrar que a homossexualidade só foi retirada do catálogo internacional da OMS como  transtorno mental em 1990, exatamente no dia 17 de maio. No Brasil, essa atitude foi tomada mais cedo, em 1985. E, se hoje você acha que há preconceito, imagina na época em que não somente você era proibido de ser você mesmo, como poderia ser preso por isso? Um exemplo enorme disso é uma das pessoas que todos deveríamos idolatrar: Alan Turing, também conhecido como o pai da computação! Sem ele, você não estaria jogando esse The Witcher 3 no seu computador! Mesmo sendo uma pessoa superimportante (algo retratado no filme O Jogo da Imitação, de 2014)), ser homossexual era proibido, e, como alternativa para não ser preso, teve que se submeter a coisas horríveis e, no fim… bem, não teve um final feliz. E se você acha que esperar até a década de 1990 para não ser mais considerado um doente por amar alguém, fique sabendo que somente em 2018 as pessoas trans pararam de ser consideradas doentes mentais pela OMS. Pela sociedade, ainda tem muito caminho pela frente.

E o que tudo isso tem a ver com a cultura nerd/pop?! Tudo.

Então, hora de retroceder um pouco e descobrir como toda essa revolução começou!

1. Stonewall

Madrugada do dia 28 de junho de 1969, foi quando a polícia “resolveu fazer” uma batida no bar Stonewall Inn, em Nova York. Era a terceira vez, em um curto espaço de tempo, que policiais faziam essa ação em bares gays da área. Esse bar era um dos únicos para homens gays e, apesar de ser descrito como um local caindo aos pedaços, como a dança era permitida, atraia clientela. Na época, havia uma restrição relacionada ao vestuário: mulheres precisavam usar pelo menos três peças de roupa “femininas” e homens não poderiam usar roupas “não apropriadas” ao seu gênero.

Revolta de Stonewall – Imagem por CBS NEWS

Nesse dia, policiais entraram no local e, sob a alegação de que a venda de bebida alcoólica era proibida ali, prenderam funcionários e começaram a agredir e a levar sob custódia alguns frequentadores que não estavam como mandava a lei.  Algumas das pessoas presas, ao serem levadas para a viatura, decidiram provocar os policiais fazendo caras e bocas para a multidão. A polícia começou a usar de mais violência para fazê-las entrar nos carros.

A partir daquele momento, a multidão fora do Stonewall Inn começou a jogar moedas nos policiais e, em seguida, garrafas e pedras, os policiais tentaram fazer uma espécie de barricada para se defender dos manifestantes e acabaram sendo encurralados dentro do bar. Alguém atirou um pedaço de jornal com fogo dentro do Stonewall Inn, e começou um incêndio. Os policiais, que usavam uma mangueira para conter as chamas, decidiram usar aquela água contra a multidão. A situação foi tão absurda que, ao invés de instigar a comunidade a ficar quieta, praticamente chamou todos às ruas.

Parte da comunidade gay de Nova York, que até então se escondia, foi protestar nos arredores do Stonewall Inn durante seis dias. Os manifestantes demonstravam orgulho de ser quem eram e provocavam a ordem e a polícia, como relata o jornalista Lucian Truscott IV, na reportagem sobre a revolta publicada no jornal Village Voice. “Mãos dadas, beijos e poses acentuavam cada um dos aplausos com uma libertação homossexual que havia aparecido apenas fugazmente na rua antes”, escreveu ele.

No que resultou tudo isso? Surgiram diversos grupos que lutavam pelos seus direitos, foi um chamado simbólico para que muitas pessoas se sentissem instigadas a irem à luta. O historiador David Carter observa que o verdadeiro legado dos tumultos de Stonewall é a “luta contínua pela igualdade de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros”.

 2. Brasil

Entre os anos de 1950 e 1960, os movimentos de contestação à ordem e aos “bons costumes” ganharam força, mas, no Brasil, o período estava marcado pela ditadura civil-militar. O discurso de liberação sexual repercutiu pelo país, porém, por conta da intensa repressão (AI-5, por exemplo), as pessoas LGBTs não puderam reivindicar seus direitos. Inclusive, por conta do padrão moral ultraconservador (que estão tentando trazer novamente) fez com que essas pessoas fossem perseguidas, inclusive no ambiente de trabalho, por meio do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty).

A comunidade LGBT brasileira se encontrava em casas noturnas, bailes de carnaval ou em fã clubes de artistas, os únicos locais em que podiam afirmar sua identidade. Aos poucos, foram se ampliando os espaço de sociabilidade e interação. Figuras artísticas públicas começaram a se destacar, mas eram quase sempre vistas como personalidades exóticas, como Clodovil e Ney Matogrosso.

Protesto contra “Operação Limpeza” – Imagem por História do Movimento LGBT Brasileiro

Entre os anos de 1975 e 1982, as rondas policiais no centro da cidade eram destinadas especialmente à abordagem violenta e à prisão dessas pessoas pela suposta prática de vadiagem. Estima-se que, durante os finais de semana, entre 300 e 500 pessoas eram detidas, arbitrariamente, por noite, em São Paulo. Dentre estas, muitas eram extorquidas e algumas foram torturadas. Músicas foram vetadas por “divulgarem o homossexualismo”; publicações dirigidas ao público homossexual, como o Lampião da Esquina, tiveram sua circulação dificultada e foram monitoradas; peças de teatro foram impedidas de entrar em cartaz e muitos filmes foram retirados das salas de cinema por todo o país sob a acusação de erotismo ou pornografia.

3. Jornais/Periódicos

Durante a década de 1960, começaram a circular, no Rio de Janeiro, diversas publicações voltadas ao público homossexual, como o jornal “O Snob”, fechado por pressão da censura no final daquela década. Elas foram precursoras de periódicos, como o Lampião da Esquina, primeira revista brasileira feita por homossexuais e dirigida a esse público.

 O LAMPIÃO DA ESQUINA

O primeiro jornal de temática homossexual com grandes tiragens e circulação nacional foi “O Lampião da Esquina”, fundado em 1978. Ele se aproveitou do abrandamento da censura imposta pelo regime militar, e fazia oposição à ditadura servindo para denunciar abusos cometidos contra a comunidade LGBTQIs, mas também abrangia outras causas, como a questão indígena.Em sua edição de 1979, “O Lampião da Esquina” abriu espaço pela primeira vez para participantes lésbicas, que escreveram um longo artigo chamado “Não somos anormais”.

CHANACOMCHANA e o Stonewall brasileiro

Em 1981, essas participantes criaram um novo jornal, que depois foi transformado em boletim, o “Chanacomchana”, que era vendido no Ferro’s Bar, local frequentado por lésbicas no centro de São Paulo. Sua venda não era aprovada pelos donos, e as militantes chegaram a ser expulsas. No dia 19 de agosto de 1983, participantes do Galf (Grupo Ação Lésbica-Feminista, fundado em 1981), com apoio de outras feministas e gays, driblam o porteiro do Ferro’s, fazem um ato político e conseguem reverter a proibição. O evento repercutiu nacionalmente e é comparado à Revolta de Stonewall.

Apesar das muitas vitórias conquistadas até os dias atuais, muitas coisas ainda são privadas à comunidade –  só recentemente é que permitiram pessoas LGBTQIA+ doarem sangue! E a contribuição das pessoas da sigla ao mundo nerd é enorme! Já citamos Alan Turing, mas também temos Lynn Ann Conway, que é a responsável por melhorar o desempenho dos processadores e popularizar os computadores; Ann Mei Chang, que chefiou a equipe de engenheiros que criou, por exemplo, o gmail; David Geffen, fundador da Dreamworks; Sally Ride, que foi a primeira mulher a ir ao espaço. E isso porque só começamos a arranhar a superfície!

Então tenhamos orgulho de todas as pessoas que tem que lutar, diariamente, e há muito tempo, para ter seu direito de ser quem é respeitado. Cultura nerd/pop é para todes!