No texto de hoje, Céfora Carvalho comenta os acontecimentos em Charlottesville e nos leva a uma reflexão sobre nossos privilégios enquanto brancos.
No último sábado (12), fomos surpreendidos com a notícia de que um grupo de extrema-direita americana foi às ruas demonstrar apoio ao nazismo e lutar a favor da supremacia branca. Apesar de ter causado espanto em todos, talvez essa atitude seja mais comum do que imaginamos.
Não é difícil encontrarmos pessoas que afirmam que o racismo e outras formas de preconceito não existem e são apenas exageros criados pela cabeça fantasiosa de alguém. Para quem não sofre desses preconceitos e nem se importa em enxergá-los, tudo parece estar bem. Essas são pessoas que possuem orgulho ao se dizer “conservadoras”, não tendo a menor noção do peso de suas palavras.
Discordamos de uma manifestação a favor da supremacia branca, mas somos os primeiros a questionar porque apenas a vida dos negros importa, já que os brancos também sofrem “racismo reverso”, ─ leia qualquer post sobre a #BlackLivesMatter e verá comentários do tipo ─ como se todos os dias brancos morressem pela cor de sua pele.
Discordamos de um grupo radical quando esse pede morte a uma minoria, mas não levamos seus movimentos a sério. Não deixamos nossas piadas preconceituosas de lado, não fazemos questão de mudar o mundo de fato, porque a verdade é que ele está confortável para nós. Temos o luxo de nos posicionarmos no muro da neutralidade, dizendo não ter opinião formada sobre algo que não nos atinge.
Foi horrível ver que especialistas precisaram escrever textos sérios para mostrar porque esse tipo de apoio é absurdo. Em pleno século 21 pessoas parecem ter ignorado totalmente as aulas de história, mas podemos ter a certeza de que as vítimas não ignoraram. Se para os brancos o racismo é explicado na escola, para os negros ele é vivido desde muito cedo. Existem pessoas sendo odiadas pela cor de sua pele e isso não é raro, muito menos está acontecendo apenas nos Estados Unidos.
Outro posicionamento defendido pelos extremistas do protesto foi o nazismo. Sim, o movimento responsável por ter matado mais de 6 milhões de judeus de forma desumana nos campos de concentração ainda tem seguidores. E a reação de muitos foi discutir se Hittler era de direita ou esquerda. Me pergunto se as brigas partidárias não foram longe demais, a ponto de parecerem pauta mais urgente do que o absurdo que está acontecendo.
Certamente selecionar qual grupo seria culpado por tal desumanidade é bem mais importante do que pensar em formas de acabar com isso. A verdade é que no fim todos somos culpados por nos mantermos quietos ou desviar a atenção para aquilo que queremos. Esse não é um texto apenas de desabafo, é mais uma constatação de privilégios. Se podemos fomentar brigas partidárias, observar toda essa situação de cima ou simplesmente nos abster da política é porque somos privilegiados e nada disso está nos atingindo de verdade. Não corremos o risco de morrer apenas por nossa cor de pele ou origem, então por que isso nos interessaria?
Não se trata apenas de política (direita vs esquerda), textões e likes nas redes sociais, trata-se de humanidade! Podemos continuar sentados no muro da neutralidade, aproveitando tudo de melhor que nossos privilégios oferecem, mas que tenhamos a certeza de que os extremistas lá fora estão tomando as ruas e se não forem barrados, ganharão seu espaço. A história se repete e apenas lamentar não deveria ser uma opção!