Dia dos Namorados e a síndrome do Nerdão

Na semana do dia dos namorados, eu não poderia falar de outra coisa. Foi difícil evitar o assunto vendo tantos comerciais, fotos e textos românticos ─ ou não ─ e acredito que está na hora de entrarmos nessa temática pertinente. Se o dia dos namorados é excelente para os comerciantes, e feliz para os que estão comprometidos, também serve de reflexão para muitos solteiros. É um momento em que muitos começam a se questionar porque estão sozinhos e a reavaliar suas ações. Se este é o seu caso, esse texto é para você.

Antes de falarmos sobre relacionamentos, quero lembrar da personagem Nerdão, dublado pelo querido escritor Affonso Solano ─ caso não conheça, confira aqui. Apesar de cômico, ele representa boa parte do público nerd masculino atual: egoísta e machista. O Nerdão acredita que só ele conhece de verdade aquele filme ou série que ama e acha horrível o fato de meninas se envolverem com o meio nerd. Na verdade, ele acha que essas meninas só querem a atenção masculina. Até porque, por qual outro motivo gostaríamos de filmes, séries e quadrinhos?

Obviamente, a personagem em si não existe, é apenas uma voz que o Affonso criou para fazer piada. Mas eu aposto que se o Nerdão tivesse um Facebook, ele reclamaria de estar sozinho no dia dos namorados, pior ainda: ele seria a típica pessoa que diz que não existem mulheres no meio nerd. Talvez você esteja se perguntando o que isso tem a ver de fato com o Dia dos Namorados e que reflexão se tira desse texto, e é agora que a trama se complica.

Apesar de ser apenas uma personagem, existem muitos com a síndrome do Nerdão em nosso meio. Muitos garotos reclamam da falta de presença feminina no meio nerd, mas são extremamente tóxicos quando se deparam com ela. Experimente conversar com meninas cosplayers, youtubers ou podcasters e perceba que o que estou falando é uma triste realidade. As mulheres precisam estar provando o tempo todo que realmente são nerds. Quantas de nós já não ouvimos questionamentos sobre o passado de um personagem dos quadrinhos e outras perguntas igualmente inúteis? Se falarmos com as gamers, essa situação chega a ser caótica. O simples fato de ser mulher e jogar já é o causador de inúmeros xingamentos misóginos por parte dos jogadores homens. Parece que só somos bem-vindas enquanto personagens sexualizadas ou figuras públicas que vendem sua imagem, e não seu conhecimento.

Acho que, nesse ponto, já ficou fácil entender o que isso tem a ver com a autorreflexão do dia dos namorados. Primeiro de tudo: precisamos estar bem com nós mesmos para só depois procurar algo. É clichê e todo mundo fala, mas nem por isso deixa de ser uma verdade universal. Tendo isso em mente, é importante fugir da síndrome do Nerdão e sempre reprovar a atitude daquele amigo que adora ser assim. Não adianta reclamar que não achamos meninas entre a tribo se a tornamos tóxica e inabitável a elas. Somos todos iguais e nós, como mulheres, deveríamos ter o direito de fazer parte do movimento nerd sem precisar provar muita coisa.

Então, caro leitor, espero que todos os comprometidos tenham tido um ótimo dia, que os solteiros não tenham se deprimido e que os Nerdões percam cada vez mais espaço em nosso meio. Filmes, séries e quadrinhos não possuem “donos” nem credencial para “fãs de verdade” e podem ─ e devem ─ ser apreciados por todos, homens e mulheres, igualmente.