Neil Armstrong, o pai do Astrobaldo

A ficção científica e toda a magia em imaginar o espaço fora da terra perseguem esse homem. A começar pelo nome. Neil Armstrong, não o astronauta mas o pai de Astrobaldo, é nosso entrevistado da coluna Animaland. Neil é um dos nomes mais importantes na história da animação no Ceará, principalmente na ousadia e pioneirismo sendo um dos primeiros a experimentar a animação 3D, apresentadores virtuais e tantas outras coisas comuns nos dias de hoje, mas totalmente inovadoras há mais de 20 anos atrás.

Ele nos contou sobre a sua história, principais referências e suas dicas para quem quer entrar no mercado de animação.
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ANIMALAND: Neil, porque você resolveu entrar na área da animação, onde foi que ela te conquistou?

NEIL ARMSTRONG: Eu sempre gostei de desenhos animados, mesmo tendo pouco acesso na década de 70 em uma cidade do interior do Ceará. Naquela época, era tudo um sonho distante, mas eu ainda fazia animações desenhando nas bordas dos livros de história, que eram mais grossos. Gostava muito de cinema, teatro, desenho, e de contar histórias.

Quando entrei para a universidade escolhi um curso que de alguma forma me desse possibilidades de desenvolver algo com movimento e a Ciência da Computação era a única que eu imaginava que era possível programar qualquer coisa, inclusive movimentos. Na década de 80, eu imaginava que a Computação Gráfica poderia fazer uma grande diferença no mundo do cinema. E foi o que aconteceu. Em 1991, formei um grupo de estudos em Computação Gráfica e movimento, chamado GIA.

Poucos professores sequer tinham conhecimento nessa área e os monitores era ainda em preto e branco, mais preto do que branco. Acabamos fazendo um filme de animação programado em C e ainda ganhamos um prêmio com isso. Foi aí que percebi que poderia ir à frente com animação usando computação. E no mestrado, a tecnologia foi se desenvolvendo tanto que os programas foram se tornando mais acessíveis, o que nos trouxe à época atual.

ANIMALAND: Você também é professor na universidade, como você vê essa relação de formação e o mercado de trabalho? E como você sente que os novos alunos enxergam esse mercado?

NEIL ARMSTRONG: Os alunos ainda tentam entender o mercado, mas já tem noção da expansão dele. Na verdade, temos um mercado fabuloso na área de animação. O que faltam são equipes especializadas, profissionais formados e dedicados à área. Procuro sempre formar grupos de pesquisa para dar uma noção de teoria, mercado, ferramentas e forma de trabalho com padrão internacional para que, além das disciplinas, eles tenham essa visão e se prepararem para isso. A formação é muito importante e é fundamental que ela seja colocada em prática o quanto antes.

ANIMALAND: Na Lunart, vocês tem um trabalho de sucesso em série de animação, que é o Astrobaldo, inclusive entregando o material dentro dos prazos etc. Como foi o processo de produção? O que você conseguiu ver de aprendizado na execução de uma série de animação?

NEIL ARMSTRONG: São tantas lições a cada série que é difícil enumerar. Mas a maior de todas sempre tem a ver com planejamento, organização e controle. Cada vez mais percebemos que uma equipe de produção e acompanhamento é tão importante quanto a equipe de criação em si.

ANIMALAND: Fazer série de animação e filmes de animação tem diferenças no processo de produção ao seu ver?

NEIL ARMSTRONG: Com certeza tem. Um filme, seja curta ou longa metragem, tem uma possibilidade de maior dedicação, de maior tempo, de se colocar mais níveis de trabalho e aprofundamentos na construção visual. A série, embora não deixemos de lado essas questões artísticas, tem que ser mais industrial, pois o ritmo é mais puxado, e precisamos estabelecer padrões de trabalho mais definidos.

ANIMALAND: Quais os próximos projetos e o que você espera do mercado de animação cearense?

NEIL ARMSTRONG: Estamos realizando uma websérie em 3D, de ficção científica, e no início da realização de uma infantil série para a TV, em 2D, intitulada “Alba e os Fantasmas”. Acredito que o mercado de animação do Ceará está numa das melhores fases. Embora não estejamos na fase ideal, mas com várias produtoras já contempladas para fazer alguns longas e novas séries, vamos precisar cada vez mais de equipes e animadores. A ideia é que isso vá adiante com a qualidade dos projetos desenvolvidos.

ANIMALAND: Para quem quer trabalhar com animação, quais são suas principais referências e o que você pode dizer para esses corajosos?

NEIL ARMSTRONG: Uma das minhas maiores referências é mesmo a Pixar. Eu lia os artigos ainda científicos da empresa quando estava no mestrado, e também estava pesquisando na área na época. A forma de se desenvolver tanto o visual e o criativo, como ferramentas que lhe possibilitem ir mais longe é um caminho que tem muito a ver com a LUNART, a empresa que criei para isso. Mas tando a Disney, que fez sua revolução em sua época, como a animação japonesa, que produziram peças valiosas de estudo e referência.

Aos corajosos, é bom ter além de coragem, ímpeto para estudar, aprender, criar, e fazer, fazer, fazer, exercitar, buscar… Por que por mais que a gente saiba, sempre há mais a aprender, e se você ficar parado não conseguirá chegar a lugar algum. Há aqueles que se iludem e os que sonham. Os que sonham se mantem acordados lutando para a realização dos seus objetivos.

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Se você quiser acompanhar os trabalhos da Lunart ou do Neil Armstrong, acesse o site www.lunart.com.br. A gente agradece a Neil por compartilhar sua história conosco.