Big Hero 6 e Kubo e as Cordas Mágicas: animação foi feita para chorar
Eu conheço gente que diz: “eu não consigo gostar de desenho animado”! Eu entendo, sério! Muita gente pensa que desenho animado é só pra criança, que é feito para fazer rir ou que adultos que assistem aos desenhos sofrem da “síndrome de peter pan”. E não se encaixando nesses grupos, passa a não compreender o fenômeno de amar animações.
Hoje, trago alguns relatos pessoais de animações recentes que assisti e que foram feitas para chorar, e não apenas para rir. Como comediante que sou, tenho a crença de que “fazer rir é muito mais difícil do que fazer chorar”. Acho isso uma verdade, mas fazer chorar e rir ao mesmo tempo é missão das animações.
Eu estava conversando com minha equipe, na minha produtora, e quase na mesma semana fui desafiado por alguns deles a assistir aos longas “Big Hero 6” (2014) e “Kubo e as Cordas Mágicas” (2016) que eu, infelizmente, ainda não tinha visto. Assisti aos dois e, apesar de utilizarem técnicas diferentes de animação, as duas fizeram lágrimas surgirem nos olhos. Chorei! Foi por isso que pensei em escrever sobre esses filmes e sobre como animações podem fazer chorar, utilizando o sublime das emoções para atingir crianças e adultos.
A história de “Big Hero 6” inicia com um jovem, Hiro Hamada, um promissor engenheiro/cientista de 13 anos que já cria seus robôs mas que mora na casa da tia, não tem pai nem mãe. Seu ídolo e amigo verdadeiro é seu irmão, Tadashi que acaba de criar um robô enfermeiro incrível. Hiro vai sofrer outras baixas em sua família, vai ter que lidar com isso, superar raiva, medo, inveja e vingança, para ter uma compreensão maior do todo. (Veja matéria sobre a série Big Hero)
O que também acontece em “Kubo“, história de Marc Haimes dirigido por Travis Knight, onde logo no início a história não alivia os problemas externos que o personagem principal enfrenta desde a infância, onde tem que cuidar da sua mãe que tem problemas de memória. Kubo começa uma busca e ao mesmo tempo fuga para compreender o seu passado sem ter o auxílio de seus pais e sim de personagens mágicos que encontra no caminho. A magia do filme está em um instrumento musical que com suas cordas mágicas dá força para Kubo. Sem dar muito spoiler para quem não viu, esses dois exemplos trabalham focados na empatia de seus personagens principais, em seus dramas universais que são capazes de serem percebidos pelos mais novos e mais velhos espectadores.
Nos dois filmes, os personagens não tem os pais, ou perdem seus pais. Nos dois filmes, os personagens são muito novos para os desafios propostos pela trama, tem entra 10 e 13 anos. São crianças. Os dois protagonistas tem reações impensadas, imediatistas, pouco inteligentes. Pensam em se vingar, em odiar, talvez até em ser violentos, extremos.
Que adultos não são como Kubo ou Hiro? Quem de nós às vezes não reage como se tivéssemos 13 anos, mesmo aos 40, aos 60 anos de idade. Os dois protagonistas entendem que erraram, perdoam a si mesmo e até seus algozes e nos dão ensinamentos profundos. Quando paramos para entender que não somos eles, choramos, porque a história nos ensina a refletir sobre nós.
É claro que o roteiro não faz tudo isso sozinho. Tem o traço de cada artista, dos efeitos, de cada movimento, de cada iluminação, cor, música, voz dos atores implementadas em uma história feita para chorar. Um sequência de recursos narrativos para nos fazer pensar melhor e ver que se estivéssemos no lugar dos personagens não seriamos tão legais, tão sinceros… tão humanos. É a humanidade que nos emociona, mesmo quando emuladas por desenhos, traços e cores que só ganharam vidas porque, por mais estranho que isso pareça, foram humanos que fizeram. Aliás, se eu for pensar no quão árduo, gostoso, apaixonante e difícil é produzir uma animação, acho que eu choro também.