Dentro dos tipos de produção audiovisual, os curtas de animação são muito utilizados para a experimentação técnica de seus criadores. Além disso, a narrativa reflexiva é uma constante. Quando se assiste aos curtas-metragens, o espectador precisa ter a mente aberta para receber os mais diferentes tipos de propostas. O Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy mantém, em todas as edições, uma seleção variada, mas com uma característica em comum: filmes com uma alta capacidade de gerar reflexões.
Trago aqui outros destaques da mostra competitiva de curtas. O curta Empty Places, produção francesa dirigida por Geoffroy de Crécy, não mostra nenhum personagem vivo apenas locais vazios. Partindo dos planos mais fechados dos detalhes de produtos, máquinas abandonadas e escadas rolantes vazias, Empty Places apresenta o que parece ser um cenário de videogame sem os personagens.
A beleza cíclica dos movimentos dos lugares e as cores vivas nos dá uma sensação de alegria que se contrapõe com a persistência da não aparição de ninguém. Dá até uma vontade de fugir mesmo com tanto colorido. O olho humano busca sempre a vida na tela. Pode ser um animal, de preferência um humano ou até objetos humanizados. Sabe? Com dois olhos uma boca. No curta, nossos olhos não encontram nada disso e a nossa ausência faz pensar sobre se queremos permanecer na terra. Se respeitamos os lugares em que vivemos. Pela ausência do humano, o espectador pensa exatamente naquilo que não está lá. Uma excelente sacada muito bem desenvolvida.
A produção chinesa The Town, dirigida por Yifan Bao, mostra uma cidade onde uma dupla de irmãos tenta resistir a obsessão da população que tem reconhecimento social ao trocar seu rosto por uma máscara. Uma fábrica chamada de Hospital é a responsável por fazer máscaras que funcionam como moldes de uma cirurgia plástica facial. O objetivo disso é que todos tenham acensão social para uma civilidade enquanto quem opta por não fazer esse processo não é um “cidadão razoável”. Uma ótima metáfora com as nossas redes sociais, sem utilizar nenhuma imagem de celular.
O terceiro destaque que trago é a animação Kosmonaut, de Kaspar Jancis, da Estônia. O curta conta a história de um velho astronauta que não compreende mais a realidade. Para ele toda a casa é um foguete espacial. Sua filha tenta cuidar dele e seu marido só pensa em colocá-lo num asilo. Quando eles não estão em casa o astronauta acorda e remexe toda a casa. Kosmonaut tem um roteiro mais convencional e linear, mas nem por isso menos reflexivo. O conflito da filha e do genro em como lidar com um idoso, a falta de carinho que muitas vezes os novos tem com os velhos são ideias bem transmitidas. Puro, simples e extremamente pensativo.
O Festival Internacional de Cinema de Animação de Annecy continua até o dia 20 de junho. No dia 19 de junho, acontece a Cerimônia de Premiação. Sempre curta os curtas, neles estão e gênese da reflexão através do cinema.