Animais nos fazem pensar, às vezes mais do que personagens humanos. É o caso de Aggretsuko
Por definição, uma fábula é uma composição literária onde os personagens são animais que apresentam características humanas. Normalmente, a fábula tem um final moralizante sugerindo alguma reflexão quando o leitor, humano, se coloca no lugar dos bichos. Outras características como sua origem na cultura oral e a conexão com a sabedoria de povos e culturas também são importantes de serem lembradas.
Se na literatura a fábula já é algo enraizado, quando ela se encontra com a animação explode uma bomba de possibilidades. Afinal, animais em posição de humanos nos fazendo refletir, formam a maioria das animações que fazem sucesso, principalmente, com o público infantil. Recentemente, “Zootopia” ou “Sing” me vem a memória como fábulas modernas que nos fazem esquecer que aqueles “humanos” são na verdade bichos.
Fiz esse preâmbulo todo para falar de “Aggretsuko”. A série de animação do roteirista, diretor e animador japonês Rareko e produzido pela Fanworks. A personagem principal é Retsuko, uma panda vermelha que trabalha no setor de contabilidade de uma grande empresa japonesa. Insatisfeita profissionalmente, aos 25 anos, solteira e tendo que engolir os sapos (‘sapos aqui é uma figura de linguagem e não literalmente’) em seu trabalho nada motivante, Retsuko tem ataque de histeria, pelo menos em seu pensamento ou quando solta os bichos (‘bichos aqui também é uma figura de linguagem e não literalmente’) cantando death metal em um bar karaokê da cidade.
A série trata de assuntos sérios, com uma boa pitada de comédia ácida e um desenho simples e fofinho. O desenho foi pensado para o público adulto, não é um desenho infantil muito embora pareça, afinal é muito lindinha ela. Essa mistura tão inusitada gera uma das mais divertidas e, ao mesmo tempo, reflexiva experiência para o espectador.
“Aggretsuko” é uma fábula moderna. Todos os personagens são animais, em funções humanas, usando roupas de humanos, com problemas humanos. O uso da fábula é um recurso ótimo para criar reflexões. Afinal, a sabedoria tradicional milenar não poderia errar aí. Enquanto olhamos para os bichos, paramos de pensar no vizinho, paramos de reclamar da esposa, dos amigos, dos inimigos, e nos colocamos no lugar dos animais, ali tão humanizados.
Então, quando a fábula encontra a animação podemos aprender sim, podemos fazer desenhos para adultos sim, e, o melhor, podemos ser transformados. Menos parecidos com ‘bichos’ (estigmatizados na fala quando queremos dizer que uma pessoa está selvagem demais) e mais parecidos com os ‘animais’ das fábulas (assim tão humanos). “Aggretsuko” pode ser assistido no Netflix e a segunda temporada está prevista para ser lançada em 2019. Para ler a crítica do Rafael Ph Carmo no Cosmonerd, acesse o link, está bem legal!