Se estiver preparado para desafiar a gravidade, Wicked vai te levar a isso. Adaptando o encantador musical da Broadway, inspirado no livro homônimo de Gregory Maguire (1995), o filme revisita o mundo de Oz sob uma nova perspectiva: a história da “vilã” Elphaba, a bruxa “má” do Oeste, interpretada por Cynthia Erivo.
Desde o nascimento, Elphaba sofre preconceito por sua pele verde e seu talento natural para a magia, algo raro em Oz. Rejeitada por todos, ela enfrenta o isolamento até acompanhar sua irmã Nessarose (Marissa Bode) à Universidade de Shiz. Lá, Elphaba chama a atenção da professora de feitiçaria Madame Morrible (Michelle Yeoh), sendo aceita na escola, apesar da resistência de seu pai. Nesse ambiente, ela conhece Galinda/Glinda (Ariana Grande), uma jovem popular e ambiciosa, adorada por todos. O que começa como uma forte rivalidade se transforma em uma amizade sincera — até que os desígnios do destino tomam rumos trágicos. Afinal, quem conhece a história de O Mágico de Oz já sabe como tudo termina.
As músicas são, como esperado, maravilhosas. Ouvir cada canção e assistir às coreografias é um verdadeiro deleite, especialmente em uma telona, onde o visual vibrante e colorido ganha vida. A química entre Cynthia Erivo e Ariana Grande é um dos pontos altos, o que dá mais credibilidade à amizade entre Elphaba e Glinda. Há uma cena específica em um baile que emocionou a plateia inteira — eu inclusa.
Contudo, o espetáculo visual e musical acaba encobrindo algumas falhas narrativas. O roteiro parece apressado, como se quisesse apenas conduzir o público de uma música para outra até o grande clímax. Embora a música final, “Defying Gravity”, seja arrepiante e valha cada segundo, algumas inconsistências prejudicam a construção da trama. Por exemplo, em uma cena, uma professora rígida aparece durante um ato “proibido” dos alunos, mas reage com total indiferença. É um momento que não faz sentido e enfraquece a narrativa.
Outro problema de “Wicked” é o desenvolvimento apressado da amizade entre Elphaba e Glinda. Apesar das excelentes atuações de Cynthia e Ariana, que compensam a falta de aprofundamento, o roteiro dá pouco tempo para explorar a relação das duas. Elphaba é extremamente fiel a si mesma, mesmo querendo que as pessoas a aceitem, ela jamais aceitaria se corromper para que isso aconteça, ao contrário de Galinda, ou melhor, Glinda, cuja ambição e popularidade a fazem construir uma persona que é agradável para todo mundo e que precisa alcançar o que quer, afinal, sempre teve o que desejou na mão. Essa superficialidade é aceitável porque já conhecemos a história, mas é uma oportunidade perdida de criar maior impacto emocional.
O figurino também é excelente, principalmente para destacar os personagens principais do resto, fazendo um papel dentro da trama que é essencial. Por exemplo, o uniforme da universidade é azul, porém, Glinda só usa rosa, e Elphaba, preto (mistura ali com o azul, mas essencialmente é preto). Fiyero (Jonathan Bailey), outro personagem central, apesar de usar azul, possui um uniforme diferente do resto, assim como Boq (Ethan Slater) e Nessarose. Todos têm trajes que os diferenciam do resto, como em animes, onde o cabelo colorido denuncia os protagonistas.
Embora o longa toque em temas relevantes, como preconceito, eles são apenas pincelados, sem desenvolvimento real. Espero que a segunda parte aprofunde essas questões, indo além da superfície. Apesar disso, o filme equilibra momentos apressados com cenas mais contemplativas, sem prejudicar o ritmo geral.
No fim, “Wicked” é uma experiência deliciosa, com cenas emocionantes e visuais marcantes. Agora, é esperar pela Parte 2 (que chega em 26 de novembro de 2025) e torcer para que ela complemente e expanda o que foi apresentado.