O mundo já se rendeu as adaptações de quadrinhos para o cinema. Basta ver a quantidade de filmes lançados por ano e quantos deles habitam a lista das maiores bilheterias da história. Por outro lado, as adaptações de games não são vistas com bons olhos em Hollywood. E sabemos que não é por falta de exemplos. Mas agora parece que esse cenário pode começar a mudar. As grandes produtoras perceberam que é possível conseguir um lugar ao sol. Com o roteiro certo e com as pessoas certas envolvidas no projeto, pode ser que algo de bom seja criado. O primeiro fruto desse experimento é justamente Warcraft – O Primeiro Encontro de Dois Mundos.
A super criação da Blizzard possui uma das maiores bases de fãs do segmento. Não é a toa que Warcraft sai do mundo dos jogos e se estende por livros e HQ’s, tudo para ampliar ainda mais a vasta mitologia da franquia. Algo tão grandioso não poderia ficar nas mãos de qualquer um. E quando Duncan Jones – jogador e fã assumido – foi anunciado como diretor do filme era possível imaginar que ele faria um trabalho certeiro. Também contribuindo no roteiro, Jones entrega um longa, que apesar de algumas licenças poéticas, carrega a essência do material original. Se você acompanha os jogos desde o começo vai identificar cada pequeno detalhe em cena. E não serão poucas as vezes em que seus olhos estarão brilhando diante do que é apresentado. Adaptando o primeiro game da série, Warcarft sabe trabalhar o fan service. É como muitos dizem um filme de gamers para gamers.
Quando se trabalha com um jogo que permite que você escolha um lado na disputa – Horda ou Aliança – a questão do bem e do mal não pode ser simplória. Afinal cada um julga sua decisão como a correta. Claro que existem vilões e mocinhos, mas ambos presentes nas duas facções. Por isso o principal acerto do longa é dividir bem o tempo entre Orcs e Humanos. Nas figuras de Durotan (Toby Kebbell) e Lothar (Travis Fimmel) vamos conhecendo a dinâmica desse mundo. Outro ponto que impressiona é a questão dos efeitos especiais. Tanto a captura de movimentos quanto a construção de ambientes atuam como elementos determinantes na qualidade do longa. Com muito mais cores do que outras produções de fantasia, Warcraft é agradável aos olhos.
Mas é preciso enxergar além do já citado fan service e é nesse momento que algumas coisas passam a incomodar. Existe um claro problema na estrutura do longa. De um começo impressionante, a trama acaba optando por caminhos desnecessários, como um excesso de drama que não funciona na maioria das vezes. Isso vai tirando a agilidade da história. A primeira versão entregue por Duncan Jones tinha mais de 3 horas de duração, mas com alguns grandes cortes tudo foi resumido em pouco mais de 2 horas. Então não é difícil perceber algumas transições abruptas entre os núcleos, o que acaba gerando no espectador a sensação de que existem lacunas não preenchidas.
Algumas escolhas no elenco também deixam a desejar, principalmente nos vários momentos de drama. Quando não se tem muitos personagens cativantes fica difícil se envolver no clímax do filme, por mais empolgante que ele seja. O fã de Warcraft provavelmente não se incomodou com esses pontos, mas isso pode acabar gerando um certo desconforto no grande público. E é justamente esse montante que Hollywood pensa em alcançar, basta tomar como exemplo as adaptações de HQ’s, que é de consenso geral que não são voltadas para os leitores mais hardcore. Quando um estúdio visa um sucesso de bilheteria – e todos eles fazem isso – sempre acaba rolando um agrado para essa grande massa. Warcraft é corajoso em fugir dessa cartilha, mas não se pode negar que é um movimento arriscado. Principalmente quando fica clara a ideia de construir uma franquia cinematográfica.
Mas deixando a questão mercadológica de lado, é preciso reafirmar o quanto o filme sabe jogar com os sentimentos dos fãs. Ver um mundo tão vasto e amado quanto esse ganhando vida no cinema é um momento para se guardar na memória e no coração. Mesmo com alguns problemas, ainda sim é possível sair da sessão com um sorriso no rosto. Warcraft entra como favorito na disputa de melhor adaptação de games para o cinema. Se vai vencer ou não, aí já é outra história. Mas que ele sirva de exemplo para os outros projetos que estão por vir.
Obs: Diferente de outros filmes, vale a pena pagar o ingresso mais caro do 3D. E mantenha seus olhos bem abertos no logo da Blizzard, pois tem algumas referências marotas 😉